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Denúncias de ameaças e agressões a jornalistas nicaraguenses destacam os riscos de informar durante protestos

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  • 17 julho, 2015

Por Mariana Muñ​oz e Teresa Mioli

Um anoa depois que jornalistas nicaragüenses fizeram um chamado às autoridades exigindo justiça e proteção durante a cobertura dos protestos contra o governo, veio a notícia de que vários comunicadores foram ameaçados durante as manifestações que ocorreram em Managua na semana passada.

Vários meios de comunicação informaram que os jornalistas que ficaram presos em meio às manifestações realizadas na capital do país em 8 de julho foram assediados e detidos por agentes da polícia.

Os manifestantes, que exigem mudanças no sistema eleitoral como garantia de transparência nas eleições gerais previstas para novembro de 2016, participavam em um dos protestos semanais perto do Conselho Supremo Eleitoral (CSE), informou a agência AFP. Os manifestantes mostraram desaprovação pelo governo sandinista, encabeçado pelo presidene Daniel Ortega, gritando frases como “não à Frente [Sandinista], democracia sim, ditadura não”.

polícia tentou bloquear os manifestantes que se aproximavam dos escritórios eleitorais, mas eles forçaram a passagem, segundo a agência Associated Press (AP).

Em meio ao caos, os agentes ameaçaram e detiveram os jornalistas Moisés Julián Castillo e Larry Sevilla, segundo La Prensa. Os dois trabalham para a Radio Corporaciónpropriedade de Fabio Gadea, ex-candidato presidencial do partido de oposição Partido Liberal Independiente (PLI).

Em coletiva de imprensa, Castillo disse que os oficiais o agrediram com cassetetes e o arrastaram cerca de 50 metros até uma patrulha policial.

Sevilla, que estava transmitindo para a emissora, se identificou como jornalista para os oficiais, mas ainda assim foi detido de maneira violenta, segundo La Prensa.

Os dois jornalistas denunciaram os ataques à Comissão Permanente de Direitos Humanos (CPDH).

O fotojornalista Jorge Torres, do jornal La Prensa, e Esteban Félix, correspondente da AP, tiveram seus materias de trabalho quebrados. Luis Mora Duarte, repórter de VosTv, também foi agredido durante o protesto, de acordo com La Prensa.

Em 10 de julho, a polícia deu sua própria versão dos fatos através de um comunicado no qual afirmavam que o confronto físico aconteceu porque os manifestantes se tornaram agressivos, segundo El Nuevo Diario. O comunicado não mencionou as ações contra os jornalistas ou as equipes de fotografia.

Carlos Ponce, diretor dos programas para América Latina e Caribe de Freedom House, disse que “as agressões e prisões de manifestantes pacíficos em Managua e o assédio a jornalistas que tentavam cobrir o incidente são claras violações das liberdades fundamentais de expressão e de reunião”.​

Os recentes acontecimentos na Nicarágua refletem uma tendência de os jornalistas se tornarem alvos vulneráveis de ameaças, agressões, prisões, e, em alguns casos, assassinatos por cobrir manifestações.

Em julho de 2014, os jornalistas nicaragüenses exigiram ações da polícia nacional sobre os recentes ataques à imprensa, alguns dos quais ocorridos durante protestos contra o governo.

Os jornalistas acusaram a polícia de ser passiva, en especial, “quando sofrem agressões de partidários do governo, que com frequência atacam violenta e indiscriminadamente tanto manifestantes de oposição quanto jornalistas que cobrem os protestos”, segundo Repórteres Sem Fronteiras (RSF)

Quando ficam presos em meio a grupos opostos, os jornalistas podem se tornar alvos dos ataques de ambos.

Trabalhadores da imprensa de outros países da América Latina enfrentam perigo semelhante ao informar durante protestos.

Em fevereiro de 2014, o cinegrafista brasileiro Santiago Ilídio Andrade morreu no Rio de Janeiro depois de ser atingido por um artefato explosivo na cabeça enquanto cobria uma manifestação contra o aumento na tarifa de ônibus. Dois manifestantes foram detidos acusados de serem responsáveis pelo homicídio.

jornalista peruano Rudy Huallpa Cayo perdeu a visão do olho esquerdo depois que um oficial da polícia disparou um tiro de bala de borracha em sua direção durante um protesto em Puno em abril de 2014.

E em novembro de 2014, vários jornalistas foram agredidos pela polícia enquanto cobriam protestos gerados pela desaparição de 43 estudantes em Ayotzinapa, México, segundo RSF.

No mundo todo, “cerca de 100 jornalistas morreram enquanto cobriam protestos nas ruas e outros distúrbios civis entre 1992 e 2011”, segundo o Comitê para a Proteção dos Jornalistas (CPJ). A organização publicou um guia em inglês específicamente sobre como os jornalistas podem se proteger durante a cobertura de manifestações e protestos.

Nota do editor: Essa história foi publicada originalmente no blog de jornalismo nas Américas do Centro Knight, o predecessor do LatAm Journalism Review.

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