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The 19th: Como ficar longe das 'notícias commodity' e criar uma cultura de redação que seja um 'padrão de ouro'

As jornalistas Emily Ramshaw e Amanda Zamora, fundadoras do The 19th, uma redação sem fins lucrativos que cobre gênero, política e políticas públicas, quer ficar longe das "notícias commodity" e construir uma cultura de redação que seja o padrão de ouro da indústria em termos de diversidade e equidade, elas disseram, durante uma sessão do Simpósio Internacional de Jornalismo Online (ISOJ), em 22 de julho. 

Durante a palestra "Gênero, raça e política: como The 19th vai buscar a equidade dentro e fora da redação", Zamora e Ramshaw falaram sobre como o veículo, que será lançado no verão de 2020, vai fazer reportagens de campo em diferentes partes do país, como Nova York, Washington DC, Orlando e Des Moines. O objetivo é abordar as disparidades e discrepâncias que as mulheres enfrentam e como elas são afetadas desproporcionalmente por certos problemas, como a economia, o sistema de saúde e as políticas de governo.

Emily Ramshaw

Emily Ramshaw, fundadora e CEO, The 19th

"Não estamos no negócio de criar notícias commodity no The 19th [...] O que é fundamental [para nós] é o que está motivando as mulheres a votar, como elas estão se engajando ou não no processo democrático", disse Zamora.

O veículo foi nomeado em referência à 19ª Emenda que concede às mulheres o direito de voto nos Estados Unidos. Ramshaw explicou que incluiu um asterisco na logo, porque elas estavam conscientes de que a emenda apenas beneficiava as brancas e excluiu mulheres negras desse direito por décadas. Ramshaw disse que o conceito do asterisco é abordar essas desigualdades. Assim, ao pensar nas pautas, elas sempre se questionam: "Qual é o asterisco nesta história?"

"Não é uma reportagem só por ter mulheres envolvidas, ou por apresentar uma mulher ou porque uma mulher é citada. Nós sempre pensamos no asterisco. Qual é a discrepância, quais são as disparidades? Nosso ponto de entrada para uma história é o asterisco do The 19th, que é essa lente de gênero", afirmou Ramshaw.

Zamora destacou que o tipo de jornalismo que elas decidiram fazer teve um impacto na escolha de ser sem fins lucrativos. Esse modelo permitiria que investissem em um jornalismo substancial, evitassem "notícia commodity" e fossem intencionais sobre suas estratégias de desenvolvimento de público.

O mediador da sessão, Matt Thompson, editor-chefe do Reveal do Center for Investigative Reporting, perguntou para as jornalistas o que seria sucesso para elas nos próximos anos.

Zamora respondeu que quer que o The 19th seja "um nome conhecido" e tenha uma massa crítica em termos de audiência, com um bom programa de membros e leitores acessando o site diariamente.

Ramshaw disse que deseja que a cultura da redação seja um "padrão de ouro para a indústria" em relação a equidade e diversidade. Internamente, elas implementaram políticas de licença remunerada, como uma licença familiar de 6 meses para qualquer pessoa da equipe e uma licença de cuidador de 4 meses.

Amanda Zamora

Amanda Zamora, The 19th

"Então, se você precisar passar os últimos quatro meses da vida da sua mãe ou do seu pai com eles, ou se estiver enfrentando uma doença, como a Covid, terá flexibilidade para fazê-lo sem sair do caminho [profissional]", disse ela.

Ramshaw espera que o setor perceba e siga esse modelo, para evitar que as mulheres, especialmente as negras, saiam da "escada rumo à liderança nas redações" muito cedo. Ela mencionou que o The 19th deve ser um ambiente em que as mulheres sintam que podem "ter tudo", em termos de família e carreira.

"Em nossas conversas no Slack, as pessoas se sentem à vontade para falar sobre seus esforços para engravidar e o que estão enfrentando, sobre a divisão do trabalho com o parceiro em suas casas, e estamos super à vontade para dizer: 'Sabe de uma coisa? O meu dia, agora, por causa da Covid e da creche, tem que terminar às 16h30 para que eu possa pegar minha filha, mas posso estar de volta online às 20h para enviar mensagens", disse ela. "O que as mulheres de nossa equipe estão dizendo é que elas nunca seriam capazes de falar isso livremente em suas últimas redações.”

Ramshaw enfatizou que elas querem que não apenas a sua redação seja cheia de empatia e compreensão, mas também a cobertura relacionada às mulheres. "A empatia na cobertura é extremamente importante para nós, queremos realmente entender não apenas como as mulheres votam, mas por que as mulheres votam", disse ela.

As fundadoras também descreveram como é desafiador e "surreal" lançar um novo meio de comunicação durante uma pandemia e montar uma nova equipe totalmente online. Além disso, elas discutiram como "sentiram uma libertação" em poder dizer publicamente que o The 19th defende os direitos humanos, a igualdade de gênero e a justiça racial. "Nosso jornalismo será baseado em evidências, baseado em fatos, justo em todas as circunstâncias, mas há barreiras de proteção para nos guiar", disse Ramshaw.

Ela também defendeu traçar uma linha entre jornalismo e ativismo, acrescentando que ela é "uma espécie de purista" nesse sentido. Portanto, o The 19th tentará evitar a "aparência de conflito de interesses", ao mesmo tempo em que vai garantir aos seus repórteres a possibilidade de exercerem seus direitos cívicos e de se envolverem em suas comunidades.

Assista à sessão de palestras completa no canal do ISOJ no YouTube e leia mais sobre o ISOJ em nosso site.

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