texas-moody

Mídia digital independente está ajudando a recuperar a confiança das pessoas na Venezuela, diz jornalista Laura Weffer

Astros da música latina juntaram suas vozes para enviar uma mensagem de paz e reconciliação no show Venezuela Aid Live, realizado em 22 de fevereiro na cidade fronteiriça de Cúcuta, Colômbia, um dia antes da data em que se planejava iniciar a entrada da ajuda humanitária no território venezuelano.

Mas para centenas de pessoas foi impossível ver o show em suas casas, depois que os sinais dos canais NatGeo e Antena 3 na Venezuela foram interrompidos para os usuários dos serviços de TV por assinatura DirectTV e Intercable, segundo o Sindicato Nacional dos Trabalhadores de Imprensa da Venezuela nas redes sociais.

Além disso, o acesso ao Bing, Google e YouTube também foi bloqueado em várias ocasiões durante o show, de acordo com a organização de cibersegurança NetBlocks.

Laura Weffer founded the news site Efecto Cocuyo, together with Luz Mely Reyes and Josefina Ruggiero, in 2015. (César López Linares/Knight Center) Laura Weffer fundou o site de notícias Efecto Cocuyo, em conjunto com Luz Mely Reyes e Josefina Ruggiero, em 2015.

Ao mesmo tempo, mas a milhares de quilômetros de distância, no Texas, a jornalista venezuelana Laura Weffer se referiu ao incidente com indignação, mas não com surpresa.

"O que está acontecendo não é um fenômeno recente na Venezuela. Esta emboscada contra a mídia não é nova", disse ela durante seu discurso como oradora principal na Conferência Lozano Long, do Instituto Teresa Lozano Long de Estudos Latino-Americanos e do Centro Knight para o Jornalismo nas Américas da Universidade do Texas em Austin.

Weffer explicou que além do bloqueio e da censura, a crise do jornalismo na Venezuela também tem a ver com o fato de a profissão ter perdido a confiança do povo. Em parte por causa da demonização dos meios de comunicação por parte dos regimes de Hugo Chávez e Nicolás Maduro, mas também porque o setor de venezuelanos alinhados ao Chavismo ficou por muitos anos longe da atenção do jornalismo.

"Desde Chávez até os dias de hoje, essa dita Revolução Bolivariana deixou bem claro que uma de suas prioridades era instalar desconfiança em relação ao jornalismo", disse Weffer.

A jornalista também afirmou que os apoiadores de Chávez foram pouco ouvidos na cobertura noticiosa.

De acordo com Weffer, diante da atual crise de liberdade de expressão, o jornalismo está recuperando a confiança da população graças ao trabalho dos meios digitais independentes como Efecto Cocuyo, um portal que ela fundou junto com Luz Mely Reyes e Josefina Ruggiero em 2015. Mas também graças a outros sites como El Pitazo, El Estímulo, RunRunEs e Armando.Info, que usam a internet como ferramenta contra a censura.

"Hoje, o jornalismo é mais importante, mais necessário do que nunca. E isso é sério. Não é suficiente ler um tweet, um post no Facebook, para estar inteirado. A luta por informação e desinformação é real, sangrenta e com efeitos devastadores", disse Weffer. "É por isso que os jornalistas precisam ganhar a confiança do povo novamente, devemos fazer com que as pessoas estejam no centro do debate, estamos a serviço deles e não o contrário".

Esta missão se dificulta com as situações precárias em que o jornalismo é realizado sob o regime de Chávez. Segundo a ONG Espacio Público, somente no dia 23 de fevereiro ocorreram 20 agressões e restrições ao trabalho jornalístico. A isso se soma o fato de que a Venezuela é um dos poucos países da América que não tem leis de acesso à informação.

"Na Venezuela não é mais possível sentar e ler um jornal com uma xícara de café numa manhã de domingo, porque não há jornais, não há café e, acima de tudo, não há um meio que crie uma opinião pública diversificada", afirmou Weffer.

"No caso dos jornalistas, além disso temos que acrescentar que eles não fazem seu trabalho na comodidade de um escritório com ar-condicionado. Eles saem todos os dias para arriscar suas vidas. E não é um exagero para impressionar vocês. O perigo é real", a jornalista adicionou mais tarde.

A jornalista, que recebeu reconhecimentos como o Prêmio Maria Moors Cabot da Universidade de Columbia e o Prêmio de Investigação Jornalística da América Latina e Caribe da Transparência Internacional, também alertou para os riscos de polarizar o jornalismo e de jornalistas tentarem combater um governo com desqualificações e insultos.

Weffer alertou sobre os riscos de usar o jornalismo para a luta política, o que ela afirma que pode levar à polarização.

"O jornalismo é tão generoso e maravilhoso que te dá as ferramentas para que você possa desmantelar a vileza do poder por meio de uma reportagem investigativa, de uma crônica ou de um artigo", adicionou ela posteriormente.

A equipe do Efecto Cocuyo é composta de 20 pessoas, das quais Weffer é a única que mora fora da Venezuela. Os colaboradores são, em sua maioria, millennials que viveram sob a censura do chavismo por toda a vida. Portanto, diante de uma possível mudança de regime na Venezuela, Weffer falou com eles sobre a importância de não perder o foco de ser, como jornalistas, um contrapeso a quem está no poder.

"Eu lhes digo: 'Você nunca pode esquecer que você é ‘contrapoder’", concluiu ele.

Artigos Recentes