texas-moody

Depois de nova denúncia de interceptações ilegais a jornalistas na Colômbia, presidente anuncia investigação

Seis anos depois do escândalo das ‘chuzadas’ (interceptações ilegais feitas pela antiga Agência de Inteligência colombiana a jornalistas) chocar o país, seu fantasma volta a aparecer. Nas últimas semanas foram reveladas informações sobre supostos atos de corrupção e abuso no interior da Polícia Nacional, que incluem a perseguição e interceptação ilegal de comunicações de vários jornalistas.

Na raiz desse novo escândalo, no dia 9 de dezembro o presidente do país, Juan Manuel Santos, anunciou a criação de uma Comissão Especial para investigar o que está acontecendo na Polícia, informou a revista Semana.

“Não vamos medir esforços para atuar contra qualquer caso comprovado de corrupção ou abuso que encontremos na Polícia Nacional ou em qualquer outra entidade pública. Aqui não perseguimos nossos críticos nem opositores. Não grampeamos nem perseguimos jornalistas. E, se alguém está fazendo isso, é sem conhecimento e sem autorização do governo e terá que enfrentar todo o peso da lei”, disse Santos ao anunciar a Comissão, segundo o jornal El Espectador.

O relatório da Comissão deverá ser entregue em um prazo não maior que 90 dias.

Este novo episódio se tornou público quando, no final de novembro, as jornalistas Claudia Morales e Vicky Dávila receberam e-mails com informação detalhada que demonstavam ter havido interceptações a suas comunicações, segundo a Fundação para a Liberdade de Imprensa (FLIP). Os monitoramentos não só incluíam seu trabalho jornalístico, mas também sua vida pessoal.

De acordo com a informação que chegou às jornalistas, esta vigilância era realizada por um grupo da Direção de Inteligência da Polícia (Dipol) “para proteger seu diretor, o general Rodolfo Palomino”, publicou El Espectador.

Os e-mails enviados a Dávila apontavam que estas ordens tinham como causa suas investigações jornalísticas relacionadas à “comunidade do anel”, uma rede de prostituição no interior da Polícia e por meio da qual eram manipulados congressistas, políticos, militares e jornalistas, acrescentou o jornal.

Durante a troca de e-mails com sua informante, Dávila soube que outros jornalistas também estavam na lista dos controlados. Nomes como Jairo Lozano, Slobodan Wilches, Daniel Coronell e Gustavo Álvarez Gardeazábal apareceram na lista.

Em 3 de dezembro, a Procuradoria Geral da Nação anunciou o início da investigação “com a hipótese de que as ameaças, interceptações e vigilância ilegais das quais foi vítima a jornalista Vicky Dávila podem guardar relação com uma série de matérias e denúncias jornalísticas que envolvem supostas irregularidades dentro da Polícia Nacional da República da Colômbia”, segundo o comunicado de imprensa.

“Quando se chegou a comprovar que existe relação entre os fatos denunciados pela jornalista nos meios de comunicação e a vigilância e interceptação da qual supostamente foram vítimas ela, sua família e sua equipe jornalística, considero que estaríamos frente a um fato que constitui um gravíssimo atentado contra a democracia colombiana e a liberdade de imprensa”, acrescentou o comunicado.

No final de outubro, a FLIP já havia denunciado um bloqueio policial às páginas da FM e de Caracol Radio, meios nos quais trabalham Dávila e Morales respectivamente.

“Surrpreende que as atividades de espionagem ao invés de pararem, se aprofundem mais sem que se esclareçam responsabilidades”, afirmou a FLIP, exigindo que as autoridades parem com estas práticas que não só são inconstitucionais, como “​violam a liberdade de imprensa, o direito à intimidade e o foro de reserva a fontes jornalísticas”.

Este novo escândalo recordou o caso das ‘chuzadas’ (grampos) ocorrido em 2009 e que terminou no fim do então organismo de inteligência do país: Departamento Administrativo de Segurança (DAS).

Por este caso, vários membros do DAS foram envolvidos em investigações e alguns receberam sentenças condenatórias. Os mais significativos ocorreram no dia 27 de fevereiro quando a Corte Suprema condenou a ex-diretora do DAS, María del Pilar Hurtado, e o ex-secretário geral da Presidência no mandato de Álvaro Uribe, Bernardo Moreno Villegas.

Nota do editor: Essa história foi publicada originalmente no blog Jornalismo nas Américas do Centro Knight, o predecessor do LatAm Journalism Review.

Artigos Recentes