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Jornalistas estrangeiros condenam crescentes ataques à liberdade de imprensa na Nicarágua

o México aos Estados Unidos, França à Eslovênia, Austrália à Zâmbia, 244 jornalistas estrangeiros assinaram uma carta endereçada ao presidente da Nicarágua expressando preocupação com a crescente deterioração da liberdade de imprensa naquele país.

“Somos jornalistas e defensores da liberdade de imprensa da América Latina e ao redor do mundo, e vemos os recentes desenvolvimentos em seu país com grande concernimento”,  escreveram em documento encaminhado ao presidente Daniel Ortega e à vice-presidente e primeira-dama Rosario Murillo.

Na carta, publicada no site do Comitê para a Proteção dos Jornalistas (CPJ), os profissionais de comunicação expressaram “alarme frente à recente escalação das agressões contra meios de comunicação e jornalistas cobrindo protestos e documentando abusos aos direitos humanos por parte da polícia e grupos paramilitares”.

Os jornalistas condenaram as batidas policiais realizadas recentemente nas redações dos meios de imprensa independente Confidencial, em 13 de dezembro, e 100% Noticias, na noite de 21 de dezembro.

Eles também rechaçaram a prisão de Miguel Mora, proprietário e diretor do 100% Noticias, e da diretora de notícias Lucía Pineda. Os dois jornalistas permanecem detidos e incomunicáveis há mais de duas semanas, acusados de "fomentar e incitar o ódio e a violência" e de "provocação, proposição e conspiração para cometer atos terroristas".

Segundo a carta, o governo não apresentou qualquer evidência que suporte as acusações feitas contra os jornalistas. Mora e Pineda têm realizado “papel de destaque na cobertura crítica do governo Ortega nos últimos oito meses”, disse a carta. O canal 100% Noticias foi obrigado a sair do ar após a invasão policial e a prisão dos jornalistas.

Dias antes da prisão, a Comissão Interamericana de Direitos Humanos (CIDH) outorgou medidas cautelares para a proteção à vida e à integridade física de Mora e de Leticia Gaitán Hernández, por entender que os jornalistas se encontravam em situação de risco em virtude de ameaças, perseguição e assédio em decorrência de seu trabalho jornalístico.

Os ataques à imprensa da Nicarágua se tornaram mais intensos após a onda de protestos que tomou conta do país a partir de Abril de 2018 devido a uma reforma da previdência proposta pelo governo de Daniel Ortega.

Na ocasião, diversos canais de notícia relataram ter sido alvo de ataques e censurados com a interrupção de sinal durante a transmissão da cobertura de protestos.

Em apenas seis meses, foram registrados 420 casos de violação à liberdade de imprensa na Nicarágua entre Abril e Outubro de 2018, de acordo com relatório da Fundação Violeta Barrios de Chamorro (FVBCH).

Jornalistas de toda a América Latina assinaram a carta – alguns deles também enfrentando recentes ameaças. Outros foram alvos de ataques similares no passado ou se posicionaram contra recentes ataques a jornalistas.

Entre os signatários estão Alma Guillermoprieto, jornalista e escritora do México; Carlos Dada, diretor do El Faro, de El Salvador; Carmen Aristegui, jornalista mexicana; e Joseph Poliszuk, editor-chefe e co-fundador da Armando.info, na Venezuela.

“Exigimos a vocês que respeitem as garantias internacionais de liberdade de expressão e deixem de assediar a imprensa independente”, escreveram os jornalistas. “Uma mídia livre e independente é vital para o funcionamento de uma sociedade democrática saudável, na Nicarágua e por toda a América.”

*Nota da Editora: Rosental Alves, diretor do Centro Knight para o Jornalismo nas Américas, também assinou esta carta endereçada ao Presidente Ortega e à Vice-Presidente Murillo.

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