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Veículos não tradicionais da América Latina e Espanha são ganhadores no Festival Gabriel García Márquez

Sites de notícias da América Latina e Espanha foram reconhecidos como ganhadores das quatro categorias do Prêmio Gabriel García Márquez de Jornalismo em 29 de setembro durante o festival de mesmo nome, realizado em Medellín, Colômbia.

O Prêmio GGM tem por objetivo “reconhecer e incentivar a busca da excelência, a inovação e a coerência ética por parte dos jornalistas e meios que trabalham em espanhol e português”, segundo a página do Prêmio.

A Fundação Gabriel García Márquez para o Novo Jornalismo Ibero-americano (FNPI) criou os primeiros prêmios e o festival em 2013. O evento reúne jornalistas, executivos e pesquisadores da região para discutir temas importantes sobre o jornalismo e honrar o legado do escritor e jornalista colombiano Gabriel García Márquez.

A jornalista brasileira Natalia Viana, co-diretora do site de jornalismo investigativo Agência Pública, ganhou o prêmio do festival na categoria texto pela sua reportagem sobre as altas taxas de suicídio em uma cidade com a maior população indígena no Brasil. Como ressaltaram os organizadores do prêmio, ‘São Gabriel e seus demônios’ é uma reportagem longa e com a narrativa complementada por materiais multimídia para contar a história dessa região no Amazonas.

Caio Cavechini, Carlos Juliano Barros, Ana Aranha, Caue Angeli, Marcelo Min e Leonardo Sakamoto, do site de notícias Repórter Brasil, focado em direitos dos trabalhadores e meio ambiente, ganharam o prêmio na categoria imagem. O documentário ‘Jaci: sete pecados de uma obra amazônica’ cobriu a construção de uma hidrelétrica no Amazonas durante quatro anos, acompanhando milhares de trabalhadores e moradores da região.

A jornalista colombiana Juanita León, fundadora e diretora do site de notícias La Silla Vacía, ganhou na categoria cobertura pela sua série de nove partes sobre as negociações entre o governo colombiano e a guerrilha das FARC. De acordo com o prêmio, León explica a lógica por trás de ambos os lados das negociações e “como [os] diferentes setores – desde os militares até a Igreja – começam a se preparar para enfrentar o seu passado no conflito armado diante da Comissão da Verdade e o Tribunal de Paz”.

Eva Belmonte, Miguel Ángel Gavilanes, David Cabo, Raúl Díaz Poblete e Antonio Villarreal da Fundação Civio, uma organização espanhola sem fins lucrativos focada em dados abertos e transparência, ganharam na categoria inovação. Para produzir o seu estudo global ‘Medicamentalia’, a equipe passou quatro meses investigando as disparidades na disponibilidade de medicamentos essenciais em 61 países do mundo, com ênfase especial no valor pago pelos consumidores nos países em desenvolvimento, segundo os organizadores do prêmio.

Esses trabalhos jornalísticos foram eleitos entre 1.608 candidatos e passaram por três fases de avaliação.

Quarenta projetos fizeram parte da seleção oficial. Esse número foi posteriormente reduzido a 12 para determinar o grupo de finalistas.

Além dos quatro prêmios nas categorias texto, imagem, cobertura e inovação, também foram entregues dois reconhecimentos especiais.

O editor colombiano Jorge Cardona Alzate do jornal El Espectador recebeu o Prêmio Clemente Manuel Zabala, que presta homenagem a um editor colombiano exemplar.

Cardona aceitou o prêmio três dias depois do governo da Colômbia e as FARC assinarem o acordo final de um conflito que durou mais de 50 anos. O acordo, no entanto, não foi aprovado pela votação do plebiscito em 2 de outubro.

Em seu discurso, Cardona lembrou a violência desses anos, assim como os amigos e colegas que foram, por vezes, os alvos dessas ações. Destacou que as gerações futuras devem entender o que se passou nesse período.

“Por isso, agora que se assina a paz, entre muitas tarefas, será essencial construir referências narrativas e informativas bem editadas sobre essas horas de ansiedade”, afirmou. “Devemos, às gerações que se debruçam sobre o tema ou o descobre em sala de aula, uma responsabilidade maior: garantir que os netos de hoje não tenham que contar aos seus filhos histórias de horror."

A equipe do site de noticias de El Salvador El Faro, o mais antigo do tipo na América Latina, recebeu o Reconhecimento da Excelência.

O seu papel, como ressaltou a Fundação Gabriel García Márquez e como admite a própria equipe do jornal, tem sido ser incômodo: para os poderosos, corruptos, criminosos e, em algumas ocasiões, para os seus próprios leitores, explicaram. O seu papel tem sido dizer a verdade.

No seu discurso de aceitação de 29 de setembro, os jornalistas disseram que compartilhavam o prêmio “com todos os que nesses 18 anos contribuíram para a construção do El Faro”.

“Construímos o El Faro com a autocrítica constante”, disseram. “Entre todos. Porque este trabalho não seria possível de fazer sozinho. Não como nós o entendemos. El Faro não é um jornal digital, é um projeto de jornalismo coletivo, que se nutre dos seus membros e que se retroalimenta. O argumento e o debate jornalístico na sala de redação nos faz crescer e nos protege do comodismo e do resto das tentações".

Nota do editor: Essa história foi publicada originalmente no blog de jornalismo nas Américas do Centro Knight, o predecessor do LatAm Journalism Review.

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