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Governo argentino anuncia que vai sair do consórcio estatal dono da emissora venezuelana Telesur

Telesur   canal de notícias a cabo que integra vários países latino-americanos e que opera a partir da capital venezuelana desde 2005  deixará de ser transmitido pública e gratuitamente na Argentina, já que o governo do país iniciou os trâmites de desvinculação da empresa.

O anúncio da Argentina foi feito pelo ministro de Meios e Conteúdos Públicos, Hernán Lombardi, e pelo secretário de Comunicação Pública, Jorge Grecco.

Apesar do fato de que a participação da Argentina na Telesur ser de 16%, Lombardi disse ao dário La Nación que o país não tem controle sobre os conteúdos do canal nem sobre sua administração.

“Esta determinação está de acordo com o que propusemos para os veículos públicos em termos de pluralismo e austeridade”, disse o ministro ao jornal argentino.

A presidente da Telesur, Patricia Villegas, manifestou no portal do canal que nunca houve um comunicado institucional formal do governo argentino sobre a decisão da saída. Villegas disse a surpreendeu que o anúncio foi feito no domingo de Páscoa por meio de um veículo de comunicação conservador como o jornal La Nación.

No entanto, segundo o La Nación, funcionários argentinos conversaram por telefone com Villegas para lhe informar sobre a decisão tomada

“Os contribuintes argentinos não têm porque pagar algo que se transformou em um discurso unilateral. O presidente [da Argentina, Mauricio] Macri, nos colocou como exigência garantir o pluralismo e que os meios sejam estatais e não governamentais. É isso que estamos fazendo”, disse Lombardi, segundo o jornal espanhol El País.

Ainda de acordo com o El PaísTelesur disse não ser “porta-voz de governos”, mas sim “a voz dos povos”. A multiestatal disse ter conteúdos jornalísticos com uma linha editorial de esquerda. Além disso, segundo o El País, a Telesur explicou em seu comunicado que é um canal que informa “ao vivo e em rede com evidências documentais e noticiosas que, apesar de governos de direita, e apesar de tentarem bombardeá-la, não deixou de transmitir.”

De acordo com informações da emissora com sede em Caracas (Venezuela), seus conteúdos são transmitidos por 90 operadores de cabo, e ela mantém convênios com mais de cinco canais em diferentes províncias argentinas, alcançando mais de 20 milhões de potenciais telespectadores e mais de 8 milhões de assinantes até 29 de fevereiro deste ano.

Na Argentina, a Telesur se converteu em um canal de inclusão obrigatória do seguimento internacional entre as empresas a cabo privadas desde 9 de setembro de 2010, por ordem da agora extinta Autoridade Federal de Serviços de Comunicação Audiovisual (Afsca), segundo informou o jornal La Nación. A ordem tinha base na Lei de Meios de 2009, que dava ao canal este privilégio ao considerá-lo um canal estatal. [Leia: "Polêmica na Argentina por decreto do noo Presidente que reverte a Lei de Meios de sua antecessora."]

A Telesur começou a funcionar em 24 de janeiro de 2005, em Caracas, após ter sido fundada pelo então presidente venezuelano Hugo Chávez, como o grande projeto de televisão latino-americana. Nascida como alternativa às grandes cadeias noticiosas internacionais, a empresa mediática integrou desde o início Argentina, Cuba e Uruguay. Entre os anos de 2006 e 2007 se somaram Bolívia, Nicarágua e Equador.

Atualmente, a Venezuela tem participação de 51% na Telesur.

Para o ex-presidente da Afsca Martín Sabbatella, a saída da Argentina da Telesur é uma “decisão política disfarçada de austeridade, outra grande mentira da parte de um governo que despreza o pluralismo, a liberdade de expressão e o direito à informação”, publicou o jornal argentino Página 12.

Outras personalidades argentinas como o Premio Nobel de Paz Adolfo Pérez Esquivel; a presidente da Asociação Madres de Plaza de Mayo, Hebe de Bonafini; e Glenn Postolski, decano da Faculdade de Ciências Sociais da Universidade de Buenos Aires, repudiaram a decisão do governo, segundo o Página 12. Postolski declarou a esse meio que isso “é uma mostra mais de que o pluralismo corre risco e se homogenizam as vozes.”

Nicolás Maduro, atual presidente da Venezuela, também se pronunciou sobre a saída da Argentina do canal de notícias latino-americano.

“Se o proíbem na Argentina, milhões de argentinos irão ver pela internet, pelas redes sociais, mas não irão tirar nem fazer desaparecer a Telesur da Argentina”, disse Maduro ao portal da multiestatal.

Nota do editor: Essa história foi publicada originalmente no blog de jornalismo nas Américas do Centro Knight, o predecessor do LatAm Journalism Review.

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