Por Alejandro Martínez
Um novo período de violência contra a liberdade de imprensa se iniciou na Guatemala, afirmou o relator especial para a liberdade de expressão das Nações Unidas Frank de La Rue em uma nota de opinião denunciando a recente onda de agressões contra jornalistas no país.
Em nota publicada no jornal guatemalteco Prensa Libre, La Rue criticou o governo do presidente Otto Pérez Molina por não combater a deliquência, proteger interesses privados, perseguir líderes sociais e falhar em proteger os jornalistas de assédios judiciais, ameaças, agressões físicas e assassinatos.
“Hoje a violência se voltou para a imprensa que mantém posições críticas contra quem exerce o poder, pela mesma natureza de sua função social de investigar e informar, mas em uma década não se observou o nível de agressão deste ano”, disse o relator, que descreveu a violência como uma “regressão da democracia e do processo de paz” no país.
La Rue também condenou os comentários do ministro da Justiça, Mauricio López Bonilla, que em 17 de agosto afirmou que não havia indícios de que os assassinatos deste ano tenham sido motivados pelo trabalho dos jornalistas e atribuiu sua causa a motivos pessoais.
“É lamentável que o ministro de Justiça se permita especular que se trate de crime comum, como se isto fosse aceitável. Mas pior ainda é demonstrar a falta de interesse em uma investigação séria”, disse.
No decorrer do ano, quatro jornalistas foram assassinados no interior da Guatemala, um foi gravemente ferido em um atentado e outro sofreu um ataque a tiros em sua casa. Recentemente o diretor do jornal elPeriódico, José Rubén Zamora, denunciou duas tentativas de invasão em sua casa por autoridades e uma abordagem do presidente para suborná-lo.
Em 20 de agosto, um dia depois do assassinato do jornalista Carlos Orellana, Pérez Molina anunciou que seu governo criará “uma equipe especial” para investigar os quatro assassinatos, segundo elPeriódico. Pouco antes disse estar estudando a criação de “uma instância que proteja o trabalho e a vida dos jornalistas”, noticiou El País.
Várias organizações internacionais como a UNESCO e a Sociedade Interamericana de Imprensa expressaram preocupação pelas recentes agressões. A Associação de Jornalistas da Guatemala também instou os meios de comunicação do país a criar “uma frente comum” contra a violência, de acordo com a agência EFE.
Nota do editor: Essa história foi publicada originalmente no blog de jornalismo nas Américas do Centro Knight, o predecessor do LatAm Journalism Review.