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Trabalhadoras da imprensa na América Latina enfrentam altos níveis de violência de gênero online e no local de trabalho: FIJ

A jornalista peruana Paola Ugaz foi alvo de ameaças de morte onlineprocessos judiciais depois de investigar o Sodalitium Christianae Vitae, um grupo religioso ligado à Igreja Católica do Peru.

Em comparação com seu colega Pedro Salinas, com quem publicou o livro investigativo “Mitad monjes, mitad soldados”, ela apontou diferenças no tratamento que recebeu por ser mulher.

“Ser mulher é uma diferença, meu colega Pedro [Salinas] é muito consciente, já conversamos muito sobre isso. Mexeram com meu corpo, meu corpo é um lugar de entretenimento, nas redes sociais disseram que meus órgãos não valem dez mil soles", disse Ugaz à LatAm Journalism Review (LJR). “As jornalistas peruanas são sempre apresentadas como servas, como se não tivéssemos agência. Questionaram minha inteligência e talento jornalístico, questionaram meu lugar na sociedade. Interferiram na minha vida privada, falaram da minha família”.

Ugaz não é a única.

Mais de um terço (38%) das trabalhadoras da imprensa entrevistadas recentemente na América Latina e no Caribe disseram ter sido atacadas online ou nas redes sociais e que os ataques estavam ligados ao seu gênero e ao seu trabalho jornalístico, de acordo com um relatório da Federação Internacional de Jornalistas (FIJ).

O relatório também mostra que mais da metade (59%) das jornalistas pesquisadas na região disseram ter sofrido violência de gênero por parte de seus chefes e/ou colegas homens.

Ao mesmo tempo, a maioria disse não ter ferramentas para lidar com esse tipo de violência.

Women at computer holding out hand in front of her to say stop

“As jornalistas e trabalhadoras da imprensa são afetadas pela violência de gênero em duas dimensões”, diz o relatório, baseado em uma pesquisa com mais de 300 trabalhadoras da imprensa em 15 países da América Latina e do Caribe.

A primeira é que elas são mulheres trabalhadoras em sociedades predominantemente patriarcais. A segunda é que elas trabalham como comunicadoras sujeitas à opinião pública e a ataques à liberdade de expressão.

Essa violência de gênero sofrida pelas trabalhadoras da imprensa na região, somada à precariedade do trabalho a que estão expostas, afeta seu cotidiano e sua qualidade de vida, disse Paula Cejas, diretora do Escritório Regional da FIJ para a América Latina e o Caribe, à LJR.

“Há colegas que sofreram muito estresse, que tiveram que deixar sua vida profissional para fazer uma pausa. Eles não podiam continuar a sustentar sua vida profissional quando não comiam ou dormiam, devido à quantidade de agressões que recebiam e à instabilidade de seu trabalho", disse Cejas. Ela acrescentou que uma das consequências da violência de gênero é que as jornalistas “acabam se censurando ou usando uma linguagem muito branda”.

Cejas explicou que o tipo de cobertura que as jornalistas fazem é um dos motivos que as torna alvo de agressão: “Aquelas que cobrem entretenimento não são atacadas da mesma forma que aquelas que cobrem política, economia ou segurança”.

Analisando os dados da pesquisa por faixa etária, ela acrescentou que as jornalistas com mais de 61 anos de idade disseram que tinham maior probabilidade de sofrer violência de gênero por parte de colegas ou chefes homens.

“Esses são números que normalmente não vemos”, disse ela.

Insegurança no trabalho

Na América Latina e no Caribe, as mulheres jornalistas não são apenas atacadas e assediadas por motivos de gênero no exercício de sua profissão (dentro das redações onde trabalham ou em público), mas também têm altos índices de insegurança no emprego e aceitam trabalho extra com mais frequência, de acordo com o relatório da FIJ.

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Paula Cejas, diretora do Escritório Regional da FIJ para a América Latina e o Caribe. (Arquivo pessoal)

Quatro em cada dez trabalhadoras da imprensa pesquisadas trabalham em mais de um meio de comunicação ao mesmo tempo, e seis em cada dez aceitam trabalhos fora de sua profissão para complementar sua renda, segundo o relatório.

De acordo com Cejas, a pesquisa da FIJ constatou que Colômbia e México são os países onde a maioria das jornalistas pesquisadas disse ter um ou dois empregos jornalísticos, além de outro emprego fora da mídia.

Cejas disse que as jornalistas da América Central, em particular, estão procurando trabalho freelance.

“Na América Central, há muito pouco trabalho registrado para jornalistas mulheres, que em muitos casos optam por trabalhar como freelancer para equilibrar o trabalho com o cuidado de suas famílias, o que lhes permite mais flexibilidade”, disse ela. “Também porque se entende que não há condições de trabalho garantidas entre o trabalho registrado e o trabalho autônomo.”

Nesses casos, Cejas disse que as mulheres jornalistas são ainda mais vulneráveis, pois não têm “nenhum espaço a que recorrer” e nenhuma mídia para protegê-las da violência de gênero que podem sofrer.

Sugestões para avançar

O relatório da FIJ enfatiza a necessidade de reconhecer a violência de gênero contra as trabalhadoras da imprensa como um problema que afeta a pluralidade de vozes expressas nos meios de comunicação e a democracia.

Por esse motivo, recomenda-se que os meios de comunicação e as associações profissionais ofereçam espaços de trabalho seguros para as trabalhadoras da imprensa. Além de aplicar protocolos de ação e garantir sua correta implementação em situações de ataques online contra mulheres jornalistas.

No caso das trabalhadoras da imprensa, a FIJ constatou que 37% das pesquisadas disseram não ser filiadas a nenhum sindicato. Para a organização, a participação nesses espaços é importante porque elas podem recorrer a eles quando enfrentam um problema.

“Você tem um lugar ao qual pode recorrer e onde há alguém que pode defender você, uma voz coletiva que te representa”, explicou Cejas sobre os sindicatos.

A FIJ tem um guia para sindicatos e meios de comunicação para combater o assédio online de mulheres jornalistas, disponível aqui.

Traduzido por Carolina de Assis
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