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Jornalistas mexicanos sofrem dos mesmos traumas de correspondentes de guerra, diz estudo científico

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  • 17 setembro, 2012

Por International News Safety Institute (INSI)

Ao tentar cobrir histórias relacionadas ao narcotráfico, jornalistas do México, país que não enfrenta nenhuma guerra atualmente, estão sofrendo níveis de estresse traumático semelhantes aos dos correspondentes de guerra, de acordo com um estudo científico.

A pesquisa foi realizada pelo Dr. Anthony Feinstein, professor de Psiquiatria da Universidade de Toronto, que há 10 anos também publicou o estudo mais confiável sobre trauma e estresse entre os repórteres de guerra.

Ele descobriu que 25% dos 104 jornalistas pesquisados ​​relataram ter parado de cobrir notícias sobre drogas por causa da intimidação - dirigida a eles ou a suas famílias - e apresentaram significativamente mais sintomas de estresse pós-traumático, depressão e disfunção psicológica geral que colegas.

México é um dos países mais perigosos do mundo para exercer o jornalismo, em grande parte graças às ameaças feitas por traficantes que tentam influenciar a notícia.  Os números do INSI mostram que o México foi o país com mais assassinatos de jornalistas - 11 no total - do ano passado e já ocupa a 5ª posição este ano, com sete mortes. Ele tem aparecido entre os seis países mais mortais nos últimos 15 anos.  A taxa de impunidade é alta e responsáveis por crimes contra jornalistas raramente são punidos.

O estudo de Feinstein, realizada com a ajuda de INSI, foi o primeiro do tipo sobre os efeitos do trauma sobre os jornalistas que cobrem seu próprio país em tempos de paz. Ele descobriu que mais de 70% dos jornalistas viviam em uma província onde havia violência relacionada às drogas. Quase metade deles conhecia um colega que tinha sido assassinado pelos cartéis da droga. Mais da metade dos que cobriram notícias relacionadas ao narcotráfico havia sido ameaçada. Um em cada 10 tinha um membro da família ameaçada.

Feinstein, cujo principal trabalho, "Vidas perigosas: A guerra e os homens e mulheres que a cobrem" (em tradução livre) expôs o trauma sofrido por muitos correspondentes de guerra, disse que o percentual de jornalistas mexicanos que apresentam sinais de sofrimento psicológico é semelhante ao dos repórteres de guerra.

Mas ele acrescentou: "Ao contrário do grupo de guerra, que entra e sai de zonas de perigo, a maioria dos jornalistas mexicanos aqui estudada trabalha e vive em áreas onde a violência extrema é endêmica. Não há trégua para o perigo ..."

A Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura (UNESCO), que financiou a pesquisa, disse que foram levantadas questões importantes sobre a liberdade de expressão e liberdade de imprensa no México.
"Se os jornalistas são intimidados demais para cobrir as notícias e se a sua tensão emocional é tanta que eles não podem mais continuar trabalhando em uma história, o fornecimento de informações para o público fica prejudicado ", afirmou.

"Estas conclusões psicológicas preocupantes devem servir de chamada para as organizações de notícias do México apoiarem os homens e mulheres que, em situação de risco considerável, contam as histórias de um conflito local com implicações regionais para todas as Américas."

>> Leia o estudo completo aqui

Este post foi originalmente publicado no site do International News Safety Institute (INSI).

Nota do editor: Essa história foi publicada originalmente no blog Jornalismo nas Américas do Centro Knight, o predecessor do LatAm Journalism Review.

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