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Jornalistas precisam aprender a usar ferramentas de segurança digital para enfrentar situações de risco, aponta relatório

A medida que os ataques cibernéticos contra jornalistas e organizações de notícias ficam mais comuns, também surgem mais cursos sobre segurança cibernética e guias para a proteção digital. Contudo, de acordo com uma pesquisa que analisou o tema, a maioria dos jornalistas não estão tomando as medidas necessárias para se protegerem.

“A necessidade de ferramentas de segurança que os jornalistas ao redor do mundo têm são muito amplas e diversas”, escreveu o jornalista mexicano Javier Garza Ramos. “Os jornalistas se tornaram mais vulneráveis não só durante uma missão em lugares perigosos, mas também em suas rotinas diárias, em casa, na sala de redação, ou na estrada, a medida que aumenta a vigilância digital”.

Garza, ex-bolsista Knight do Centro Internacional para Jornalistas e ex-diretor editorial de El Siglo de Torreón, é o autor de “A segurança do jornalista no mundo digital: uma pesquisa sobre se estamos utilizando as ferramentas adequadas” publicado recentemente em inglês pelo Center for International Media Assistance (CIMA) com o apoio do National Endowment for Democracy.

Com a ajuda de organizações internacionais, Garza perguntou a 154 jornalistas do mundo sobre seu uso de ferramentas de segurança digital. Trinta e três desses jornalistas eram da América Latina.

Os jornalistas estão encriptando suas chamadas telefônicas, correios eletrônicos ou sessões de chat? Fazem o mesmo com os arquivos que compartilham com outros jornalistas? Protegem seus computadores pessoais, tablets e celulares? Atualmente há inclusive aplicativos que ajudam o jornalista a garantir sua segurança física se recebe uma pauta perigosa ou informa regularmente a partir de uma zona de risco.

Os resultados da pesquisa de Garza mostraram que cerca de 60% dos 154 entrevistados não utiliza nenhum tipo de ferramenta digital para sua segurança física ou digital. Na América Latina, cerca de 73% dos correspondentes (24 de 33) disseram que não “utilizam regularmente ferramentas digitais para a segurança geral”, segundo o relatório da pesquisa.

“As diferenças regionais no uso refletem o nível de assimilação da tecnologia no jornalismo”, disse o relatório.

Também existem diferenças regionais em relação aos tipos de perigos que são enfrentados com mais frequência.

“Os jornalistas norte-americanos e europeus estão mais preocupados com a segurança digital e são mais conhecedores da tecnologia”, segundo o estudo. “Enquanto que os da América Latina, África, Ásia dão mais peso à segurança física, mas são mais vulneráveis aos ataques digitais porque não sabem sobre as ferramentas para lidar com a ameaça”.

Os jornalistas que utilizam ferramentas de segurança o estão fazendo mais frequentemente nas comunicações, incluindo incriptação de e-mails, chats e chamadas, além de documentos que armazenam e compartilham, disse Garza ao Centro Knight para o Jornalismo nas Américas.

Contudo, na pesquisa global “o número de pessoas que disseram que utilizam ao menos uma ferramenta [para a proteção de comunicações digitais] foi de 30%”, segundo o estudo. O percentual foi o mesmo para os jornalistas entrevistados que protegem de maneira rotineira os arquivos armazenados ou compartilhados. Ainda assim, segundo a pesquisa, aqueles que protegem suas comunicações também protegem seus arquivos.

“A pesquisa também revela que alguns jornalistas estão utilizando ferramentas que pensam ser seguras, mas na realidade não são (como o Dropbox e Google Drive que estão encriptadas), o que sugere que existe uma consciência da necessidade de segurança digital, mas pouca educação”, disse Garza.

Quando se trata da criptografia de dispositivos, incluindo computadores, tablets e smartphones, a pesquisa revelou que só 17% o fazem.

“Porém, parece que há um número crescente de convertidos à criptografia de dispositivos, depois que repórteres contaram histórias sobre como seus dispositivos foram analisados ou confiscados por guardas de fronteiras em postos de controle ou pela polícia e forças militares ou grupos criminosos em zonas de alto risco”, ressaltou o estudo .

Garza também perguntou aos jornalistas se utilizam ferramentas digitais para sua segurança pessoal, especialmente para rastrear sua localização geográfica, enquanto se encontram em uma tarefa de risco. “Só 15 jornalistas disseram que regularmente utilizam ferramentas digitais para estabelecer sua localização” e nem todos sabiam sobre os aplicativos especiais desenhados para este propósito, segundo o estudo. Além disso, só sete jornalistas disseram que realizam avaliações de risco antes de sair para uma cobertura e cerca de 44% disseram que consultam guias online de segurança específicos para jornalistas.

O informe também encontrou que 45% dos entrevistados estiveram em alguma situação na qual alguma ferramenta poderia ter ajudado, e em aproximadamente metade dos casos, a ferramenta existia.

No relatório, Garza apontou várias ferramentas digitais para segurança digital que os periodistas entrevistados mencionaram. Dado que a segurança digital é um campo em rápida evolução, novas ferramentas são descobertas e usadas regularmente. Algumas ainda estão sendo desenvolvidas ou atualizadas para abordar as preocupações sobre segurança.

O estudo reconhece que os entrevistados “não podem ser considerados como uma amostra representativa”, agrega que “o fato de haver repórteres e editores ao redor do mundo vinculados a redes formadas por organizações internacionais sugere que eles têm um maior nível de envolvimento em questões que afetam a segurança dos jornalistas”.

Quando perguntado sobre se os ataques cibernéticos ou digitais estariam acontecendo com mais frequência ou se os jornalistas estavam mais conscientes de que eles estavam ocorrendo, Garza disse que acredita ser ambas as coisas.

“Creio que está acontecendo mais porque a tecnologia está cada vez mais e mais disponível e é cada vez mais fácil de usar”, disse Garza. “Também está acontecendo mais porque mais jornalistas têm atividades digitais que há cinco anos, por exemplo. Também creio que estamos mais conscientes disso”.

E acrescentou: “há uma grande quantidade de jornalistas que não tem ideia que estão sendo atacados digitalmente. Não sabem que alguém está lendo seus emails ou talvez suspeitem, mas não podem saber com segurança porque não têm as ferramentas ou o treinamento adequado, o que realmente não é tão difícil”.

Contudo, Garza disse que a repetição dos ataques está fazendo com que os jornalistas sejam mais conscientes de seus riscos e mais proativos na busca de formação e de maneras de se defender das ameaças.

Garza anteriormente supervisionou o site Periodistas en Riesgo, que monitora a violência contra jornalistas no México. Agora trabalha para a Associação Mundial de Jornais em um programa de desenvolvimento de meios e liberdade de imprensa na América Latina, segundo o estudo da CIMA.

Nota do editor: Essa história foi publicada originalmente no blog de jornalismo nas Américas do Centro Knight, o predecessor do LatAm Journalism Review.

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