texas-moody

Jornalista mexicano que pede asilo nos EUA é libertado depois de sete meses detido por departamento de imigração

O repórter mexicano Emilio Gutiérrez Soto, que busca asilo nos EUA, foi libertado pela Agência de Imigração e Alfândega (ICE) em El Paso na tarde de 26 de julho, após sete meses de detenção.

Gutiérrez e seu filho Óscar estavam detidos desde dezembro de 2017, após reunião com o ICE. Eles foram levados para uma unidade da Patrulha de Fronteira, no limite entre EUA e México, para serem deportados quando um pedido de permanência emergencial interrompeu o processo no último momento. Um juiz de imigração de El Paso havia negado seu pedido de asilo cinco meses antes, em julho.

"Ele não fez nada de errado. Nós estávamos tratando Emilio... como se ele fosse um criminoso, quando tudo o que ele fez foi pedir asilo. Então, acho que a liberdade é muito, muito importante, mas o é primeiro passo, e o próximo passo é conseguir o asilo para que ele possa ficar nos Estados Unidos permanentemente", disse Eduardo Beckett, advogado de Gutiérrez, ao Centro Knight. "Mas para mim, a liberdade está no cerne de seu interesse, de poder voltar, de ser parte do tecido social e participar e continuar a ser jornalista e permitir que seu filho continue a faculdade."

Nos últimos sete meses, o National Press Club (NPC) lutou por sua libertação e asilo junto de outras organizações pela liberdade de imprensa. Conselhos editoriais e colunistas de jornais como o Washington Post e o Houston Chronicle também se juntaram às vozes em apoio à família Gutierrez.

Tem sido uma estrada longa para a família. Os dois se apresentaram na fronteira EUA-México em junho de 2008 e anunciaram sua intenção de pedir asilo. Gutiérrez disse ter sido informado que membros do exército mexicano estavam furiosos com suas reportagens e planejavam matá-lo.

Em 30 de janeiro de 2005, o El Diario publicou um artigo de Gutiérrez intitulado "Militares assaltam hotel em Palomas". Segundo o artigo, seis membros do Exército e um civil agrediram hóspedes do hotel, pegaram seu dinheiro, joias e itens pessoais, e os ameaçaram de morte.

Seis soldados foram presos após o incidente, mas o proprietário do hotel e os clientes não apresentaram queixas à procuradoria pública por conta das ameaças, dizia o artigo.

Gutiérrez disse à publicação Mother Jones que soldados do Exército o ameaçaram no centro de Ascensión em fevereiro de 2005 e invadiram sua casa em maio de 2008.

Depois de fugir do México e chegar aos EUA, pai e filho passaram algum tempo detidos antes de serem libertados. Gutiérrez conseguiu fazer bicos e tinha um food truck de tacos.

Em novembro de 2016, após anos de espera e adiamentos, Gutiérrez finalmente apresentou seu caso a um juiz, mas teve o pedido de asilo negado em julho do ano seguinte. Uma apelação também foi negada pelo Conselho de Apelação de Imigração (BIA, na sigla em inglês) no início de novembro de 2017 por ter sido "arquivada prematuramente". Pai e filho foram detidos em dezembro. Então, o BIA ordenou uma nova audiência de petição pra maio de 2018.

Em março de 2018, a clínica internacional de direitos humanos da Escola de Direito da Universidade Rutgers, junto do advogado de Gutiérrez, Eduardo Beckett, entrou com um pedido de habeas corpus para a libertação de Gutiérrez. Uma das alegações era de que os direitos garantidos a ele pela Primeira Emenda estavam sendo violados, disse Beckett ao Centro Knight.

Também foi incluído um email redigido pela ICE datando de fevereiro de 2017 - antes do pedido de asilo ser negado -, encontrado através de um requerimento à Lei de Liberdade da Informação, que mostrava o nome de Gutiérrez em uma "Lista de Alvos Não Detidos", explicou Beckett.

"Emilio vem criticando ambos os governos desde que chegou aqui e, para nós, ficou claro que não apenas isso, mas também as transcrições da audiência de imigração revelaram comentários de autoridades da ICE sobre a imprensa, sobre sua profissão como jornalista e, então, se você colocar tudo isso junto, pelo menos para mim, é muito óbvio que houve represárias por ele exercer esses direitos constitucionais", disse Beckett.

Em julho, um juiz decidiu a favor de Gutiérrez em relação à Primeira Emenda, mas não na questão do devido processo legal, da proteção equalitária e alegações da APA. Uma audiência preliminar foi planejada para 1º de agosto sobre se os direitos constitucionais de Gutiérrez foram intencionalmente violados e o procurador americano deveria ter entregado outros emails e evidências no final de julho, disse Beckett.

Em sua decisão, o juiz citou a presença de Gutiérrez no email da "Lista de Alvos Não Detidos", bem como declarações do diretor executivo da NPC, William McCarren, que declarou sob juramento ter sido informado por um funcionário da ICE para "diminuir o tom". Ele também citou as críticas de Gutiérrez ao ICE e ao governo dos EUA quando recebeu o prêmio John Aubuchon de Liberdade de Imprensa pela NPC.

Agora que pai e filho foram libertados, a audiência preliminar não vai mais ocorrer e nenhum email ou demais evidências serão apresentados, explicou Beckett.

O caso de Gutiérrez agora retorna ao juiz de imigração que primeiro negou sua solicitação de asilo. Sua primeira audiência será em 16 de agosto. Beckett anteriormente disse ao Centro Knight que ele seus colegas advogados estão armados com mais evidências sobre os perigos para repórteres no México, assim como mais de 155 páginas de artigos escritos por Gutiérrez. Ele também tem um parecer de amicus curiae [amigo da corte] da NPC e de mais de 15 outras organizações jornalísticas.

Beckett disse que outros planos imediatos incluem levar Gutiérrez à Universidade de Michigan para que ele receba a bolsa Knight-Wallace que ganhou.

Depois da libertação sua e de seu filho da detenção, Gutiérrez disse ao Texas Tribune que o filho foi sua inspiração para continuar lutando.

"Eu entendo e compartilho a dor das famílias que vieram para este país para salvar suas próprias vidas", disse, se referindo às famílias recentemente separadas na fronteira depois de pedir asilo.

O México é um dos países mais mortais do mundo para jornalistas e grande maioria dos assassinos dos trabalhadores da imprensa ficam impunes. O último assassinato de um jornalista foi em 24 de julho, em Quintana Roo, quando o repórter e diretor do Semanario Playa News, Rubén Pat Caiuch, foi baleado e morto. O diretor da revista Encuesta de Hoy, Luis Pérez García, foi morto em Iztapalapa, perto da Cidade do México, na semana anterior.

Artigos Recentes