texas-moody

Meios latino-americanos usam YouTube Shorts para aumentar visualizações, monetizar e alcançar novos públicos

Há alguns anos, gravar um vídeo na vertical era impensável para os puristas do audiovisual. No entanto, hoje, todas as principais redes sociais, como Instagram, Facebook, Snapchat, Twitter, Tiktok e YouTube, têm um espaço específico para vídeos verticais, o formato feito para dispositivos móveis.

Os principais meios digitais da América Latina não ficaram para trás. Meios de comunicação como El Universal e Excélsior no México, Metrópoles no Brasil, La Nación na Argentina e El Tiempo na Colômbia, que têm milhões de assinantes no YouTube, publicam vários vídeos curtos por dia com milhares de visualizações.

Em setembro de 2020, o YouTube lançou o YouTube Shorts, vídeos verticais com duração máxima de um minuto. Esse espaço surgiu como uma contrapartida aos cada vez mais populares TikTok ou reels do Instagram.

"O YouTube Shorts permite que os usuários se conectem com novos públicos com apenas um smartphone e a câmera Shorts no aplicativo", explicou a plataforma no lançamento. "Estamos sempre testando novas maneiras de levar conteúdo aos usuários", acrescentaram.

O La Nación, da Argentina, tem 2,5 milhões de assinantes em seu canal do YouTube e publica em média 40 YouTube Shorts por dia. Alguns desses vídeos curtos ultrapassam um milhão de visualizações. O curta mais popular do La Nación no YouTube é a filmagem de um reencontro emocionante entre um soldado ucraniano e sua avó, com 36 milhões de visualizações.

screenshot Youtube channel

La Nación (Argentina) tem 2,5 milhões de assinantes em seu canal do YouTube e publica cerca de 40 YouTube Shorts diários. (Foto: Captura de tela)

"Começamos a postar vídeos curtos no YouTube há um ano e meio, com foco especial no último ano, e isso significou para nós uma quantidade significativa de visualizações. Os curtas agora representam um terço do nosso total de visualizações", disse Matías Boela, coordenador de estratégia audiovisual digital do La Nación, à LatAm Journalism Review (LJR).

Meios menores e independentes também aderiram à onda do YouTube Shorts. La Encerrona, do Peru, El Pitazo, da Venezuelae 14ymedio, de Cubase aventuraram nesse espaço para se conectar com o público.

Monetização e assinaturas

Os YouTube Shorts, de acordo com dados compartilhados pela plataforma, atraem mais de 30 bilhões de visualizações por dia.

"Em geral, os Shorts têm mais alcance e mais visualizações do que os vídeos tradicionais. Eles também estão monetizando muito bem", disse Javier Melero, diretor de audiovisuais do El Pitazo, na Venezuela, à LJR.

Assim como os vídeos horizontais do YouTube, os canais também podem monetizar seus YouTube Shorts. Para isso, o canal deve ter pelo menos 1mil assinantes com 4 mil horas de visualizações públicas válidas no último ano ou mil assinantes com 10 milhões de visualizações públicas de Shorts nos últimos 90 dias.

Os ganhos com esses vídeos dependem do número de visualizações. De acordo com o YouTube, os criadores ganham 45% de toda a receita de publicidade, mas o quanto eles ganham depende da localização geográfica e do uso de música de fundo. O YouTube divide a receita entre os criadores e os custos de licenciamento de música.

El Pitazo começou a publicar YouTube Shorts há apenas um ano e seus vídeos alcançam milhares de visualizações. O YouTube Short com o maior número de visualizações, publicado até agora em seu canal, é uma explicação sobre os auxílios sociais concedidos pelo governo de Nicolás Maduro. Tem mais de 100 mil visualizações.

Esse meio independente venezuelano sofreu vários bloqueios em seu site, então, por meio do YouTube, conseguiu uma janela para se conectar com seu público.

No entanto, em 2021, eles sofreram um bloqueio de sua conta pelo YouTube por violar as regras de publicação de conteúdo. El Pitazo disse que o conteúdo em questão era relevante do ponto de vista jornalístico.

"As políticas de conteúdo devem ter uma aplicação diferente no caso de notícias, porque às vezes é preciso reportar informações sobre violência ou abuso", disse Melero.

Melero disse que o bloqueio durou pouco mais de um mês e afetou o crescimento do El Pitazo na plataforma.

"Podemos permitir o tipo de conteúdo violento ou gráfico em alguns casos em conteúdo educacional, documental, científico ou artístico, mas esse contexto deve aparecer nas imagens ou no áudio do próprio vídeo. Não é suficiente que apareça no título ou na descrição", disse à LJR a porta-voz do YouTube, Fabi Fróes.

Apesar do sucesso com a monetização, a equipe do El Pitazo não vê o mesmo resultado com o número de assinaturas.

"Ainda é muito cedo para saber se os Shorts são a melhor opção para ganhar assinantes. O que continua a funcionar melhor para nós são as séries, ou seja, conteúdo serializado que as pessoas sabem que assistirão novamente e assinarão para não perder o próximo capítulo", explicou Melero.

No caso do meio digital La Encerrona, do Peru, o YouTube é a principal plataforma para divulgar o noticiários que eles produzem. Eles começaram a criar vídeos verticais logo após o lançamento do YouTube Shorts e foram bem-sucedidos em termos de visualizações e crescimento de assinantes. Seus vídeos curtos começaram a se tornar tão populares que acabaram diminuindo as visualizações de seus vídeos horizontais.

Um de seus Shorts mais vistos é o primeiro que lançaram, um trailer do noticiário. Ele tem 184 mil visualizações.

"Com os YouTube Shorts, tivemos até a sensação de que, de certa forma, estávamos competindo contra nós mesmos. Ou seja, que os Shorts estavam competindo com o programa ‘normal’ e isso nos levou a dar uma pausa [nos Shorts]. Se você notar, temos publicado muito poucos", disse Marco Sifuentes, diretor do La Encerrona, à LJR .

Reciclagem de vídeos

Em La Encerrona, não há distinção entre vídeos curtos para YouTube, Instagram ou TikTok, sendo que os dois últimos são o foco atual. O material é reutilizado nas diferentes plataformas e, ao fazer isso, eles rompem com a tendência que recomenda a criação de conteúdo diferente para cada plataforma.

E esse é o estilo de La Encerrona. Os noticiários curtos, de 15 a 20 minutos, que eles publicam de segunda a sexta-feira, também são enviados sem alterações para todas as suas plataformas de distribuição: YouTube, WhatsApp, Facebook, Telegram, Spotify. A única mudança é que, em alguns casos, o formato é de vídeo e, em outros, apenas de áudio.

"O que fizemos, na verdade, foi uma reengenharia do segundo bloco do programa, que são as manchetes. Readaptamos essas manchetes para que possam ser cortadas e convertidas em vários Shorts, reels ou TikToks", disse Sifuentes.

El Pitazo também recicla material. A maioria de seus YouTube Shorts são fragmentos de seus vídeos mais longos.

"Por exemplo, uma entrevista que é publicada na íntegra nas redes é transformada em um Short porque é um bom clipe de vídeo", disse Melero.

Para o La Nación, há uma combinação de reciclagem de vídeo e produção própria para a plataforma.

"Em termos de produção e distribuição, os YouTube Shorts no La Nación são considerados como mais um canal. O YouTube não é mais apenas o vídeo horizontal tradicional", disse Boela.

"Esse formato tem sido fundamental porque também nos permitiu encontrar novos públicos. As pessoas que assistem aos curtas têm uma idade média mais baixa do que as que assistem ao restante dos vídeos, portanto, os YouTube Shorts não só nos permitiram crescer, mas também criar e alcançar novos públicos".

 

Traduzido por Carolina de Assis
Regras para republicação

Artigos Recentes