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Cobertura de assassinato de jovem na Argentina gera discussão sobre ética jornalística

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  • 1 julho, 2013

Por Alejandro Martínez

O assassinato em 10 de junho de uma jovem de 16 anos em Buenos Aires, Argentina chamou a atenção nacional pelas últimas três semanas e gerou uma tempestade na mídia, que, por sua vez, tornou-se o próprio tema da discussão. As críticas contra os meios começaram a partir da incessante cobertura do caso e alcançaram o auge com a publicação em um jornal argentino de algumas fotografias mostrando o corpo da jovem assassinada.

As imagens do cadáver de Ángeles Rawson no lugar aonde foi abandonado foram publicadas em 28 de junho pelo diário Muy, do conglomerado midiático Grupo Clarín. O pai da víctima criticou vários jornalistas, o público em geral e até mesmo o sindicato de trabalhadores do Grupo Clarín, que disseram não ser “de modo algum responsáveis pela publicação, que consideramos de péssimo gosto e de nulo valor jornalístico”.

“As fotografias, publicadas na capa e no interior do matutino, constituem não só uma violação à intimidade da própria vítima e de sua família, mas também uma amostra desnecessária de mal gosto que só serve para alimentar a morbidez em um caso de altíssima repercussão pública”, afirmou o Fórum Jornalismo Argentino, o Fopea, condenando também os veículos que republicaram as fotografias do jornal.

“Os meios de comunicação devem levar em conta antes de uma publicação semelhante o dano moral que geram aos familiares da vítima e também o insulto que isso significa para os valores de convivência dentro de uma sociedade. Além disso, um fato que não deve ser esquecido sobre o caso é que a vítima era menor de idade", acrescentou a organização.

O episódio se tornou um dos temas mais discutidos do país, tanto pelos veículos de imprensa quanto pelo público em geral. Nos primeiros sete dias de cobertura, os canais de TV a cabo e abertos dedicaram ao crime um total de 206 horas de programação, segundo a Television.com.ar.

"Trabalho com notícias policiais há dez anos; as leio há muito mais tempo. E nunca vivi nada parecido", escreveu o jornalista Javier Sinay em seu blog El Identikit.

Nas semanas anteriores, quando o caso começou a gerar atenção, Fopea também instou os jornalistas a refletirem sobre sua cobertura do crime e criticou alguns veículos por difundir informação sem checagem, publicar dados contraditórios e invadir desnecessariamente a privacidade das pessoas envolvidas no caso. No último fim de semana, uma equipe de televisão fez uma transmissão ao vivo do porão de onde vivia Rawsononde eles acreditam que o crime foi perpetrado.

“A possível justificativa que poderão usar os responsáveis por essas trasmissões é que a audiência acompanhou a cobertura, con números de ibope muito altos, e que não poderiam evitar essas práticas porque os canais da concorrência continuariam transmitindo sobre o tema. Essas explicações não são suficientes para não fazer uma auto-crítica sobre o tipo de cobertura dada a um caso como o referido”, ressaltou Fopea.

Já a Autoridade de Serviços de Comunicação Audiovisual (Afsca) disse estar avaliando a possibilidade de aplicar sanções a alguns veículos após observar em um informe que a cobertura do crime foi “violatória dos direitos das meninas e das mulheres,” disse o titular da agência, Martín Sabbatella, segundo OnceTrece.

Nota do editor: Essa história foi publicada originalmente no blog de jornalismo nas Américas do Centro Knight, o predecessor do LatAm Journalism Review.

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