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Mais jornalistas latino-americanos estão usando ferramentas de fact-checking e análise de dados, aponta pesquisa do ICFJ

O uso de ferramentas digitais de fact-checking e verificação de informações praticamente dobrou entre jornalistas da América Latina e do Caribe nos últimos dois anos, conforme apontam dados inéditos de uma pesquisa do Centro Internacional para Jornalistas (ICFJ, na sigla em inglês) obtidos pelo Centro Knight.

Os resultados da pesquisa global foram divulgados no dia 15 de outubro no documento “2019 State of Technology in Global Newsrooms” (“O Estado da Tecnologia em Redações Globais 2019”, em tradução livre), que atualiza e expande a pesquisa realizada pelo ICFJ pela primeira vez em 2017. O ICFJ forneceu ao Centro Knight dados específicos sobre América Latina e Caribe que não estão nos relatórios e que apontam tendências regionais do uso de tecnologias digitais nas redações.

Em 2017, 51% dos jornalistas de todo o mundo que participaram da pesquisa disseram usar ferramentas digitais de fact-checking e verificação de informações, enquanto apenas 26% dos jornalistas latino-americanos disseram o mesmo. Já em 2019, 51% dos latino-americanos disseram usar essas ferramentas, quase o dobro do reportado há dois anos. Ao redor do mundo, o aumento foi mais tímido, com 56% dos jornalistas dizendo usar ferramentas digitais de verificação como sites e plataformas de fact-checking, ferramentas para detectar plágio e busca reversa de imagens, entre outras.

Os números registrados pela pesquisa do ICFJ aludem à preocupação de jornalistas latino-americanos com a disseminação de desinformação e a necessidade de enfrentar esse desafio. Também ajudam a quantificar o impacto da profusão de iniciativas de fact-checking na região nos últimos dois anos, como os projetos Verificado, no México; Comprova, no Brasil; Verificado.uy, no Uruguai; Reverso, na Argentina; RedCheq, na Colômbia; e Bolivia Verifica.

A análise e o uso de dados para criar reportagens na América Latina e no Caribe também tiveram um aumento considerável no período, acompanhando tendência global: 33% dos jornalistas latino-americanos disseram usar dados para criar suas histórias em 2017, enquanto em 2019 essa proporção passou a 56%. Considerando jornalistas de todo o mundo, esta cifra passou de 36% a 61%.

Quase um terço dos jornalistas latino-americanos e caribenhos disseram que analisam e usam dados para orientar suas histórias diariamente (32%), e 56% deles disseram fazer o mesmo pelo menos uma vez por semana. Já 31% disseram criar visualizações e infográficos e 25% disseram fazer análises estatísticas semanalmente, enquanto 10% disseram fazer o primeiro e 11% o segundo todos os dias.

Apesar desse aumento no uso de habilidades digitais, a América Latina é a região do mundo em que jornalistas menos recebem capacitação das redações em que trabalham. Dos respondentes latino-americanos e caribenhos, 32% disseram ter recebido treinamento em habilidades técnicas, 32% em redes sociais e 24% em jornalismo de dados. Jornalistas do Leste/Sudeste Asiático foram os que mais reportaram ter recebido treinamento em cada uma destas habilidades: 66% na primeira, 65% na segunda e 48% na terceira.

Diversificação de fontes de receita é principal desafio

Entre os respondentes latino-americanos e caribenhos da pesquisa do ICFJ, 35% disseram trabalhar em redações de meios digitais, 19% em redações de meios tradicionais (publicações impressas, televisão e rádio) e 48% em redações híbridas, que combinam os formatos digital e tradicional.

A fonte de receita mais mencionada entre os respondentes da região foi a publicidade online (45%), seguida por conteúdo patrocinado (44%), assinaturas/clubes de membros online (33%), publicidade tradicional (32%) e contribuições/doações filantrópicas (24%).

A diversificação das fontes de receita dos meios jornalísticos foi o item mais citado como “enorme desafio” pelos participantes latino-americanos e caribenhos (75%) da pesquisa, que demonstraram preocupação um pouco acima da média global (73%). Em seguida, foram apontados como “enormes desafios” na região a introdução de inteligência artificial nas redações (68%), o desenvolvimento de novos formatos e experiências para as narrativas (59%), a incorporação de realidade virtual em produtos jornalísticos (57%) e a atração de anunciantes (56%).

Redações latino-americanas perto da paridade de gênero

As mulheres foram 40% dos jornalistas e 33% dos gerentes de redação que responderam à pesquisa global da ICFJ em 2019 -- proporção similar à registrada em 2017. A região de América Latina e Caribe é uma das mais próximas à paridade de gênero, com 49% de mulheres e 51% de homens tanto entre os jornalistas quanto entre os gerentes de redações que responderam à pesquisa.

As latino-americanas só são menos numerosas em suas redações do que as norte-americanas (56%) e europeias (51%). Sul da Ásia (26%) e Oriente Médio/África do Norte (29%) foram as regiões com menor proporção de mulheres entre os respondentes.

A pesquisa do ICFJ foi realizada entre 28 de fevereiro e 6 de maio de 2019 por meio de questionário online em 14 idiomas. Participaram 4.111 pessoas de 149 países -- 3.060 delas eram jornalistas e 1.051 eram gerentes de redações.

Participantes da América Latina e do Caribe formaram a maior parte dos respondentes da pesquisa -- 22%. Depois deles vieram respondentes de Oriente Médio/África do Norte (17%), África Subsaariana (17%), Sudeste/Leste Asiático (15%), Sul da Ásia (11%), Eurásia/Ex-URSS (7%), Europa (5%), e América do Norte (4%).

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