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Debandada de jornalistas da emissora venezuelana Globovisión revela mudanças estruturais no cenário midiático do país

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  • 22 agosto, 2013

Por Isabela Fraga

debandada recente de ao menos onze jornalistas da emissora venezuelana crítica ao governo Globovisión tem levantado questões sobre a pluralidade de veículos de comunicação no país. Os apresentadores Gladys Rodríguez, Román Lozinski, María Elena Lavaud, Roberto Giusti, María Isabel Párraga e Mary Montes, por exemplo, pediram demissão do canal dias após a saída do célebre Leopoldo Castillo, condutor do programa "Alô, Cidadão", informou o site America Economia.

Logo após sua venda, em maio de 2013, a Globovisión anunciou mudanças em sua linha editorial, o que causou mal-estar entre os funcionários. A emissora mantinha uma relação bastante conturbadao com o governo venezuelano, desde a chegada de Hugo Chávez à presidência. Em junho de 2012, por exemplo, a Globovisión foi obrigada a pagar uma multa de US$ 5,6 milhões pela cobertura de conflitos penitenciários. E, mesmo depois da morte de Chávez, ocorreram conflitos entre a emissora e o novo presidente, Nicolas Maduro.

Embora Castillo não tenha comentado os motivos de sua saída, diz-se que ele o fez porque não aceitou as mudanças editoriais do canal que daria mais espaço ao governo, segundo o jornal El Mundo. Já o jronalista Roberto Giusti, apresentador do programa como "En privado", disse em coluna no jornal El Universal que estava saindo "porque na Globovisión não há circunstâncias para fazer um jornalismo livre".

Já Romãn Lozinski, âncoras do telejornal principal da emissora, disse em comunicado que pediu demissão do canal porque ele e outros apresentadores foram proibidos de entrar na emissora na sexta-feira, 16 de agosto, informou o La Patilla. A proibição, especula-se, foi emitida porque Lozinki recusou-se a ler as notícias no noticiário da noite anterior, em solidariedade com a saída do colega Leopoldo Castillo. "Não se pode ser espectador da censura", disse Lozinski em comunicado público sobre sua demissão.

Se a Globovisión está tentando diminuir o tom crítico, essa mudança é vista como um prenúncio de outros meios. "A Globovisión pode ser a porta da despolitização dos veículos na Venezuela. A mudança ajudará a baixar o tom bélico da confrontação política", analisou a socióloga Maruclen Stellin, em entrevista à AFP.

Já Carlos Díaz, analista de redes sociais do centro de estudos Gumilla, disse que "os meios privados [na Venezuela] se domesticaram ou se reacomodaram para não serem incômodos ao poder (...)". Uma reportagem do jornal La Verdad acrescenta: "O canal de notícias pioneiro no país se reduz cada vez mais a espaços informativos não muito diferentes do equilíbrio informativo pregado pela emissora estatal Venevisión".

Nota do editor: Essa história foi publicada originalmente no blog de jornalismo nas Américas do Centro Knight, o predecessor do LatAm Journalism Review.

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