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Diretor de jornal mexicano Reforma sofre assédio e recebe ameaças de morte por meio de redes sociais

Usando a hashtag #NarcoReforma, usuários de redes sociais que apóiam o presidente mexicano Andrés Manuel López Obrador tentaram nos últimos dias vincular o jornal mexicano Reforma e seu diretor editorial Juan Pardinas - que também recebeu ameaças de morte - com o crime organizado. Reforma é um dos maiores e mais importantes jornais do México.

Andrés Manuel López Obrador, presidente mexicano, durante coletiva de imprensa no dia 23 de abril. (Reprodução)

Diante das agressões postadas no Twitter e no Facebook desde o dia 24 de abril, a organização Artigo 19 do México pediu às autoridades do país para proteger Pardinas, que disse que recebeu ameaças de morte e tentativa de doxxing (publicação de dados pessoais) por parte de vários usuários.

Essas reações nas redes sociais, segundo a organização, são consequência de uma nota publicada por Reforma em 22 de abril intitulada "Refuerzan vigilancia en casa de AMLO" (“Vigilância reforçada na casa de AMLO”), após as ameaças que o presidente Andrés Manuel López Obrador recebeu de uma organização criminosa em dias anteriores.Na nota, o jornal publicou o endereço da casa presidencial, informação que é de domínio público desde a campanha eleitoral de 2018.

Apesar disso, López Obrador criticou Reforma no dia 23 de abril, na coletiva de imprensa que realiza todas as manhãs de segunda a sexta, por publicar seu endereço. "Onde está a ética? Eles não se consideram gente de bem? Não, é um conservadorismo muito peculiar", disse o presidente, referindo-se a Reforma no vídeo da conferência publicado pela Notimex no YouTube (minuto 1:07).

"Esta seria a 13a vez que o presidente ataca o jornal. Nessa ocasião, ele reclamou da publicação do endereço de sua residência particular, o qual ele mesmo reconheceu ser de domínio público", disse o diretor editorial do Reforma, de acordo com Animal Político.

Artigo 19 alertou que o discurso estigmatizante que o atual presidente mexicano mantém contra o Reforma tem um impacto direto na sociedade "em termos de proteção ou risco que pode gerar para o trabalho da imprensa". Portanto, exigiu que o presidente "se abstenha de gerar qualquer ato que possa inibir o exercício da liberdade de expressão e que possa colocar em risco a vida, a liberdade, a integridade e a segurança do jornalista".

A organização também instou o Mecanismo de Proteção aos Defensores e Jornalistas de Direitos Humanos que "incorpore de maneira extraordinária", o diretor editorial de Reforma em suas medidas de proteção. Também solicitou à Promotoria Especial para a Atenção aos Crimes contra a Liberdade de Expressão (Feadle) que investigue as ameaças contra Pardinas e Reforma.

Em meados de abril, durante o 12º Colóquio Ibero-Americano de Jornalismo Digital, realizado na Universidade do Texas em Austin, os jornalistas Daniel Moreno, diretor editorial do site Animal Político, e Salvador Camarena, diretor-geral de investigação jornalística da iniciativa Mexicanos Contra la Corrupción y la Impunidad (MCCI), explicaram a polarização que existe atualmente na imprensa no México desde o início do governo López Obrador, há quatro meses.

Moreno e Camarena disseram que o presidente, que tem 78% de aprovação nas pesquisas, tem uma estratégia sustentada de assédio e desqualificação contra os meios de comunicação. Eles citaram como exemplo o termo "fifí", que segundo os jornalistas é o adjetivo que López Obrador usa para se referir aos meios que ele chama de conservadores, como sinônimos de corruptos.

"Esses insultos nos levam a uma polarização maior, onde ele tem muito dinheiro, muitos canais de comunicação, maioria nos dois congressos - a Câmara dos Deputados e a Câmara dos Senadores - e também tem um governo inteiro mobilizado nisso, em depreciar jornalistas", disse Camarena.

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