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Meios de comunicação brasileiros usam mídias sociais e técnicas narrativas inovadoras para cobrir Zika

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  • 10 abril, 2016

Por Claudia Bueno

Vídeos ao vivo de debates com cientistas, reportagens sobre as consequências da microcefalia, projetos de visualização de dados e infográficos para mostrar como se espalha. O surgimento do Zika vírus como uma pandemia global forçou jornalistas brasileiros a adotar uma ampla variedade de técnicas de contar histórias para cobrir os vários aspectos desta emergência de saúde.

Até este ponto, a maioria das pessoas sabe as verdadeiras ameaças do Zika vírus, especialmente para mulheres grávidas. O censo mais recente do Ministério da Saúde confirmou 1.271 casos de microcefalia, um doença que provoca o desenvolvimento anormal do cérebro, que estão ligados ao Zika vírus. Mais de 3.500 casos de microcefalia estão sob suspeita de estar relacionados ao vírus.

No entanto, de acordo com Patricia Campos Mello, repórter especial do jornal Folha de S. Paulo, a cobertura do assunto, bem como a atenção dada pelas autoridades, começou lenta.

"No início, a mídia estava indo no vácuo do que o Ministério da Saúde disse:" É uma doença muito benigna, não tem grandes consequências ", Mello explicou ao Centro Knight para o Jornalismo nas Américas.

Em maio de 2015, o ministro da Saúde, Arthur Chioro, disse que as pessoas não deveriam se preocupar com o Zika porque a Dengue, que também é transmitida pelo mosquito Aedes aegypti, era mais perigosa.

"Começamos a prestar mais atenção em setembro, quando saíram os primeiros relatórios sobre o aumento do número de casos de microcefalia em Recife, Pernambuco", disse Mello.

Durante um painel recente organizado pela Universidade Duke, Mello disse que as pessoas inicialmente não prestaram atenção ao vírus em parte porque o epicentro do surto da doença foi em áreas mais remotas do país, Duke Today informou.

"Porque o surto não estava nos grandes centros financeiros e industriais do país, os meios de comunicação não estavam prestando atenção", disse Mello, de acordo com a Duke Today. Ela também disse que ainda é difícil obter dados confiáveis sobre as vítimas, a publicação relatou.

Jornal do Commercio de Recife afirmou que foi um dos primeiros a abordar o aumento explosivo nos casos de microcefalia em outubro de 2015 em Pernambuco, onde o surto começou.

Um mês depois, o Ministério da Saúde declarou estado de emergência de saúde pública e o vírus se tornou notícia de primeira página em todos os meios de comunicação.

O blog de saúde do do Jornal do Commercio, Casa Saudável, tem publicado reportagens em versão impressa e on-line sobre o surto de Zika, dando informações como onde as famílias podem encontrar atendimento gratuito para os bebês com microcefalia e até mesmo campanhas de empresas para financiar kits para o tratamento.

Mello disse que a cobertura na Folha de. S. Paulo começou com um correspondente trabalhando no Recife. Ela disse que, em fevereiro, o jornal produziu uma seção especial sobre o Zika. Desde aquela época, jornalistas especializados em cobertura de saúde, os repórteres diários, freelancers e correspondentes no Nordeste têm se dedicado a cobrir o surto.

A cobertura sobre o assunto está na aba de notícias diariamente no site do jornal em seções rotuladas como "aedes aegypti" e "Zika e microcefalia." O jornal criou infográficos e vídeos mostrando as origens do vírus, sintomas, onde está localizado ao redor do mundo, em como ele pode afetar o sistema nervoso, e mais.

Sob a guia para o mosquito Aedes aegypti, o jornal também aborda outras doenças transmitidas pelo mosquito, incluindo dengue e chikungunya. A guia reuniu dados sobre a prevalência destes casos também.

Entretanto, a cobertura de notícias da doença não se limita apenas à ciência e estatísticas.

"Eu foco em cobrir os impactos da doença na população, a falta de acesso aos cuidados primários para mães e bebês no Nordeste, a reação das mães e pais para o diagnóstico de microcefalia, como o aborto e abandono", Mello explicou.

Chico Amaral, diretor executivo do jornal O Globo, que tem sede no Rio de Janeiro, disse ao Centro Knight que, no início, o repórter de ciência do jornal cobriu a doença uma vez que não existia uma equipe específica dedicada ao tema.

"À medida que a cobertura cresceu montamos uma equipe", Amaral disse.

Agora o jornal tem mais dois jornalistas, um no Rio de Janeiro e outro em Brasília, que estão trabalhando com o tema. Dependendo do volume de notícias, os repórteres diários em São Paulo também estão envolvidos.

No site de sua página inicial, O Globo dedicou um botão para o surto de Zika, juntamente com os outros para "Impeachment" e "Lava-Jato," sobre a grande crise política que afeta o país.

Só em março, o jornal publicou mais de 30 artigos sobre o Zika vírus, incluindo informações sobre a transmissão, notícias internacionais que incluem casos em outros países, atualizações da Organização Mundial da Saúde (OMS) e análises de como a epidemia afetará os próximos jogos Olímpicos.

Assim como a Folha, a cobertura do O Globo vai além de apresentar números. Os jornais reportam sobre os diferentes efeitos sociais da doença, incluindo um artigo que conta a história de mulheres que não podem esperar para engravidar por causa de sua idade.

Eles publicaram uma série de vídeos informativos curtos no Facebook que abordam os rumores sobre a propagação do vírus, por exemplo, se é seguro para mulheres grávidas usarem repelente de insetos ou se os mosquitos são resistentes a fumigação. As respostas a estas perguntas também estão disponíveis no site sob o título "Verdades, mentiras e dúvidas sobre Zika vírus."

"Nós tentamos manter uma linha de serviço sempre ativo, com um banco de perguntas e respostas, e debates ao vivo em vídeo no Facebook, com especialistas de diferentes áreas, desde os cientistas à pessoas que podem falar sobre o aborto", disse Amaral.

Os meios de comunicação brasileiros têm uma agenda cheia de histórias pressionando a nível nacional e internacional. Além de que crise na saúde, o escândalo de corrupção conhecido como Lava Jato tem enlaçado os mais altos níveis de governo; A presidente Dilma Rousseff enfrenta potencial impeachment. No meio de tudo isso, o país vai sediar os Jogos Olímpicos de Verão de 2016 a partir de agosto.

Mais de 1,5 milhões de pessoas contraíram o Zika vírus no Brasil, e mais de 30 países já confirmaram a existência da doença, segundo a OMS. Organizações de notícias em todo o mundo irão observar como a mídia brasileira vai manter a cobertura do vírus Zika apesar da proliferação de outros grandes eventos noticiosos.

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