texas-moody

Rede latino-americana trabalha em protocolo de segurança para jornalistas e comunicadores em territórios indígenas

  • Por Isabela Ocampo
  • 13 março, 2024

Comunicadores, jornalistas e contadores de histórias que trabalham em territórios indígenas na América Latina comemoraram os dois últimos Dias Mundiais da Liberdade de Imprensa redigindo manifestos que chamam a atenção para as realidades que afetam seu direito à liberdade de expressão.

Eles trabalham em meio a conflitos armados e fazem reportagens sobre lutas pela terra, violações de direitos humanos, tráfico de drogas, pobreza, corrupção, desmatamento e outros problemas que frequentemente afetam essas áreas.

"As vidas dos comunicadores estão em risco porque vivemos e narramos a partir e com os territórios, portanto não somos estranhos às suas realidades e consequências", afirma o primeiro manifesto, publicado em 3 de maio de 2022 pela Rede Tejiendo Historias, uma comunidade de jornalismo intercultural liderada pelo meio de comunicação colombiano Agenda Propia.

Agora, o grupo de comunicadores e jornalistas indígenas e não indígenas por trás dessas mensagens para o mundo está agindo, criando um protocolo de segurança para ajudar a si mesmos e a seus colegas.

"Esperamos melhores condições de harmonia para fazer mais jornalismo respeitando as narrativas dos territórios, mais acesso à informação, mais reconhecimento do trabalho dos contadores de histórias locais, sejam eles indígenas ou não", disse Edilma Prada, jornalista e fundadora da Agenda Propia, à LatAm Journalism Review (LJR).

A group of journalists outside in jackets

Reunião de cocriação e planejamento da Agenda Propia no território ancestral de Misak (Silvia, departamento de Cauca, Colômbia) em 9 de fevereiro de 2022. (Foto: Agenda Propia/Divulgação)

Exigências de segurança e proteção

A Rede Tejiendo Historias é uma comunidade colaborativa de jornalismo intercultural composta por cerca de 400 comunicadores e jornalistas de 17 países latino-americanos.

A rede foi lançada na Colômbia em 2019 e se concentra em promover narrativas sobre os povos indígenas na América Latina e tornar suas realidades visíveis por meio do método de jornalismo colaborativo intercultural e da cocriação de histórias, de acordo com Prada.

Alguns de seus objetivos são facilitar os canais de comunicação, realizar treinamento jornalístico e promover espaços editoriais com comunidades e líderes de povos indígenas.

Os manifestos"#LaPalabraEnRiesgo: Voces del territorio por la vida", escrito em maio de 2022, e"#LaPalabraEnRiesgo: Comunicamos para sanar la memoria", escrito em maio de 2023, são declarações criadas por membros da rede. Elas explicam os desafios enfrentados pelos jornalistas na América Latina para contar histórias em comunidades indígenas.

"Desde os dois manifestos, entendemos que há uma falta de segurança e proteção física para os jornalistas que cobrem histórias de territórios indígenas", disse Prada.

De acordo com Cindy Amalec Laulate Castillo, comunicadora indígena do povo Tikuna-Magüta da Colômbia e membro da rede, a falta de liberdade de expressão e de garantias de segurança são dois dos pontos mais importantes do manifesto.

"Muitas vezes ninguém garante que estamos seguros como comunicadores. Não apenas como comunicadores indígenas, mas em nível nacional, ninguém vai nos garantir a liberdade de expressão em todos os sentidos", disse Laulate à LJR. "Se você começar a se manifestar, de uma forma ou de outra, você será alvo, será ameaçado".

Four people at desks

#FestivalEspiralDeHistorias de Agenda Propia e Rede Tejiendo Historias. (Foto: Agenda Propia/Divulgação)

De acordo com Prada, também há desafios para os jornalistas não indígenas ao entrarem em territórios indígenas, pois eles enfrentam muitas dificuldades de conflito armado e violência estrutural que limitam o acesso seguro aos territórios.

Diana Jembuel, comunicadora do povo indígena Misak e membro da rede, diz que os manifestos surgem da necessidade de tornar visíveis os diferentes casos de violência e insegurança nos territórios.

"Eles [os jornalistas] não aguentam mais o silêncio de tantos acontecimentos que estão vivenciando. Então, analisamos o que realmente queríamos divulgar", disse Jembuel à LJR. "Todos os projetos que fazemos são voltados para as realidades e necessidades que temos como comunicadores, e é por isso que surgiu esse processo de divulgação do manifesto".

Além disso, Jembuel considera que os manifestos escritos pela rede servem, acima de tudo, como contexto e apoio para a criação de um protocolo que realmente responda a cada uma das necessidades dos comunicadores em territórios indígenas.

De acordo com Prada, o objetivo dos manifestos é elevar e tornar visíveis as vozes e as realidades dos contadores de histórias indígenas na América Latina. Além disso, espera-se que os jornalistas e os meios de comunicação latino-americanos adotem e se identifiquem com as realidades apresentadas nos manifestos, a fim de contribuir para o crescimento das vozes indígenas.

Os manifestos também pretendem ser um alerta para os governos locais.

"É uma mensagem não apenas para nós, jornalistas, mas também para os governos, que não estão fazendo nada em relação à segurança", disse Prada.

Proteção da liberdade de expressão

Uma das características distintivas dos manifestos, que são a base do protocolo de segurança, é que eles consideram não apenas a segurança dos comunicadores e jornalistas, mas também a segurança das comunidades e do território sobre o qual eles fazem suas reportagens.

Prada garante que o protocolo levará em conta o território e os locais sagrados, bem como a segurança das fontes ao vivo. Isso se refere a líderes indígenas, avós, sábios e parteiras nos territórios, pois eles são a maioria das fontes em suas histórias.

A large group of people at a storytelling conference

#FestivalEspiralDeHistorias de Agenda Propia e Rede Tejiendo Historias. (Foto: Agenda Propia/Divulgação)

"Isso também faz parte da segurança, da proteção do território, portanto, esses são elementos que devem ser considerados", disse Prada.

Prada garante que esse protocolo será o primeiro do gênero porque, segundo ela, não existe um protocolo de segurança para jornalistas interculturais que reportam histórias indígenas.

"Analisamos protocolos de várias organizações de defesa, organizações de liberdade de imprensa, e nenhum deles responde a essa condição intercultural", disse ela.

Embora o processo de criação de um protocolo de segurança esteja apenas começando, Prada confirmou que já houve discussões com membros da rede sobre essa questão. Ela também disse que foram organizadas consultorias profissionais com a Academia Deutsche Welle, especialistas em mídia e defensores da liberdade de expressão.

Para Laulate, a criação do protocolo é mais um passo em direção à reivindicação dos direitos dos comunicadores indígenas e do direito à liberdade de expressão.

"É necessário tornar visível o que a comunidade realmente tem, a organização, o território, o núcleo como tal, para poder dizer: nós também estamos aqui como comunicadores indígenas e não indígenas, reivindicando os direitos dos povos indígenas", disse Laulate.

Traduzido por Carolina de Assis
Regras para republicação

Artigos Recentes