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Site salvadorenho El Faro contribui com The New York Times para publicar reportagem sobre gangues

O tradicional jornal norte-americano The New York Times colaborou com o premiado site de notícias investigativo salvadorenho El Faro para publicar uma reportagem sobre as gangues de El Salvador.

A reportagem veiculada no dia 21 de novembro, “A máfia de pobres que sangrou El Salvador”, foi o produto de um projeto piloto do Times como tentativa de expandir sua cobertura internacional colaborando com um veículo estrangeiro, de acordo com a Columbia Journalism Review (CJR).

Durante os sete meses de investigação, os jornalistas salvadorenhos fizeram trabalho de campo, entrevistas e o texto da reportagem em cooperação com e sob a supervisão da jornalista investigativa Deborah Sontag e do editor Paul Fishleder do Times, segundo a CJR.

A reportagem, publicada na primeira página da edição impressa do Times de segunda-feira e nos sites de ambos os veículos, desmistifica o caráter lucrativo e resolvedor das gangues que operam em El Salvador.

"As gangues não precisam se tornar estruturas criminosas sofisticadas para destruir o país. Cálculos baseados em números oficiais levam à conclusão que os milhões que essas organizações têm acumulado com sua atividade criminosa não são suficientes para alimentar todos os seus integrantes”, explica a introdução da reportagem.

Para esta investigação, o El Faro compilou testemunhos contundentes de fontes dentro das gangues, de suas elites, e de suas vítimas. Os repórteres também recorreram a documentos oficiais de difícil acesso no país.

Os jornalistas que participaram da apuração foram Efren Lemus e os irmãos Óscar e Carlos Martínez, da unidade de investigação Sala Negra do El Faro.

A equipe da Sala Negra começou com seis membros em 2011. Eles costumam usar crônicas para contar suas histórias, cujos principais temas são a violência e as gangues em El Salvador e na América Central.

De acordo com a CJR, custou um pouco até os repórteres da Sala Negra se adaptarem à estrutura de pirâmide invertida do Times. Acostumados às crônicas, gênero de jornalismo de formato longo que pega emprestado da tradição literária latino-americana, os jornalistas tiveram que abreviar a narração de certas cenas e encontrar formas mais diretas de dar contexto e antecedentes para a história, segundo a CJR.

"Até agora nosso modelo tem sido confiar no instinto de cada jornalista sobre o modo (gênero) que decidem contar suas histórias", disse o diretor do El Faro, José Luis Sanz, à CJR.

O El Faro e seus integrantes receberam vários prêmios este ano reconhecendo seu trabalho jornalístico.

Os repórteres do El Faro receberam o Prêmio Gabriel García Márquez de Excelência em setembro de 2016, a primeira vez em que uma equipe inteira de jornalistas ganha o prêmio.

Óscar Martínez, co-fundador da Sala Negra, recebeu o Prêmio Internacional de Liberdade de Imprensa do Comitê para a Proteção dos Jornalistas (CPJ) no dia 22 de novembro em Nova York, como reconhecimento pela coragem e pelo profissionalismo de seu trabalho.

No discurso de aceitação do prêmio, Martínez mencionou uma testemunha chamada Consuelo, fundamental em uma investigação sobre um massacre da polícia que contradisse as versões oficiais.

"A cobertura desses temas é um exercício doloroso. Frustrante. E continuará sendo assim. Nos colocará em risco e nossas famílias em casa sofrerão com esse fardo", disse Martínez. "Mas nós não devemos este trabalho a nós mesmos, neste salão. Devemos a gente como Consuelo. Este trabalho enlouquecedor nos oferece a possibilidade de que a verdade de uma camponesa pobre possa se impor à verdade de um governo mentiroso."

Além disso, por sua destacada cobertura jornalística das Américas, Martínez também ganhou o Prêmio Maria Moors Cabot, um dos mais importantes reconhecimentos no mundo para o jornalismo internacional.

Nota do editor: Essa história foi publicada originalmente no blog de jornalismo nas Américas do Centro Knight, o predecessor do LatAm Journalism Review.

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