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Site criado por jornalista brasileira reconta notícias em formato de animação para crianças

Não é novidade ver crianças engajadas em games e aplicativos em rede. Enquanto as organizações de notícias buscam se recuperar das perdas sentidas pelos meios impressos, a audiência do futuro apreende informações em meios digitais. Contudo, faltam veículos voltados a transformar notícias complicadas em conteúdo acessível a esse público.

Partindo deste diagnóstico, a jornalista Simone Ronzani criou o Recontando, um site que adapta as matérias de maior repercussão nas redes sociais em animações didáticas para crianças.

O site foi ao ar no último dia 30 de março e já dá sinais de sucesso entre crianças, pais e educadores. A jornalista conversou com o Centro Knight para o Jornalismo nas Américas para explicar o projeto.

Knight Center: Como foi o seu começo na carreira jornalística?

Desde o 4º período da faculdade eu estagiei, quase sempre em impresso. No mesmo ano em que me formei, em 2004, tive meu filho. E aí dei um tempo no jornalismo, pois as posições para recém-formados pagavam muito mal, e fui trabalhar em uma multinacional inglesa como recepcionista bilíngue. Eu consegui voltar ao mercado jornalístico pelo Jornal do Brasil. De lá passei para o Jornal Fluminense como repórter. Depois eu fui para uma assessoria, com uma proposta melhor de salário, para trabalhar com política. Ainda coordenei a secretaria de comunicação do Governo do Estado. Paralelamente, estava finalizando minha pós-graduação em gestão do entretenimento, pois eu já sabia que queria seguir outros caminhos que não o da política.

KC: E o que te levou a criar o Recontando?

O Recontando foi o meu projeto final da pós. Eu tinha que fazer uma pesquisa de mercado, de uma empresa fictícia ou real, então resolvi fazer sobre o portal. Vi que não tinha nenhuma iniciativa parecida e isso seria algo inédito. Percebi que havia essa necessidade, fiz um estudo paralelo de linguagem para pensar como fazer jornalismo para crianças e cheguei ao formato do desenho animado, com alguns recursos de storytelling, comparação e metáfora.

KC: Qual foi o maior desafio ao pensar um portal de notícias voltado para crianças?

O maior desafio é apostar em uma coisa que ainda não existe. É ter convicção no estudo que eu fiz e em tudo que eu acredito que seja importante comunicar às crianças de forma clara, sem ser tendencioso, sem ultrapassar os limites do alcance da própria criança. A importância de formá-los mais críticos, atentos ao que está acontecendo, de forma adequada.

KC: Quantas pessoas trabalham na redação do Recontando?

Temos uma equipe de dois outros jornalistas, além de mim, um ilustrador e animador fixo e um segundo freelance. Estamos com um terceiro em fase de testes.

KC: E o processo de construção das histórias, como funciona?

Além da equipe de profissionais, temos uma equipe de quatro colaboradores mirins - um deles é o meu filho. Os profissionais apontam as pautas, escrevem os textos, levamos para os animadores e depois submetemos os resultados às crianças. Nesse momento, a troca é muito rica. Só vai ao ar depois deles verem e aprovarem o conteúdo, o que indica que eles entenderam. Houve um episódio que eles não entenderam, que explicava as dificuldades enfrentadas por atletas em altas altitudes. Então refizemos o vídeo antes de colocar no ar.

KC: Já é possível sentir a reação do público?

Tivemos cerca de 70 mil acessos em pouco mais de um mês. Estamos desenvolvendo um projeto transmídia em escolas, então além da exibição dos episódios, fazemos oficinas de recontação com brincadeiras relacionadas ao episódio. O que eu percebo é que as crianças têm uma apreensão do conteúdo exibido muito grande. Além da vivência prática, temos o retorno de pais, educadores e crianças pelo site e pelo Facebook, e a partir disso conseguimos ter uma noção da aceitação do nosso conteúdo.

KC: A que você atribui essa aceitação?

A necessidade identificada na pós-graduação se confirmou, e o formato que escolhemos está se mostrando adequado a transmitir conteúdo para crianças. Hoje em dia, até para os adultos, a rapidez das informações requer uma linguagem que facilite a apreensão. Essa linguagem audiovisual animada mobiliza a memória visual. Especialmente para crianças, cujo repertório verbal e cognitivo ainda é limitado. Pela minha experiência, a animação vai ganhar cada vez mais espaço, inclusive na grande mídia, principalmente para explicar assuntos mais complicados para o grande público.

KC: Então o jornalismo vai precisar se adaptar a esse público?

A geração Z está intimamente ligada a toda essa mudança vivida pelas empresas de comunicação. Eu fui moderadora em um debate que avaliou os resultados da pesquisa Teen Kids Online, realizada pela primeira vez no Brasil. Ela é um estudo detalhado do comportamento das crianças e dos adolescentes em relação à web. Quais são os desafios e as oportunidades? Eles não são offline e online, são só online. Então precisaremos adaptar o jornalismo, assim como a escola e outras instituições, para conseguir falar a essa geração.

KC: Como o site se sustenta?

Estamos finalizando um projeto de conteúdo transmídia para trabalhar com escolas, onde receberemos pelo conteúdo e pelas oficinas de recontação de histórias. Além disso, temos a intenção de ampliar os espaços publicitários no site e de vender conteúdo para canais de TV a cabo.

 

 

Nota do editor: Essa história foi publicada originalmente no blog de jornalismo nas Américas do Centro Knight, o predecessor do LatAm Journalism Review.

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