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Falta de papel-jornal se agrava na Venezuela e afeta quase 40 publicações

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  • 25 setembro, 2014

Por Christina Noriega

O jornal mais antigo da Venezuela, El Impulso, é a mais recente publicação a evitar por pouco uma paralisação em suas atividades graças à crise de escassez de papel-jornal em curso, que já afetou cerca de 40 jornais e revistas de todo o país desde o ano passado.

Em 10 de setembro, quando o El Impulso anunciou que a escassez de papel que já dura dois anos o forçaria a descontinuar a edição impressa, uma empresa privada ofereceu à publicação - que tem circulado há 110 anos na Venezuela - papel suficiente para mais duas semanas de impressão.

A solução de curto prazo é uma das muitas que a publicação se viu obrigada a adotar nos últimos anos. Em janeiro, El Impulso precisou pedir papel emprestado ao jornal Carabobeño, de acordo com o editor Juan Manuel Carmona. Carabobeño também foi obrigado a reduzir sua versão impressa.

“É simplesmente uma solução paliativa, não a solução", disse Gisela Carmona, diretora de marketing do El Impulso, em um comunicado à Associated Press, em referência ao fornecimento de duas semanas de papel.

Embora o governo tenha nomeado o distribuidor privado de papel-jornal Maneiro Corporation para o caso em uma tentativa de achar uma solução de longo prazo para o El Impulso, ainda há dúvidas se um acordo desse tipo surtirá efeito.

De acordo com a Repórteres Sem Fronteiras, pelo menos 37 jornais venezuelanos têm sido afetados pela fala de papel desde o último ano. Enquanto veículos de abrangência nacional foram forçados a diminuir o número de páginas de suas edições, várias publicações menores e regionais foram obrigadas a fechar suas operações.

Na semana passada, o Instituto de Imprensa e Sociedade da Venezuela (IPYS, na sigla em espanhol) divulgou uma lista de jornais por estado que reportaram problemas de abastecimento de papel. Também foram relatados déficits de tinta, filme e as placas necessárias para impressão.

A Associação Interamericana de Imprensa (IAPA na sigla em inglês) chamou a incapacidade da Venezuela de lidar com a crise de papel-jornal enquanto, em paralelo, lançava dois jornais patrocinados pelo Estado, de uma evidência da "bipolaridade" governamental.

"De um lado, [o governo] descaradamente anuncia a criação de novos meios de comunicação oficiais, e de outro, mantém uma política sistemática e opressiva em termos econômicos e jurídicos, com a intenção de continuar a fechar meios de comunicação privados e independentes", disse Claudio Polillo, presidente da Comissão de Liberdade de Imprensa e Informação da SIP.

Como o país não produz papel-jornal suficiente para cobrir as necessidades internas, o insumo é comumente importado dos Estados Unidos e Canadá. O problema é uma regra do governo que exige que os jornais solicitem uma permissão oficial para adquirir dólares, o que é necessário para comprar papel-jornal estrangeiro. De acordo com o editor do El Impulso, esses pedidos - que exigem 16 passos burocráticos - podem levar meses para serem processados e, após esse período de tempo, ainda serem negados.

Os jornais impressos continuam a desempenhar um papel importante no cenário midiático do país, uma vez que muitos venezuelanos são incapazes de pagar serviços de internet ou ter um computador e muitas estações de TV e rádio são controladas pelo governo ou sofrem autocensura para não perder suas licenças. Com 105 anos de idade, o diário El Universal, por exemplo, conhecido por sua crítica aberta ao governo venezuelano, foi forçado a cortar sua edição impressa no início deste ano, devido à falta de papel-jornal. Mais tarde, o jornal foi vendido e os novos proprietários mudaram sua linha editorial.

Enquanto isso, o governo venezuelano admitiu que possui um "estoque de emergência" de papel, uma admissão que, para muitos defensores da liberdade de informação, põe em dúvida sua disponibilidade limitada no país.

"O fato de que há um 'estoque de emergência' de papel-jornal mostra que resolver o problema da escassez do insumo que está afetando a imprensa depende da vontade do governo", afirmou Camille Soulier, representante nas Américas da Repórteres Sem Fronteiras, em um declaração no início deste mês.

"A escassez de papel representa uma censura indireta e equivale a um golpe de Estado no pluralismo e na liberdade de informação."

Nota do editor: Essa história foi publicada originalmente no blog de jornalismo nas Américas do Centro Knight, o predecessor do LatAm Journalism Review.

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