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Campanha de crowdfunding “Ocupe A Pública” supera meta de arrecadação e vai financiar 14 reportagens até 2016

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  • 13 março, 2015

Por Jade Magalhaes*

Três dias antes de terminar sua campanha de crowdfunding (financiamento coletivo), a agência brasileira Pública, uma organização de jornalismo investigativo dirigida por mulheres, conseguiu superar sua meta de arrecadação. A campanha “Ocupe A Pública”, lançada no dia 21 de janeiro, tinha como objetivo levantar 50 mil reais para a realização de 10 reportagens cujos temas vão ser escolhidos pelos leitores-colaboradores, que também vão acompanhar a produção das pautas.

Com a meta superada em quase 20 mil reais, a organização decidiu anunciar em sua página no Facebook que para cada 5 mil reais acima da meta inicial que conseguissem, o projeto se prolongaria por mais um mês, permitindo a realização de mais matérias investigativas.

E funcionou. Até o fim da campanha, esta conseguiu arrecadar quase 70 mil reais – faltaram apenas 3 reais para isso – e o projeto acontecerá até abril de 2016 (e não até dezembro de 2015 como inicialmente previsto) com a realização de 14 reportagens.

“Vamos ganhar agilidade, cobrir pautas quentes e também aumentar a participação do público, trazendo-o para dentro da nossa produção jornalística todo mês”, disse Natália Viana, diretora da Pública, em uma entrevista com o Centro Knight para o Jornalismo nas Américas dias antes de encerrar a campanha de crowdfunding.

Para assegurar que seus leitores tenham voz, os repórteres da Pública convidarão os doadores a votar e determinar um tema de investigação que será realizado pela redação todo mês. No próximo dia 16 de março, a agência publicará as primeiras três propostas de histórias para que seus 958 colaboradores (pessoas que doaram na campanha) votem.

Uma vez publicada a história selecionada, outros veículos de notícias como blogs, jornais e revistas são convidados a reproduzir gratuitamente seu conteúdo, produzido sob uma licença creative commons.

A equipe da Pública já cobriu temas de grande repercussão como abusos do Governo, violações de direitos humanos e fraudes. Este ano, com a escassez de água que domina o Brasil, Viana pode prever qual será pelo menos um dos temas mais palpitantes.

Segundo a jornalista, a Corregedoria do Estado de São Paulo ordenou que a Sabesp, companhia responsável pela gestão da água no estado, entregue os contratos de demanda firme, ou seja, os contratos de fornecimento de água para as empresas que mais consomem e que recebem descontos de até 40% no preço da água. “A decisão da CGA é linda, uma tremenda vitória para o direito à informação”, ressaltou Viana. Uma vez com acesso a esses documentos, Pública analisou a conduta da Sabesp para determinar se a água havia sido distribuída de maneira justa durante a crise. Entre outros temas encontrou que o volume de água concedido a empresas que haviam assinado contratos com a Sabesp aumentou 92 vezes em 10 anos.

Uma declaração em defesa da publicação destes documentos, que está no relatório técnico elaborado pela Corregedoria, observa que o direito do público à informação deve ser preservado e que “não há como negar interesse coletivo que envolve as informações objeto do pedido de acesso, quer por envolver a atuação de uma sociedade de economia mista, quer por ter por objeto a administração de um bem público: a água".

O acesso aos contratos da Sabesp dado à Pública simboliza um grande passo em direção a uma mudança de enfoque sobre o fazer jornalístico e a liberdade de imprensa no Brasil.

“O que falta é uma maior pluralidade de vozes e veículos, seja pela falta de incentivos nesse sentido, seja pela autocensura gerada pelo modelo comercial dos veículos tradicionais, seja pela concentração brutal da mídia na mão de poucos grupos. Mas eu sou otimista, sempre acho que as coisas estão melhorando. A mudança de paradigma na produção jornalística que estamos vendo agora, para uma era do jornalismo pós-industrial, é para mim um excelente sinal. Está na mão dos jornalistas construir esse novo cenário pós-industrial com qualidade e pluralidade. É nossa responsabilidade.”

*Jade Magalhes é estudante da turma "Jornalismo e Liberdade de Imprensa na América Latina" na Universidade do Texas em Austin.

Nota do editor: Essa história foi publicada originalmente no blog Jornalismo nas Américas do Centro Knight, o predecessor do LatAm Journalism Review.

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