Por Scott Squires*
Após o assassinato do jornalista mexicano Edgar Esqueda em San Luis Potosí, no México, em outubro, um vídeo registrado por um celular e enviado a um ex-policial se espalhou pela internet. O vídeo mostrava Esqueda, amarrado e de joelhos, dizendo nomes de repórteres que cobrem crimes em jornais de todo o Estado. Em resposta, o governador de San Luis Potosí, Juan Manuel Carreras, ordenou medidas de proteção imediata - uma viatura policial para cada repórter nomeado no vídeo.
No entanto, jornalistas de um dos jornais locais, El Sol de San Luis, ficaram mais preocupados com as medidas de proteção do governador do que com o vídeo.
“Todos na redação disseram: ‘Nós não confiamos na polícia. Nós não queremos essas viaturas aqui’”, disse Martha Ramos, coordenadora editorial nacional da Organização Editorial Mexicana (OEM), proprietária de El Sol de San Luis.
"Não há medida de proteção que funcione quando você não confia na polícia."
O caso de El Sol de San Luis é mais um exemplo do fracasso dos esforços do governo para proteger jornalistas no México. Enquanto permanece a violência contra jornalistas no país, muitos repórteres seguem desconfiados e céticos quanto às medidas de proteção que são vistas como ineficazes e problemáticas.
Em grande parte, isso ocorre porque a corrupção entre a polícia local e funcionários do governo é desenfreada em todo o país.
Um repórter até considerou se demitir de El Sol de San Luis depois que o jornal recebeu proteção policial - não porque ele fosse nomeado no vídeo, mas por causa da sensação de perigo promovida por supostos policiais corruptos.
Segundo um estudo recente da organização Causa en Común, 72% dos policiais no Estado de San Luis Potosí disseram que existe corrupção em seu departamento e que ela ocorre em maior medida entre os oficiais há mais tempo no cargo. Em termos de confiança, 81,2% consideram que a sociedade não confia na polícia e 84,7% disseram que a sociedade discrimina a polícia. De acordo com a pesquisa, os policiais também relataram condições de trabalho precárias, incluindo já terem tido de pagar por materiais necessários ao seu trabalho e terem presenciado discriminação e abuso no local de trabalho.
A insegurança no México é sentida no nível local. Muitas comunidades estão à mercê dos cartéis que controlam as instituições locais por meio de suborno, extorsão e violência. Quando a polícia e funcionários do governo se aliam ao crime organizado, o trabalho dos jornalistas locais para investigar e expor a corrupção torna-se uma busca mortal.
Apesar da existência de um mecanismo federal para proteger os defensores dos direitos humanos e os jornalistas no país, bem como um promotor especial que investiga crimes contra a liberdade de expressão, os assassinatos de jornalistas continuam a flagelar o México.
Um total de dez jornalistas foram mortos no México em 2017. Além disso, houve 276 ataques contra a imprensa na primeira metade do ano, representando um aumento de 23% em relação ao ano anterior, de acordo com o capítulo mexicano da Artigo 19, uma organização pela liberdade de expressão. Dos 276 ataques, pouco mais da metade foram cometidos por agentes do Estado, acrescentou a organização.
Desde 2000, 130 jornalistas foram assassinados no México; 38 deles desde que o atual presidente, Enrique Peña Nieto, assumiu o cargo. E os crimes contra jornalistas frequentemente permanecem impunes. Apenas 10% dos crimes cometidos contra jornalistas recebem uma condenação, de acordo com a Comissão Nacional de Direitos Humanos.
Embora a corrupção entre funcionários do governo seja desenfreada, muitos juízes e procuradores tratam com desdém os casos de violência contra jornalistas, por considerar os profissionais como participantes em um sistema corrupto.
Um jornalista assassinado em Veracruz no início deste ano foi declarado corrupto pelo gabinete do governador menos de meia hora depois de seu assassinato, segundo Ramos.
De todo modo, existe corrupção entre jornalistas mexicanos. Repórteres que trabalham em situações perigosas por baixos salários muitas vezes recebem pouca proteção de suas redações e estão mais em risco de aceitar subornos. Com frequência, alguém oferecendo dinheiro se aproximará de um jornalista que trabalha no terreno, instando-o a evitar reportar sobre a violência dos cartéis.
"De certo modo, isso mantém um jornalista vivo", disse Ramos. "Em outro sentido, é dinheiro fácil".
No vídeo divulgado em outubro, Esqueda nomeou os jornalistas no vídeo como membros de cartéis. No entanto, visto que Esqueda fez essas afirmações sob tortura, é difícil determinar a veracidade dessas acusações, de acordo com a Artigo 19.
O que funciona?
Enquanto o governo mexicano usa uma série de métodos para proteger os jornalistas, não há uma solução única para todos. Cada situação é diferente, e muitas vezes é difícil antecipar quando e onde um jornalista estará em perigo.
Jornalistas muito conhecidos, bem como freelancers e repórteres em jornais menores, estão em maior risco, de acordo com Ramos.
"Existem todos esses instrumentos para reagir, mas nada parece funcionar porque tudo fica cada vez mais complicado", explicou Ramos.
Mas, às vezes, prevenir é o melhor remédio. Não se focar em um cartel exclusivamente, evitar investigações sem apoio editorial suficiente e ser cuidadoso com o que publica pode ajudar a manter os repórteres longe de problemas.
Mas, para os jornalistas, cujo trabalho é divulgar informações e expor injustiças, ficar em silêncio não é uma opção.
"O mais fácil é calar a boca, mas isso não funciona para jornalistas", disse Ramos. "O que funciona para nós é falar sobre isso - toda a mídia trabalhando em conjunto".
* Scott Squires é um estudante de mestrado na Universidade do Texas em Austin, onde está cursando uma formação dupla em Jornalismo e Estudos de Política Global. Ele irá se formar em maio de 2018.
Nota do editor: Essa história foi publicada originalmente no blog de jornalismo nas Américas do Centro Knight, o predecessor do LatAm Journalism Review.