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Repórteres chilenos lançam rede de jornalistas investigativos em meio a protestos contra a "Lei da Mordaça"

[Nota do editor: Esta história foi atualizada para incluir notícias sobre o estado da "lei da mordaça " proposta no Congresso.]

Após vários anos de esforços para criar um espaço comum de discussão e cooperação, e para melhorar as ferramentas para um jornalismo de alta qualidade - como a gestão de bases de dados e o uso de fontes públicas de informação -, foi lançada oficialmente no dia 3 de maio a Rede de Jornalistas do Chile. A iniciativa foi inaugurada em um evento chamado Sem Mordaça.

A presidente do conselho da rede, a jornalista chilena Paulette Desormeaux, disse ao Puro Periodismo que o que eles querem é convocar todos os colegas do país a fazerem parte deste grupo de jornalistas investigativos, para trocar experiências práticas e problemas enfrentados na profissão.

Claudia Urquieta, jornalista do jornal digital chileno El Mostrador e membro da rede, disse ao Centro Knight para o Jornalismo nas Américas que outra razão para a criação da ferramenta é a dificuldade de acesso à informações de importância pública que tem afetado os meios de comunicação chilenos nos últimos anos.

"Neste cenário, consideramos essencial, por um lado, ter ferramentas jornalísticas a altura dos novos tempos, para se fazer mais e melhor jornalismo. Por outro lado, é preciso melhorar o trabalho em conjunto para impedir a tentativa de deter nosso trabalho ", acrescentou a jornalista.

Urquieta, que também integra o comitê de ética da rede, disse que a atual conjuntura política do seu país - referindo-se aos casos de fraude tributária e pagamentos milionários ilícitos que várias empresas chilenas, como o Grupo Penta e Aguas Andinas, fizeram a empresários e políticos para financiar campanhas políticas que envolveriam até o ex-presidente Sebastián Piñera - "desencadeou alarmes em diferentes níveis", impulsionando leis que buscam obstruir o trabalho dos jornalistas.

Uma das leis referidas por Urquieta é a controversa "lei da mordaça ", que propôs pena de prisão a publicações que fizessem referência a informação confidencial de qualquer investigação criminal em curso. Esta lei proposta pelo Executivo, a pedido do Ministério Público foi aprovada pelo Senado do Chile, em 5 de abril. No entanto, dias mais tarde foi rejeitada pela Câmara dos Representantes, e pela comissão mista do Congresso em 9 de maio, informou  o La Tercera.

A este respeito, de acordo com a publicação do El Mostrador e La Tercera, o político chileno Alberto Espina disse que era uma regra "muito contraditória", e que a forma como estava sendo interpretada poderia punir "mesmo a mídia".

“Por isso, esta rede, que deu seus primeiros passos no final de 2012, adquiri agora um sentido muito mais poderoso e necessário", disse Urquieta.

A ideia de criar uma rede de jornalistas do Chile foi reforçada quando sete jornalistas do país especializados em jornalismo investigativo se reuniram novamente com o jornalista brasileiro Rosental Alves, diretor e fundador do Centro Knight, em dezembro de 2012, em Santiago. Alves os incentivou novamente, como havia feito anos antes, a se organizarem com a finalidade de gerar espaços livres para propiciar a formação e o intercâmbio sobre a prática do jornalismo.

"O Centro Knight começou a colaborar, cerca de sete anos atrás, com um grupo de excelentes jornalistas investigativos chilenos que estavam interessados ​​na criação de uma associação similar à de repórteres de outros países. Por isso, vemos com grande satisfação que o sonho acaba de se tornar realidade", disse o diretor do Centro Knight.

Em 2008, o Centro Knight realizou um seminário internacional de jornalismo investigativo no Chile, na esperança de motivar os jornalistas do país a se organizarem como havia acontecido em outros lugares. "Aquele seminário foi um sucesso, mas a organização de jornalistas não saiu [naquele ano]", disse Alves.

primeiro evento formalmente pela Rede ocorreu em julho de 2013, antes de se tornar uma associação. Eles organizaram o Seminário Internacional de Técnicas de Jornalismo Investigativo, com apoio da Universidade Católica do Chile e do Centro Knight.

"Foi uma honra para o Centro Knight poder dar uma mão na realização deste seminário internacional sobre jornalismo investigativo, que marcou o lançamento da organização de jornalistas chilenos interessados em melhorar os padrões de qualidade do jornalismo em seu país", disse Alves ao Centro Knight na época.

Já formalmente registrada nos registros legais como associação privada sem fins lucrativos, a primeira assembleia geral da rede ocorreu em maio deste ano na Universidade do Chile, em que se ratificou o diretório e os 34 membros fundadores.

Os cinco jornalistas que compõem a diretoria da associação são: Paulette Desormeaux, presidente da rede, professora da Universidade Católica e diretora jornalística da Base Pública; Juan Pablo Figueroa, jornalista do programa Contato do Canal 13; Jennifer Abate, acadêmica da escola de jornalismo da Universidade do Chile; Francisca Miranda, repórter do La Tercera; e Josefina Eckholt, jornalista da Mega.

Os membros do comité de ética da rede são: Carola Fuentes, diretora do La Ventana Cine, que preside o comitê; Pedro Ramirez, editor de CIPER; e Claudia Urquieta, jornalista do El Mostrador.

Como primeira tarefa, a rede criou várias comissões para impulsionar a formação para a segunda metade do ano, e estabeleceu diversas comissões para ajudar a longo prazo "o ajuste de desempenho", confirmou Urquieta ao Centro Knight.

Como a rede no Chile, existem em outros países latino-americanos associações de jornalistas investigativos com objetivos comuns, tais como o Fórum de Jornalismo Argentino (Fopea) Conselho de Redação da Colômbia, e a Associação Brasileira de Jornalistas Investigativos (Abraji).

Nota do editor: Essa história foi publicada originalmente no blog de jornalismo nas Américas do Centro Knight, o predecessor do LatAm Journalism Review.

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