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Assédio do governo contra jornalistas independentes aumenta na Nicarágua

Nos últimos dias, pelo menos sete jornalistas independentes da Nicarágua relataram ter sofrido ameaças de morte, perseguição e assédio de paramilitares, invasões em suas propriedades, prisões e detenções arbitrárias.

O colunista editorial do jornal La Prensa, Luis Sánchez Sancho (76), está detido arbitrariamente há mais de três dias em uma cela comum, após um acidente de trânsito, informou a revista Confidential. Sánchez caiu em 24 de novembro com um motociclista que passou um sinal vermelho, causando ferimentos leves, segundo a revista.

A promotoria acusou Sánchez de ter causado danos imprudentes contra um motociclista, segundo o La Prensa. De acordo com o meio, o juiz encarregado do caso não permitiu que a esposa de Sánchez assinasse um acordo extrajudicial com a família da vítima para resolver o caso e ordenou que o jornalista fosse mantido sob prisão preventiva.

A presidente do Centro Nicaraguense de Direitos Humanos (Cenidh), Vilma Núñez, disse que essa decisão é uma "aberração jurídica" porque o juiz tem a obrigação de respeitar os acordos entre as partes, informou o La Prensa.

A Sociedade Interamericana de Imprensa (SIP) manifestou-se fortemente contra o aumento dos ataques a jornalistas independentes na Nicarágua e exigiu a libertação imediata de Sánchez Sancho.

Em outro caso recente, o jornalista Carlos Salinas Maldonado, da revista Confidencial, colaborador do jornal espanhol El País e apresentador do programa "Esta Noche", informou que na terça-feira, 27 de novembro, e na quarta-feira, 28 de novembro, ele foi seguido por paramilitares motorizados, informou o La Prensa. Os paramilitares não apenas o seguiram de sua casa até seu local de trabalho, disse Salinas, mas também fizeram sinais ameaçadores durante a viagem.

O jornalista também é vítima de campanhas de difamação nas redes sociais que o acusam de ser violento em relação a outras pessoas.

Também nesta semana, o dono e diretor da Rádio Mi Voz na cidade de León, Álvaro Montalván, denunciou através do Facebook que várias patrulhas policiais, sem qualquer explicação, invadiram o terreno de sua propriedade onde as antenas transmissoras de rádio estão instaladas.

Por sua parte, o jornalista Miguel Mora, proprietário do meio 100% Noticias, disse em uma entrevista ao Canal 10 que quando chegou em casa em 24 de novembro, foi preso junto com sua esposa Verónica Chávez e seu motorista por um "grupo de oficiais paramilitares" armados. Segundo o jornalista, os paramilitares ordenaram que eles levantassem as mãos e revistaram Chávez de maneira vulgar. Durante a intervenção, Mora disse, eles também foram ameaçados de morte.

O responsável pela operação gravou os jornalistas durante a detenção, segundo mostrou o canal 10 durante a entrevista com Mora. O jornalista alertou que um fragmento do vídeo da prisão circula nas redes sociais, editado ao lado da imagem de um policial que foi incinerado meses atrás. Para Mora, o objetivo deste ataque é culpá-los por esse crime e, assim, fechar a 100% Noticias.

Em 24 de novembro, o jornalista esportivo Gustavo Jarquín, da Radio Corporación, disse que foi agredido por policiais. Jarquín denunciou via Twitter que foi espancado porque não quis entregar o celular para eles.

Neste mesmo fim de semana agitado, o jornalista Jaime Arellano, comentarista político do programa "Jaime Arellano en la Nación" do canal 100% Noticias, foi ameaçado de morte e de prisão, publicou o portal 100% Noticias.

Segundo a SIP, Arellano deixou o país no domingo, 25 de novembro, devido às ameaças.

Roberto Rock, presidente do Comitê de Liberdade de Imprensa e Informação da SIP, acusou o regime nicaraguense de se tornar juiz e partido para reprimir e silenciar a imprensa crítica.

O Relator Especial para a Liberdade de Expressão da Comissão Interamericana de Direitos Humanos (CIDH), Edison Lanza, disse em sua conta no Twitter que o assédio contra a imprensa e a mídia por agentes do Estado e simpatizantes do governo na Nicarágua "é algo raramente visto com essa intensidade".

No início de novembro, a Fundação Violeta Barrios de Chamorro (FVBCH) indicou em um relatório que desde abril deste ano quando os protestos contra o presidente reeleito Daniel Ortega e seu governo começaram até meados de outubro houve 420 violações contra a liberdade de expressão no país.

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