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Autoridades cubanas prendem 10 jornalistas que cobriam os efeitos do furacão Matthew

Atualização: Em um editorial publicado em 16 de outubro, a equipe do meio de comunicação cubano Periodismo de Barrio oferece detalhes sobre a sua detenção nos dias 11 e 12 de outubro na província oriental de Guantánamo, onde haviam chegado para cobrir os efeitos do furacão Matthew. Também através do editorial, a equipe responde a algumas críticas feitas ao seu trabalho. Clique aqui para ler o post sobre o editorial.

Pelo menos 10 jornalistas cubanos foram detidos enquanto faziam a cobertura da passagem do furacão Matthew na cidade de Baracoa, na província oriental de Guantánamo, na manhã de quarta-feira, 12 de outubro, informou o portal Cubanet.

Entre os jornalistas detidos, que trabalham para a Periodismo de Barrio, estava a fundadora e diretora da revista digital Elaine Díaz. Segundo um familiar da jornalista, que entrou em contato com Cubanet, os comunicadores detidos foram liberados e devem chegar na quinta-feira a Havana.

Os jornalistas teriam sido detidos por não terem a credencial adequada. Um familiar de Díaz assegurou que a jornalista tentou conseguir esse passe para chegar até a zona, mas que só davam a permissão para os meios de comunicação "credenciados”, acrescentou Cubanet.

Os jornalistas ficaram presos durante horas na cidade de Guantánamo para onde foram levados após a detenção em Baracoa, afirmou Univisión.

“Ela me telefonou de manhã e me disse que tinha sido detida com os seus colegas de trabalho. Comentou que os seus equipamentos tinham sido confiscados. As autoridades avisaram ainda que ela seria deportada para a cidade de Guantánamo. Depois disso não sabemos o que acontecerá”, disse o familiar, segundo Cubanet, quando ainda não se sabia da liberação dos jornalistas.

Díaz escreveu na sua conta no Twitter, na manhã de 13 de outubro, que a equipe faria uma declaração conjunta assim que chegasse a Havana, mas não dariam entrevistas individuais.

Afirmou também que vão continuar o seu trabalho de apoio aos meios de comunicação no processo de cobertura da recuperação das zonas afetadas pelo furacão, mas não entrou em detalhes sobre como será essa colaboração.

Em 4 de outubro, a equipe de Periodismo de Barrio lançou uma campanha para recolher dinheiro para poder cobrir o tema, segundo uma publicação no perfil do Facebook de Díaz. No dia seguinte, já tinha arrecadado US$ 675 dólares, dos 1.800 que precisava. Dois dias depois, Díaz pediu que as doações parassem porque já tinham recolhido todo o valor necessário.

Em 10 de outubro, o repórter Maykel González Vivero, colaborador do portal Diario de Cuba, também foi detido enquanto fazia uma entrevista relacionada com a devastação do furacão em Baracoa. Depois de três dias foi liberado, segundo informou Martí Noticias.

González Vivero garantiu que confiscaram o seu computador e a sua câmera fotográfica, e que faria uma reclamação na Procuradoria de Guantánamo, publicou Martí Noticias.

As detenções ocorrem em meio a um debate sobre a legitimidade das pequenas publicações independentes no país, afirmou o site 14ymedio. Para as vozes oficiosas, é importante “manter o controle do Partido Comunista sobre a imprensa e fechar o cerco contra os meios de comunicação não governamentais”, acrescentou.

Ainda que, nos últimos anos, meios de comunicação independentes tenham tido mais espaço para crescer em Cuba, ainda há restrições para realizar esse tipo de trabalho, segundo um relatório recente do Comitê para a Proteção dos Jornalistas.

Apesar de não haver uma versão oficial das autoridades, no jornal oficial Granma foi publicado um artigo nesta quinta-feira que faz menção a uma “manipulação e neste caso provocação de sites privados ou abertamente a serviço da contrarrevolução, que tentaram passar uma imagem, não mais diferente, e sim distorcida da realidade que se viveu e que ainda, em plena fase de recuperação, se segue vivendo”.

Sem dar nomes, o artigo afirma que esses sites atuaram sem autorização prévia e que realizaram atividades “nas cercanias da Base Naval ilegal que os Estados Unidos mantém na província de Guantánamo” que, do seu ponto de vista, não se relacionava com as zonas afetadas pelo furacão.

“Não é exagerado classificar isso como provocação. Quando Matthew já saia, até mesmo do litoral dos Estados Unidos, foi que apareceram no território de Guantánamo esses outros ‘informadores’”, continuou o artigo. “Atividades dessa índole contrastam com o profissionalismo demonstrado por jornalistas de meios locais, nacionais e estrangeiros diante da tragédia que viveram os territórios mais afetados”.

Nota do editor: Essa história foi publicada originalmente no blog de jornalismo nas Américas do Centro Knight, o predecessor do LatAm Journalism Review.

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