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Jornalistas mexicanos afetados pela violência contam com recursos na internet para cuidar de sua saúde mental

Um novo programa do Centro de Jornalismo e Ética Pública (CEPET) no México busca tratar da saúde emocional e mental dos jornalistas que cobrem crime organizado e atos violentos com apoio pela internet e informação sobre estratégias para diminuir a carga emocional de seu trabalho, anunciou a organização.

“A cada vez que o telefone tocava na redação, eu tremia e pensava que eram eles novamente”, disse um jornalista mexicano ao CEPET após receber uma ameaça por telefone.

O projeto busca tratar da saúde mental de jornalistas ameaçados, bem como daqueles que foram afetados pelo assassinato de um colega. “Queremos tratar da integridade emocional dos jornalistas para que possam continuar seu trabalho preservando sua saúde e a perspectiva necessária para a cobertura jornalística”, explicou Leonarda Reyes, fundadora do CEPET numa entrevista ao Centro Knight para o Jornalismo nas Américas.

O programa Círculos de Solidaridade do CEPET conta com o patrocínio do Fundo Nacional para a Democracia (NED) dos Estados Unidos, bem como a colaboração da organização Repórteres Sem Fronteiras (RSF) e da organização Tech-Palewi, que oferece consultas por telefone a profissionais que trabalham com perda de vidas humanas e outros eventos traumáticos.

Por causa das constantes ameaças e ataques contra a imprensa no México, bem como a cobertura cotidiana de eventos violentos, os jornalistas reportam sintomas como insônia, depressão, estresse pós-traumático, alcoolismo e abuso de outras substâncias, segundo um estudo do Dr. Anthony Feinstein, da Universidade de Toronto, que realizou um diagnístico sobre a saúde mental de 104 jornalistas mexicanos a pedido das organizações Artigo 19 e Periodistas de a Pie. Em sua página na internet, o pesquisador mostra um questionário em espanhol para que os jornalistas identifiquem problemas de saúde mental a fim de motivá-los a pedir ajuda de um profissional.

Agora, a página Círculos de Solidaridad também oferece informações sobre sintomas de depressão e estresse pós-traumático, formas de autoajuda e situações de emergência, bem como a possibilidade de pedir uma consulta por telefone. De sua parte, o Centro Dart para o Jornalismo e Trauma conta com uma página em espanhol, onde os jornalistas podem aprender sobre estratégias para entrevistar vítimas de violência e sobre a cobertura de eventos violentos.

No entanto, até agora, a maioria dos jornalistas mexicanos não têm tido apoio e recursos especializados para tratar de problemas de saúde mental, segundo Reyes. Suas alternativas têm sido abandonar a profissão ou mudar de cidade, continuar o trabalho sob seu próprio risco, ou viver com o estresse diário de saber que eles ou seus familiares podem ser vítimas de um ataque. “É um estado de terror que não é são”, assegura Reyes.

Durante o Décimo Fórum de Austin de Jornalismo nas Américas, o diretor executivo do Centro Dart para o Jornalismo e Trauma, Bruce Shapiro, alertou que o cansaço e as crises emocionais são formas efetivas para silenciar e censurar um jornalista.

De sua parte, Feinstein disse que as feridas psíquicas dos jornalistas mexicanos são mais profundas que as dos corresponsáveis pela guerra porque seus familiares vivem no mesmo lugar onde ocorrem os eventos violentos e porque as organizações têm deixado os funcionários da imprensa desamparados, de acordo com a revista Proceso.

Nota do editor: Essa história foi publicada originalmente no blog de jornalismo nas Américas do Centro Knight, o predecessor do LatAm Journalism Review.

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