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TV Univisión e jornalistas latino-americanos colaboram para checar dados durante último debate presidencial dos Estados Unidos

Para Borja Echevarría, vice-presidente e editor-chefe da Univisión digital, o caminho a seguir para essa empresa tradicional de meios de comunicação implica colaboração e diversidade.

“Nossa visão do espaço digital é uma forma de trabalho muito colaborativa", explicou Echevarría ao Centro Knight. Essa colaboração compreende construir uma equipe com diversidade e aprender com outros meios e acadêmicos.

Essa é a ideia por trás do recente projeto do canal de notícias em espanhol com jornalistas latino-americanos. Cerca de 11 fact-checkers de oito países da América Latina, bem como da Espanha e Estados Unidos, vão se unir à equipe de checagem de dados da Univisión em Miami para monitorar o terceiro e último debate presidencial dos Estados Unidos, em 19 de outubro.

Os fact-checkers são procedentes de grandes grupos de comunicação – La Nación da Argentina ou The New York Times em Espanhol – mas também de veículos digitais pequenos como Lupa no Brasil ou Ojo Público no Peru.

“O que queríamos fazer é tirar proveito de um evento muito importante que está ocorrendo aqui nos EUA, que é importante para nós e também para a região”, disse José Zamora, vice-presidente de comunicações estratégicas da rede Univisión. Explicou que esse processo de colaboração permitirá aos jornalistas compartilhar as melhores práticas e “construir uma rede por meio da qual possamos apoiar uns aos outros”.

A colaboração é uma oportunidade para compartilhar conhecimentos sobre o projeto da Univisión lançado recentemente, Detetor de Mentiras, e as experiências de outros jornalistas em fact-checking, afirmou Echevarría.

Univisión Data começou o Detetor de Mentiras em fevereiro de 2016 para monitorar as eleições presidenciais dos EUA. A equipe busca declarações dos candidatos, de líderes de partidos políticos, de líderes de opinião, de analistas e de outras organizações, segundo o site do projeto. Os cidadãos também são convidados a enviar informações para a equipe da Univisión checar. Depois das suas investigações, os jornalistas classificam as declarações da seguinte forma: verdade, quase verdade, mais ou menos verdade, quase mentira, mentira.

Além disso, a Univisión usa um robô (bot) de checagem de dados que funciona dentro do Facebook Messenger. O bot apresenta aos usuários declarações feitas durante a campanha e pede para que eles decidam se são ou não corretas.

Para o projeto de checagem de dados durante o próximo debate presidencial, Echevarría explicou que o enfoque de colaboração de duas vias consiste em aprender com outros meios de comunicação, mas também trocar habilidades, como a experiência da Univisión com vídeo e jornalismo visual.

O trabalho em rede e a colaboração não é parte da cultura de muitas empresas tradicionais, explicou, mas “queremos trazer esse tipo de cultura [de colaboração] para Univisión”.

“Acredito que o jornalismo na América Latina é incrível”, disse Echevarría. “Acho que o melhor jornalismo que se está fazendo no idioma espanhol está sendo feito pelos veículos pequenos na América Latina".

Univisión também trabalhou recentemente com meios de comunicação da América Latina como El Faro, de El Salvador, ou Periodismo del Barrio, em Cuba, para levar informação aos Estados Unidos e mostrar a esse público o que está ocorrendo na América Latina.

Olhando para o futuro, disse Echevarría, Univisión não quer só fazer parte da paisagem dos meios de comunicação dos EUA, mas também dos veículos que se dirigem à América Latina: "Nós tentamos estar nos dois espaços".

Mael Vallejo, editor geral do site de notícias mexicano Animal Político, é um dos jornalistas que colaboram com a equipe da Univisión esta semana. O projeto de checagem de dados do site, El Sabueso, tem verificado o debate público no México desde janeiro de 2015.

Vallejo explicou que os políticos no México usam mentiras e meias verdades com frequência em seus discursos, devido à falta de acompanhamento. Acrescentou que a checagem de dados no México não é feita por muitos meios de comunicação.

“A situação dos EUA, nesse momento, é muito similar a do México: um candidato a presidente que usa os dados para a sua conveniência e pensa que ninguém vai se dar conta disso. Com essa semelhança, o uso que Animal Político a faz dos dados é relevante”, disse Vallejo.

O tamanho pequeno da equipe de checagem de dados no El Sabueso e a falta de recursos técnicos também colocam desafios para a verificação em tempo real. Apesar disso, a equipe colabora com acadêmicos, especialistas e outros cidadãos para analisar os discursos do presidente Enrique Peña Nieto.

Fabio Posada, editor do novo projeto de checagem de dados Colombiacheck, também se unirá à equipe.

Colombiacheck começou em junho de 2016 e desde então tem se dedicado a verificar informações sobre o processo de paz e as negociações entre o governo e as FARC. Apesar de terem assinado um acordo de paz entre as duas partes em 26 de setembro, os colombianos rejeitaram o pacto nas urnas por meio de um plebiscito em 2 de outubro, por diferença de 1%.

“Boa parte dessa votação foi alcançada com uma campanha cheia de mentiras”, explicou Posada. “No último mês Colombiacheck conseguiu desmentir 27 afirmações contra ou a favor do acordo que eram imprecisas. Então penso em compartilhar essa experiência com os meus colegas na reunião da Univisión”.

Sobre o próximo debate entre Donald Trump e Hillary Clinton em Las Vegas, Nevada, Posada disse esperar que os candidatos se refiram a duas questões relacionadas com o seu país: os processos de paz que estão em negociação na Colômbia, e a ajuda militar proporcionada pelos Estados Unidos ao país há mais de uma década.

“Espero que no último debate Clinton e Trump falem sobre alguns desses temas, que são muito importantes do ponto de vista de um jornalista colombiano”, afirmou.

Além dos mencionados anteriormente, fact-checkers de Semanario Universidad, da Costa Rica; La Sexta, da Espanha; UYCheck, do Uruguai; e Plaza Pública, da Guatemala, também vão participar da reunião.

Nota do editor: Essa história foi publicada originalmente no blog de jornalismo nas Américas do Centro Knight, o predecessor do LatAm Journalism Review.

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