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Políticos e narcotraficantes estariam envolvidos no assassinato da jornalista mexicana Miroslava Breach

Durante o recente julgamento do suposto autor intelectual do assassinato de Miroslava Breach Velducea, foi apresentado um áudio que supostamente vincula dois membros do Partido Ação Nacional (PAN) ao assassinato da correspondente de La Jornada, em 23 de março de 2017.

De acordo com Proceso, a gravação de uma conversa ocorrida em 2016 entre Breach e Alfredo Piñera, porta-voz do PAN, supostamente confirmaria o que a jornalista denunciou em vários dos seus artigos: o conluio entre narcotraficantes e políticos no Estado mexicano de Chihuahua, os mesmos que estariam envolvidos no assassinato de Breach Velducea.

No áudio, cuja transcrição foi publicada por vários jornais como Proceso e La Jornada, Piñera pede que Breach lhe diga quem deu a informação que a jornalista publicou sobre o candidato que o Partido Revolucionário Institucional (PRI) apresentaria à Prefeitura de Chínipas, Chihuahua .

Breach, em seu artigo "Crime organizado impõe candidatos a vereadores em Chihuahua", publicado em 4 de março de 2016, informou que vários candidatos a prefeito naquela região faziam parte de grupos criminosos. Sobre o candidato que iria se apresentar pelo PRI em Chínipas, Breach informou que se tratava de Juan Miguel Salazar, sobrinho de Adán Salazar, líder do grupo criminoso Los Salazares, associado ao Cartel de Sinaloa, publicou La Jornada.

De acordo com Proceso, a publicação deste artigo forçou o PRI a mudar seu pré-candidato nas regiões de Chínipas e Bachíniva, também em Chihuahua.

Desde então teriam começado as ameaças e as pressões contra a jornalista por parte de funcionários do PAN.

Conforme reportado por La Silla Rota, Piñera queria saber quem passou a Breach a informação sobre o pré-candidato do PRI, porque Los Salazares estavam responsabilizando os panistas ​​por isso.

Nessa conversa, Breach disse a Piñera que não revelaria suas fontes, e que ele poderia dizer aos que o pressionavam que ela chegou a essas conclusões porque ela era nativa de Chínipas e por causa de suas reportagens e investigações na localidade.

"Miroslava Breach conhece Chínipas e cada pedra lá, e sabe quem é o personagem", disse Breach na conversa. "Então você nunca se aproximou do pessoal ou do prefeito?", Piñera perguntou a Miroslava, buscando que ela confirmasse que nunca falou com o panista Hugo Amed Schultz, então prefeito de Chínipas, sobre quem era o pré-candidato do PRI.

Ao que Breach respondeu: "Então, diga isso a eles. Disseram aos meus tios [de Chínipas] que vão foder com eles [matar], pois bem, mas se vão foder com alguém que seja a repórter. Tenho primos, que saibam que fui eu, que ninguém mais disse nada, simples assim."

Breach havia apontado em notas anteriores publicadas no jornal El Norte de Juárez, para o qual também colaborava, que Schultz protegia o grupo Los Salazares, de acordo com Proceso.

La Silla Rota informou que Hugo Amed Schultz entregou esta gravação desta conversa entre Piñera e Breach para Los Salazares, a fim de demarcar responsabilidades.

O áudio foi encontrado no computador de outro suspeito do assassinato de Breach, Jasiel Vega Villa, que supostamente havia escondido e transportado durante vários dias os assassinos materiais de Breach, de acordo com La Jornada.

"Sabemos que existe um vínculo entre o poder político e o crime, que foi exposto por Miroslava, e foi isso que fez com que ela fosse assassinada. Por isso esperamos que se encontrem aqueles que fazem parte deste grupo e sejam levados a responder por este crime", disseram os cinco irmãos de Breach ao Proceso.

O áudio foi apresentado pelo Ministério Público durante o julgamento oral contra Juan Carlos Moreno Ochoa, também conhecido como El Larry, que foi detido em 25 de dezembro e foi acusado de homicídio doloso pelo assassinato de Breach, cometido em 23 de março de 2017. Moreno Ochoa pode ser condenado a até 70 anos de prisão, publicou La Jornada.

O Ministério Público estabeleceu que Moreno Ochoa supervisionou o executor de Breach, Ramón Andrés Zavala Corral, de acordo com La Jornada. Ele foi morto, supostamente pelo grupo criminoso Los Salazares, em Sonora, perto de Chínipas, em 19 de dezembro, informou Proceso.

A jornalista Marcela Turati informou no site do Proceso que vários artigos jornalísticos publicados no dia da captura do autor intelectual presumido do assassinato de Breach indicaram que Moreno Ochoa trabalhava para Los Salazares e controlava os municípios fronteiriços de Sonora e Chihuahua.

O que esses meios também relataram, disse Turati, é que Moreno Ochoa teria assassinado Breach como um presente de aniversário para Adam Salazar Zamorano, cujo aniversário é supostamente em 23 de março. "Don Adán", como ele é conhecido, está preso desde 2011. Ele é o patriarca do clã Los Salazares e foi operador de Joaquín "El Chapo" Guzmán, então líder do Cartel de Sinaloa. Para Turati, isso daria crédito à teoria do assassino solitário que atuou por conta própria que os panistas querem divulgar.

De acordo com Proceso, o atual governador panista de Chihuahua, Javier Corral, teria dito em 25 de dezembro de 2017 que Moreno Ochoa é o autor intelectual do assassinato de Breach, o "orquestrador" do crime.

Nota do editor: Essa história foi publicada originalmente no blog de jornalismo nas Américas do Centro Knight, o predecessor do LatAm Journalism Review.