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Salvando o jornalismo no México

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  • 15 dezembro, 2010

O Centro Knight convidou Luis Manuel Botello, do Centro Internacional para Jornalistas (ICFJ, na sigla em inglês), para escrever sobre sua experiência participando de uma cúpula em El Paso, no Texas, durante a qual editores, jornalistas e defensores da liberdade de imprensa discutiram a violência contra jornalistas que trabalham na fronteira entre o México e os Estados Unidos.

Por Luis Manuel Botello, Diretor Sênior de Projetos Especiais - International Center for Journalists (ICFJ):

Os jornalistas sempre vivem em estado de tensão com sua profissão. Para desvendar a verdade, eles precisam desenvolver não apenas um conhecimento abrangente sobre os temas de interesse público, como também devem ter o chamado "faro jornalístico" para estar no lugar certo na hora certa de cobrir um fato. No entanto, para os jornalistas que trabalham em zonas de conflito, tais habilidades jornalísticas podem significar a morte.

Alejandro Hernández Palacio, repórter da Televisa em Torreón, no estado de Coahuila, no México, queria apenas investigar uma acusação que seria do interesse de todos. A diretora de uma delegacia no estado vizinho de Durango estaria liberando presos da carceragem durante a noite para que cometessem execuções. Infelizmente, Hernández Palacio não conseguiu fazer o que pretendia, porque, no caminho para a delegacia, ele e três colegas de trabalho foram sequestrados por um grupo de narcotraficantes que exigiam que rede de TV Televisa divulgasse mensagens do crime organizado.

Para o jornalismo mexicano, isso é o inferno,” disse Hernández Palacio aos jornalistas e editores de jornais da fronteira entre México e Estados Unidos durante um encontro em El Paso, no Texas. Hernández Palacio e seus colegas só foram libertados vários dias após o sequestro, depois de serem torturados. Essa experiência terrível o levou a abandonar o México junto com sua família, e pedir asilo aos EUA. “Eu não quero voltar e expor minha família”, afirmou Hernández Palacio de forma emotiva, tentando conter o choro.

Os jornalistas sequestrados em Durango conseguiram salvar suas vidas, mas outros 258 profissionais de imprensa foram mortos – ou estão desaparecidos e, por isso, presume-se que estejam mortos - na América Latina nos últimos 15 anos, segundo um estudo do Projeto Impunidade, da Sociedade Interamericana de Imprensa (SIP). Segundo o trabalho, financiado pela Fundação John S. e James L. Knight e intitulado “Matando as notícias: Histórias que não serão contadas enquanto os jornalistas latino-americanos continuarem morrendo”, apenas 59 casos foram resolvidos. Somente no México, 89 jornalistas foram mortos desde 1995, incluindo 19 desaparecidos.

Diante dessa situação, o que pode ser feito? O encontro de editores e jornalistas, organizado pela SIP e pela Sociedade Americana de Editores de Jornais (ASNE, na sigla em inglês), foi uma tentativa de incentivar uma maior colaboração entre os profissionais dos EUA e do México. Editores dos dois países concordaram que há um grande interesse público no que acontece na fronteira. Aproximadamente um milhão de pessoas cruzam a fronteira diariamente, de acordo com Tim Johnson, chefe do escritório do grupo McClatchy na cidade do México.

No entanto, esse tipo de colaboração não se dará facilmente. Existe uma desconfiança mútua entre alguns jornalistas do México e dos EUA. Em geral, os profissionais mexicanos participam da cobertura de conflitos armados sem nenhum seguro de saúde e acredita-se que os altos níveis de corrupção tenham comprometido a credibilidade de alguns jornalistas. Alejandro Junco de la Vega, presidente do Grupo Reforma, disse achar muito estranho que, às vezes, jornalistas que cobrem violência cheguem atrasados e só façam fotos ou vídeos de outros profissionais trabalhando. Isso também levado a uma falta de solidariedade entre os jornalistas mexicanos.

Por outro lado, uma vez que a violência ainda não chegou à Cidade do México, a imprensa nacional não cobre a situação na fronteira de forma consistente, deixando ainda mais vulneráveis os profissionais que acompanham a guerra contra o tráfico diariamente. No México, a violência já assola pelo menos 12 estados, mas ainda não atingiu a capital, onde a informação está centralizada.

Os desafios enfrentados pelos jornalistas na fronteira e que cobrem a violência são preocupantes. Contudo, no encontro promovido pela SIP e pela ASNE, várias recomendações foram feitas. Claramente, é fundamental uma capacitação contínua dos que cobrem conflitos armados, que leve à adoção de padrões éticos para a cobertura do crime organizado. Outro ponto importante é a capacitação sobre temas relacionados à liberdade de expressão. Os profissionais de imprensa precisam estar familiarizados com os mecanismos internacionais para a proteção de jornalistas, enquanto fortalecem suas organizações locais encarregadas de monitorar a liberdade de imprensa.

Esses programas de capacitação devem ter um caráter descentralizado e atingir jornalistas da fronteira e dos outros estados afetados pela violência. Incentivar a colaboração entre jornalistas mexicanos e americanos e fortalecer as equipes que investigam os assassinatos de jornalistas ajudaria a promover uma maior solidariedade, ao mesmo tempo em que conscientizaria a sociedade civil da importância de uma imprensa livre e independente.

Nota do editor: Essa história foi publicada originalmente no blog de jornalismo nas Américas do Centro Knight, o predecessor do LatAm Journalism Review.

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