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Jornalistas LGBTQ+ contribuem com perspectiva interseccional sobre problemas ignorados, dizem painelistas em webinar

Os jornalistas colombianos Mariana Escobar Bernoske, jornalista de gênero e diversidade, e Felipe Morales Sierra, da seção judicial e do suplemento La Disidencia, ambos do jornal El Espectador, não só cobrem questões de diversidade sexual como também fazem parte da comunidade LGBTQ+ e representam a busca de inclusão em suas redações.

No dia 9 de fevereiro, os dois jornalistas participaram do webinar "Como incluir mais pessoas LGBTQ+ nas redações", o segundo de quatro webinars organizados pela recém-criada Red para la Diversidad en el Periodismo Latinoamericano (Rede pela Diversidade no Jornalismo Latino-Americano), que busca promover a diversidade nas redações latino-americanas, assim como nas notícias e nos conteúdos que elas produzem.

“Sei que minha orientação [sexual] é a razão pela qual estou exercendo o jornalismo dessa maneira. Isso ajuda muito a me aproximar das fontes e gerar esse sentimento de empatia e confiança, porque minhas fontes vão saber que, de certo modo, eu vou entender suas experiências de vida”, disse Bernoske.

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Mariana Escobar Bernoske, jornalista de gênero e diversidade de El Espectador, na Colômbia. (Foto: Arquivo pessoal)

Mas esse privilégio não a livra de ser alvo de comentários negativos, até mesmo na redação em que trabalha. “Muito recentemente tivemos uma experiência de pessoas da minha redação dizendo que o trabalho que estávamos fazendo era de inclusão forçada. Portanto, é como uma luta de dar dois passos para a frente e três para trás”, contou ela.

Para Sierra, a situação é completamente diferente. Como cobre questões judiciais, uma área que, no ponto de vista dele, tem sido masculinizada, ele enfrenta comentários machistas e homofóbicos que o fazem se sentir inseguro e violentado. “No meu ambiente de trabalho, referindo-me à redação onde trabalho, nunca senti que minha orientação sexual fosse um problema ou motivo de discriminação. Mas o contato com a fonte é outra coisa.”

Na América Latina faltam estudos ou relatórios sobre como são as redações em termos de diversidade sexual. O fato é que poucas redações na América Latina priorizam uma abordagem da notícia sob a perspectiva da diversidade ou dos direitos humanos.

Alguns das meios independentes que realizam trabalhos em prol da diversidade mencionados no webinar foram: Revista ColibríRed/Acción, da Argentina; MutanteManifiesta, da Colômbia; Muy Waso, da Bolívia; Memorias de Nómada, do México; entre outras.

Durante o webinar, também foi feito um chamado para que sejam implementadas práticas para que as redações se tornem espaços seguros e inclusivos para membros da comunidade LGBTQ+. Essas práticas incluiriam: aprendizado sobre questões de diversidade sexual, uso de fontes diversas, escolha de palavras certas sem cair na revitimização (principalmente no título de uma reportagem) e penalização de atos violentos e homofóbicos nas redações.

“Acho que o aprendizado deve visar a compreensão do respeito ao próximo como um princípio básico universal dos direitos humanos. Por outro lado, as redações precisam entender que é muito bom ter pessoas LGBTQ+ dentro delas porque essas pessoas dão uma visão totalmente diferente da realidade, que pessoas heterossexuais certamente não teriam”, explicou Sierra.

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Felipe Morales Sierra, da seção judicial e do suplemento La Disidencia de El Espectador, Colômbia. (Foto: Arquivo pessoal)

Ainda assim, Sierra e Bernoske concordam que é muito difícil que todas as redações da América Latina tenham uma seção especial que cubra questões de diversidade sexual, mas como jornalistas é preciso sempre tentar seguir uma abordagem de gênero. E esses jornalistas não precisam necessariamente fazer parte da comunidade LGBTQ+, pois, apesar de isso facilitar a investigação de determinados assuntos, o fato de fazer parte da comunidade não evita o preconceito.

“Se não nos identificamos como uma pessoa LGBTQ+, podemos assumir o papel de aliado dessa pessoa LGBTQ+ na redação. Muitas pessoas LGBTQ+ sentem que, no local de trabalho, precisam esconder quem são. E é sempre bom ter alguém que senta do seu lado e te escuta”, disse Sierra.

“Escute as pessoas LGBTQ+ na sua redação, vamos ouvi-las mais porque elas sempre vão ter um olhar interseccional sobre um problema que pode estar sendo ignorado. Uma pessoa LGBTQ+ pode iluminar um lugar que estava escuro antes de ela chegar."

Sobre os próximos eventos da Rede pela Diversidade no Jornalismo Latino-Americano

O próximo webinar organizado pela rede, com o apoio do Centro Knight para o Jornalismo nas Américas e da Google News Initiative, será "Racismo e discriminação na cobertura migratória e como enfrentá-los", no dia 23 de fevereiro, às 17h (CST). A jornalista mexicana Mariana Alvarado moderará o debate com Perla Trevizo, jornalista mexicana especializada em migração que escreve no ProPublica e no Texas Tribune, e Nadia Sanders, jornalista investigativa mexicana.

O quarto e útimo webinar, “Perspectivas de gênero e como realizar coberturas interseccionais”, está agendado para 9 de março às 17h (CST). María Teresa Juárez, roteirista e jornalista mexicana, moderará o debate com Aminetth Sánchez, jornalista investigativa e diretora de La Lista, e Alexa Castillo Nájera, jornalista e sexóloga.

Leia aqui um resumo do primeiro webinar, que abordou os mitos sobre a diversidade no jornalismo e debateu formas de superá-los.

As pessoas que participarem dos quatro webinars receberão um certificado de participação do Centro Knight para o Jornalismo nas Américas e da Rede pela Diversidade no Jornalismo Latino-Americano.

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