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No México, violência contra jornalistas cresce e noticiário de violência desaparece

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  • 23 outubro, 2013

Por Rodrigo Gomes*

As denúncias de casos de agressão contra jornalistas no México chegaram a 225, entre janeiro e setembro deste ano. Dentre estes casos, dois profissionais morreram. Outros 33 deixaram o país sob ameaça. Além da violência do crime organizado, cujo principal braço é o narcotráfico que assumiu o controle de regiões inteiras do país, existe uma grave situação de censura institucional no país.

Outros casos foram o sequestro coletivo de uma equipe de jornalistas, incêndio de carros de reportagem e até uma granada lançada contra a sede de um periódico. A situação foi relatada por Ignácio Rodríguez Reyna, do Emeequis (México), em palestra sobre Investigações do Crime Organizado na Conferência Global de Jornalismo Investigativo. Além dele participaram os jornalistas Juan Luis Font (Guatemala), Romina Mella, do IDL Reporteros (Peru), e Martha Soto, do El Tiempo (Colômbia).

Na esfera institucional, as notícias sobre o narcotráfico e a onda de violência no país que tomaram as manchetes de jornais no mundo todo há cerca de seis meses, simplesmente desapareceram. O motivo é o controle editorial exercido pelo Ministério do Interior mexicano (responsável pela segurança pública), que não permite a divulgação de notícias sobre narcotráfico, assassinatos ou violência.

Segundo Reyna, está havendo um duplo movimento de censura no país. O primeiro é uma ação de autoproteção dos veículos, que afirmam não haver condições de segurança para tratar de temas como narcotráfico e violência. “No estado de Tamaulipas, os 56 periódicos existentes praticamente não falam de violência, porque não podem garantir a segurança de seus repórteres”, explica.

O segundo movimento é uma ação institucional. “Desde a eleição de Enrique Peña Nieto (PRI), o Ministério do Interior vem atuando no controle das notícias sobre violência. O sumiço da pauta da violência independe de o veículo ser considerado tradicional ou de esquerda”, explica Reyna. Além disso, “o Estado mexicano tem negociado com os narcotraficantes visando à redução de índices de violência oficiais”, conta Reyna. No entanto, entre janeiro e junho deste ano, houve 5.989 assassinatos no país.

Para o jornalista, a retomada da ação do exército mexicano reestruturou uma ordem harmoniosa no país. “Com isso se garantiu certo controle da situação, garantindo os benefícios dos narcotraficantes, de políticos, empresários e outros ligados ao crime organizado”, afirma.

Os demais participantes da mesa contaram sobre sua atuação para esclarecer as relações entre os narcotraficantes e as diferentes esferas de poder do país: empresários, militares e políticos.

Martha Soto expôs uma reportagem, ainda em construção, sobre como o crime organizado se embrenhou dentro da estrutura de poder do país. “Eles descobriram a importância de se ligar à política, ao empresariado. Não simplesmente para se esconder, mas para permanecer e garantir seus interesses”, conta.

Adiantando alguns dados da reportagem, Martha explica que descobriu uma dinastia nos cartéis, em que, há 25 anos, avôs, pais, filhos e netos se embrenham nos meios políticos para manter seu poder. “Sabemos de financiamentos de campanhas políticas, inclusive de um presidente”. Porém ela acredita que há uma inversão na relação de quem sustenta quem. Não são os cartéis que financiam políticos para permanecer. “São os políticos que patrocinam e defendem o crime organizado para garantir a sua permanência no poder”, defende.

Ela diz que um de seus principais trabalhos é sobre pessoas que atuaram nas fileiras dos cartéis e hoje levam a vida como se fossem apenas empresários de sucesso, homens de negócios, com novos nomes e novos passados.

Juan Luis Font falou sobre a investigação de um militar envolvido no assassinato do bispo Juan Jose Gerardi. Segundo o repórter, o militar manda no presídio para onde foi levado, após sua condenação a 25 anos de prisão. “Ele sai escoltado por carros oficiais, escolhe o diretor do presídio. Acreditamos que está fazendo uma plástica, por que sempre vai a ambulatórios clandestinos”, afirma.

“Os poderes paralelos estão em toda estrutura política do país e comprometem o funcionamento do Estado. A imprensa tem um papel fundamental na desconstrução desse poder, que invisível para a maior parte do povo”, complementa.

Rominia Mella comentou uma reportagem em que traça um perfil do narcotráfico no Peru, expondo seu sistema de funcionamento, produção, exportação e faturamento. “A partir de um extenso trabalho de apuração, contando com informações de inteligência da polícia, fontes militares, população e até de traficantes e militantes do Sendero Luminoso (grupo guerrilheiro peruano)”, explica.

A reportagem rendeu um extenso e detalhado mapa das operações do narcotráfico no país, com seus principais pontos de ações, conexões e infraestrutura. “Mas ainda falta muita coisa. Como nos outros países, é preciso decifrar a complexa máquina de relações entre o poder paralelo, o poder empresarial e o poder político”, conclui.

*Rodrigo Gomes é estudante de jornalismo do 4º ano na universidade Anhembi Morumbi.

Esta matéria foi publicada originalmente no site oficial da Conferência Global de Jornalismo Investigativo.

Nota do editor: Essa história foi publicada originalmente no blog de jornalismo nas Américas do Centro Knight, o predecessor do LatAm Journalism Review.