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Inovadores latino-americanos falam sobre jornalismo em quadrinhos, gráficos, colaboração e diversificação de fontes de receita

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  • 20 abril, 2018

Por Teresa Mioli e César López Linares

Inovadores no jornalismo latino-americano juntaram-se ao Centro Knight para o 11º Colóquio Ibero-Americano de Jornalismo Digital, em 15 de abril, compartilhando lições sobre novos formatos narrativos, maneiras de ampliar o alcance do conteúdo de um site e modelos de receita que contribuem para alcançar a sustentabilidade financeira.

Os jornalistas representaram seis estudos de caso apresentados na nova série "Inovadores no Jornalismo Latino-Americano", publicada pelo Centro Knight para o Jornalismo nas Américas e financiada pela Open Society Foundations.

Eles incluíam Germán Andino, um quadrinista de Honduras; Andrea Dip, repórter da brasileira Agência Pública; Paola Hurtado, gerente de estratégia do site guatemalteco Nómada; José Luis Sanz, diretor do site salvadorenho El Faro; Lucas Silva, cofundador do jornal uruguaio La Diaria; e Alejandro Valdez Sanabria, cofundador de Memetic Media, no Paraguai.

Eles foram acompanhados por Teresa Mioli, coordenadora de conteúdo online do Centro Knight e editora da série, que apresentou cinco lições-chave colhidas de cada uma das reportagens que compõem o projeto.

Embora muitas lições possam ser tiradas de cada reportagem, Mioli destacou cinco que pareciam mais importantes e presentes entre os projetos.

1. Conecte-se com sua comunidade

Seus leitores formam sua rede de apoio. Envolva-os por meio de financiamento coletivo, convide-os para eventos e fóruns. Essas conexões farão deles seus maiores fãs.

2. Experimente novos formatos

Sabemos que a melhor maneira de contar uma história nem sempre é através do texto. Uma história pode incluir vários elementos narrativos, incluindo texto, gráficos, quadrinhos, vídeo, áudio, gifs e muito mais. Use esses formatos diferentes para cativar novos públicos.

3. Diversifique suas fontes de receita

A diversificação das fontes de receita é fundamental para a sustentabilidade. Muitos sites têm uma combinação de financiamento coletivo, assinaturas, fundos de organizações externas, vendas de produtos, marketing de conteúdo, eventos e muito mais.

4. Invista em inovação

O jornalismo está mudando a cada dia e precisamos dedicar tempo e recursos para acompanhar. Considere desenvolver equipes de inovação e editores em sua redação que possam se concentrar exclusivamente em novas formas de contar histórias.

5. Colabore com outros meios

Jornalistas estão colaborando cada vez mais em projetos que cruzam fronteiras. A colaboração também é uma forma de aumentar o alcance de uma história e garantir a publicação das principais descobertas, mas o conceito também pode ser expandido para acordos de publicidade entre os meios de comunicação.

Os jornalistas presentes no Colóquio expandiram algumas dessas lições.

Germán Andino, que ganhou o Prêmio Gabo em 2017 na categoria Inovação pela reportagem em quadrinhos “El Hábito de la Mordaza” (“O Hábito da Mordaça”) falou sobre porque escolheu jornalismo em quadrinhos para explicar o que estava acontecendo em sua comunidade.

"O jornalismo local em Honduras é dedicado a jogar sangue no rosto das pessoas e vender publicidade e a maioria dos jornalistas estrangeiros que vêm para o país tentam falar sobre um fenômeno tão complexo como este em três dias", disse Andino. "Acho que os quadrinhos é um dos formatos mais poderosos que existem porque entre um desenho e outro há um espaço que nossa cabeça enche quase sem perguntar, é uma pergunta automática, o que estamos gerando é um engajamento muito poderoso".

Andrea Dip, repórter da Agência Pública no Brasil, também compartilhou sua experiência trabalhando no projeto de jornalismo em quadrinhos "Meninas em Jogo" ao lado do ilustrador Alexandre De Maio.

“Foi um grande desafio fazer uma reportagem investigativa em comic. Nossa reportagem foi sobre uma denúncia que eu recebi de que meninas estavam sendo aliciadas em cidades do Ceará. Meninas, de 9 a 12 anos, para exploração sexual, durante a Copa do Mundo no Brasil. Era uma denúncia que vinha das ruas, não tinha uma denúncia oficial, então nós fomos para as ruas, eu e o desenhista Alexandre de Maio para o Ceará, para investigar. Decidimos que a forma mais honesta de contar a história seria estar dentro dela, então, o leitor nos acompanharia durante as nossas descobertas.”

Dip explicou que estava preocupada em manter a qualidade da investigação, mas que acreditava no potencial dos quadrinhos, que também era uma maneira de preservar o anonimato das meninas.

A reportagem foi publicada no site do Pública, mas também foi reproduzida por outros meios em português, espanhol, inglês e italiano.

Um dos maiores desafios para a mídia, não apenas na América Latina, mas em todo o mundo, é a questão da sustentabilidade financeira.

No jornal uruguaio La Diaria, 80% da receita vem de sua comunidade de leitores. Como Lucas Silva explicou: "Nós deixamos as bancas e começamos a vender o jornal, levando-o às casas, porque Montevidéu é uma cidade que permite isso. Começamos com mil assinantes, temos atualmente 12 mil pessoas que pagam para um de nossos projetos que, para um país de 3 milhões de habitantes, é algo de que se orgulhar muito. Hoje somos o segundo jornal mais vendido do Uruguai”.

Paola Hurtado, de Nómada, expandiu o tema de modelos econômicos e diversificação de receita.

"Em 2017, Nómada já havia formado um modelo de sustentabilidade em que 47% é renda através de ‘grants’[fundos de organizações externas], mas também tem as vendas de publicidade. Além da venda de publicidade, Nómada tem explorado a rentabilidade por meio de eventos, e através de serviços de informação que Nómada vende para além de seus leitores".

Para o site salvadorenho El Faro, a colaboração internacional com meios como The New York Times e Univision tem sido uma maneira de expandir o alcance de suas histórias.

"Essa universalidade de nossas histórias tornou-se algo positivo e rentável e permitiu nos conectar com o público não em grande número, mas de uma forma muito poderosa. As histórias de El Faro têm sido republicadas - inicialmente de maneira gratuira, com parcerias, e depois cobrando pequenos valores - na mídia internacional em Europa, Estados Unidos e mesmo América do Sul", disse José Luis Sanz. "The New York Times nos procurou e nos disse que estava interessado ​​em trabalhar com a gente, que fôssemos um parceiro direto."

Alejandro Valdez falou sobre os gráficos interativos do site El Surtidor.

Para se conectar com o público, especialmente com jovens no Paraguai, a Memetic Media desenvolveu três projetos diferentes que se concentram no jornalismo longform e na comunicação visual.

"É uma narrativa à qual demos o nome de 'scrollytelling', porque é baseada na rolagem da página. É percorrer as seqüências através da rolagem, que é um gesto natural hoje em dia. Ao contrário do vídeo que requer um grande número de megabytes e cada megabyte conta quando o seu pacote de dados é limitado, apostamos em uma linguagem HTML, que pode ser acessada a partir de qualquer navegador, que é mais leve, e que permite o controle do fluxo da informação", disse Valdéz. "Por meio destes desenhos muito peculiares, nós tocamos nos temas que definem o país, como conflito de terra, desmatamento."

"Inovadores no Jornalismo Latino-Americano" em espanhol estará disponível para download gratuito como um e-book em formato PDF na próxima semana. Versões em inglês e português serão publicadas logo depois.

Além de reportagens escritas por colaboradores do Centro Knight, o livro também contará com quatro guias escritos por jornalistas latino-americanos sobre temas como design thinking, receita, colaboração transnacional e financiamento coletivo.

Nota do editor: Essa história foi publicada originalmente no blog de jornalismo nas Américas do Centro Knight, o predecessor do LatAm Journalism Review.

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