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Pesquisa mostra que cobertura dos protestos no Brasil deu ênfase ao conflito, não às reivindicações

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  • 22 setembro, 2014

Por Rachel Reis Mourao

A cobertura dos protestos no Brasil em junho de 2013 feita pela grande mídia, tanto em websites quanto no Twitter, deu destaque aos protestos e atos de vandalismo em vez de apresentar as demandas feitas pelos manifestantes, de acordo com uma pesquisadora da Universidade do Texas. Os resultados, que lançam luz sobre o papel da mídia na representação dos protestos, foram apresentados na Association for Education in Journalism and Mass Communication Conference de 2014 em Montreal, no Canadá.

O trabalho revela que os veículos nacionais focaram nos aspectos violentos dos protestos, incluindo vandalismo e brutalidade policial. Jornalistas deram pouco espaço para as reivindicações dos manifestantes, especialmente no início do que viria a ser mais de um mês de mobilizações.

Este tipo de cobertura é conhecido como “paradigma de protesto”, e acaba por prejudicar o movimento social a longo prazo. Embora os manifestantes precisem de cobertura da mídia para atingir potenciais apoiadores, a ênfase na violência e no comportamento desviante pode ter o efeito de colocar a opinião pública contra o movimento social.

No caso dos protestos brasileiros que eclodiram em todo o país em junho do ano passado, a cobertura começou a seguir o “paradigma” durante as primeiras semanas do movimento, mas foi adotando cada vez mais um discurso legitimador conforme as exigências iam se tornando mais generalizadas e apoiadas pelo público. Este tipo de comportamento da mídia não é incomum no Brasil, e também foi observado durante as "Diretas Já!" e o "Fora Collor!", grandes protestos que exigiam eleições diretas e o impeachment do então presidente Collor, respectivamente.

Enquanto isso, o público mais amplo postou nas mídias sociais conteúdo mais favorável aos protestos, incluindo tweets de apoio às demandas do Movimento Passe Livre, um movimento formado em oposição a uma proposta de aumento da tarifa de ônibus. Blogs foram usados ​​para promover certos “enfoques” – formas de enquadrar um problema (veja abaixo) – que legitimaram protestos, bem como mensagens que serviram de “chamado às armas”. Esta divergência é particularmente importante, pois mostra que os meios de comunicação e o público estavam em desacordo em seus pontos de vista e interpretação dos movimentos sociais no país.

O estudo também rastreou o uso de hashtags genéricas e relativas a questões específicas durante a mobilização. Os resultados revelam que a cobertura positiva da mídia e o apoio do público seguiram o uso de hashtags mais genéricas, como #Nãoépor20centavoréporDireitos, #NãoéPor20Centavos, #BrasilLivre, e #OGiganteAcordou.

Hashtags específicas, referindo-se ao problema do transporte público (#PasseLivre), foram usadas de uma forma menos frequente, mas consistente durante o mês de junho. Por outro lado, o uso de hashtags genéricas aumentou após as manifestações massivas em 17 de junho de 2013.

A pesquisa foi feita pelo Twitter Research Group da Universidade do Texas em Austin. Usando análise computorizada de um banco de dados extraídos de tweets, blogs e sites de notícias, publicados a todo vapor durante os protestos, foi possível verificar grandes quantidades de conteúdo ao longo do tempo. Apenas para este projeto, foram coletados mais de 50 mil artigos e 4 milhões de tweets em junho de 2013.

Nota do editor: Essa história foi publicada originalmente no blog de jornalismo nas Américas do Centro Knight, o predecessor do LatAm Journalism Review.

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