Por Yenibel Ruiz
Jineth Bedoya Lima, jornalista colombiana que no dia 25 de maio de 2000 foi vítima de sequestro, tortura e violência sexual por um grupo de paramilitares em represália por seu trabalho jornalístico, devolveu formalmente a compensação administrativa que o Estado colombiano lhe concedeu por ser vítima do conflito armado, informou o jornal El Espectador.
“Senhores deste Estado, o dano que este conflito armado causou a mim e à minha família não valem os 24 milhões e 640 mil pesos (colombianos) que me deram. Minha reparação é a verdade, é tudo que eu peço. Vocês me fizeram de vítima novamente com suas mentiras, omissões e sua ineficácia”, disse a jornalista, segundo a agência colombiana Colprensa.
A jornalista concordou em fazer parte do processo de reparação liderado pela Unidade de Atenção e Reparação Integral para as Vítimas, mas disse na época que “a reparação a que tenho direito nunca poderá ser usada como um mecanismo de justiça no meu caso”, publicou o jornal El Tiempo.
De acordo com o El Tiempo, Bedoya Lima sempre se recusou a receber a indenização - de cerca de US$ 8.400 – a qual ficou por mais de seis meses em um banco sem ser cobrada. No entanto, em 2014, quando o governo declarou 25 de maio como o Dia Nacional pela Dignidade das Mulheres Vítimas de Violência Sexual, ela concordou em receber o dinheiro, o jornal acrescentou.
A Fundação para a Liberdade de Imprensa (FLIP) informou que a decisão de Bedoya Lima é baseada na “enorme contradição das autoridades em lidar com seu caso.” De acordo com a FLIP, o Estado garante lutar na justiça, mas não aceita a sua própria participação no crime, “quando há evidências que apontam para a responsabilidade de agentes do Estado no sequestro, tortura e violência sexual contra a jornalista.”
Durante anos, a jornalista tem exigido verdade e justiça em seu caso. Na audiência pública mais recente na Comissão Interamericana de Direitos Humanos (CIDH) - entidade que estuda o caso desde 2011 – ela lembrou que a responsabilidade de agentes do Estado no caso nunca foi investigada.
Nesta audiência, o Estado apresentou a indenização recebida pela jornalista como um progresso no caso, informou o El Tiempo. O Estado também apresentou as condenações contra os ex-paramilitares Alejandro Cardenas Orozco e Mario Jaimes Mejía como grande avanço.
“Nunca, em todos esses anos eu recebi uma única ajuda humanitária ou de outra natureza econômica por parte de qualquer governo ou do Estado. E por isso eu quero ser coerente com as minhas ações”, disse a jornalista, segundo o El Espectador. “Hoje eu devolvo a esse Estado, que não foi capaz de encontrar a justiça e a verdade no meu caso, e nos milhares de casos que, como eu, sofreram violência sexual, essa indenização”.
A FLIP, que representa legalmente Bedoya Lima, garantiu que apoia a decisão e exigiu que o Estado forneça garantias para que as investigações criminais avancem “de modo a permitir julgar e punir pessoas que hoje estão ligadas ao processo.” A FLIP também pediu à Comissão que o caso continue a avançar para que possa chegar à Corte Interamericana de Direitos Humanos.
O crime contra Bedoya
Em 25 de maio de 2000, Bedoya Lima foi sequestrada na entrada da prisão La Modelo de Bogotá, onde havia chegado para fazer uma entrevista, parte de uma investigação sobre uma rede de corrupção dentro das prisões do país.
Depois de ser torturada, a repórter foi abandonada perto da cidade de Villavicencio, no departamento de Meta (região central da Colômbia).
Em 2012, os crimes dos quais ela foi vítima foram declarados como crimes contra a humanidade pela Procuradoria-Geral da Colômbia, enquadrados num contexto de violência contra a imprensa do país como “método de guerra”. No entanto, as condenações contra dois ex-paramilitares em 2016 são as únicas no caso.
Nota do editor: Essa história foi publicada originalmente no blog de jornalismo nas Américas do Centro Knight, o predecessor do LatAm Journalism Review.