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Jornalista argentino é impedido de entrar na Venezuela para cobrir votação da Assembleia Constituinte

O reconhecido jornalista argentino Jorge Lanata foi detido por oito horas e impedido de entrar na Venezuela antes de uma votação controversa para uma Assembléia Constituinte que redigirá uma nova constituição para o país.

O apresentador do programa de domingo Periodismo Para Todos, do Canal 13, disse que foi detido por oito membros fortemente armados do Serviço Nacional de Inteligência Bolivariana (Sebin), informou Todo Noticias. O jornalista e sua produtora, Martina Perdiguero, foram deportados para o Panamá porque não foram autorizados pelo Ministério do Poder Popular para Comunicação e Informação (Minci) a fazerem reportagens no país, de acordo com Clarín.

Lanata contou a Todo Noticias que, pouco antes de serem libertados e escoltados para o avião, um dos membros do Sebin disse a ele: "Mandaram te dizer, de cima, que a Venezuela não é uma colônia".

O jornalista também afirmou que provavelmente encontrará outra maneira de explicar o que está acontecendo em Caracas e mostrar a saída dos venezuelanos para a Colômbia. De acordo com o Todo Noticias, ele continuará informando sobre a Venezuela a partir da fronteira colombiana.

A Associação das Entidades Jornalísticas Argentinas (Adepa) condenou a deportação de Lanata. "[Adepa] considera extremamente grave que o acesso de jornalistas a um país para cobrir um evento de notícias seja limitado", afirmou a organização em comunicado de imprensa. "Esta medida viola os padrões democráticos e é um novo sinal da extrema deterioração dos direitos humanos e da liberdade de expressão na Venezuela".

Essa é a segunda vez que Lanata foi detido na Venezuela, de acordo com El Trece, como o Canal 13 é conhecido na Argentina. Em outubro de 2012, Lanata e sua equipe foram interrogados ao entrar no país e detidos pelo Sebin ao sair. Na época, foi informado que seu material jornalístico havia sido apagado. Ele estava no país para cobrir as eleições presidenciais entre Hugo Chávez e Henrique Capriles.

Neste domingo, 30 de julho, o país realizará eleições para a Assembleia Nacional Constituinte convocada pelo presidente Nicolás Maduro. Os membros desta assembleia serão encarregados de criar uma nova constituição e terão a capacidade de dissolver instituições estatais. Em um referendo convocado pela oposição na Assembleia Nacional em 16 de julho, o grupo disse que 98% de mais de 7,1 milhões de eleitores rejeitavam a assembléia constituinte.

O dia em que Lanata foi deportado, 27 de julho, foi o segundo dia de uma greve de 48 horas convocada pela oposição para boicotar as eleições da assembléia constituinte. A oposição pediu novos protestos antes da votação, enquanto o número de mortos relacionados às manifestações aumentava e as autoridades solicitavam medidas de segurança para proibir protestos políticos, segundo informou a AP.

Também no dia 26 de julho, o Departamento do Tesouro dos EUA sancionou 13 ex-funcionários e atuais membros do governo venezuelano. De acordo com o The Hill, o Escritório de Controle de Ativos Estrangeiros (OFAC) "foi atrás especificamente de pessoas envolvidas com as próximas eleições e com a suposta repressão violenta de protestos, corrupção e manipulação monetária". O presidente Donald Trump ameaçou determinar novas sanções econômicas se o governo continuar com a votação. Em resposta, Maduro disse que não reconheceria nenhuma sanção dos EUA.

O Instituto da Imprensa e da Sociedade (IPYS) da Venezuela alerta para ameaças à liberdade de expressão nos dias anteriores à votação. O instituto registrou 22 casos de violações da liberdade de expressão de 24 de junho a 27 de junho. A maioria dos casos foi devido a ações da Guarda Nacional Bolivariana, disse a organização.

O IPYS Venezuela também disse que 17 correspondentes estrangeiros foram deportados do país entre 2016 e 2017.

Mais recentemente, em 28 de junho, a organização venezuelana de direitos humanos Provea informou que Paulo Paranuaga, jornalista brasileiro do jornal francês Le Monde, foi expulso da Venezuela ao tentar entrar no país.

Em vários posts no Twitter, a organização informou que o governo venezuelano negou a sua acreditação como jornalista e, por essa razão, ele foi expulso. "O Ministério que nunca responde diz que não tem minha acreditação", disse Paranuaga à organização.

Nota do editor: Essa história foi publicada originalmente no blog de jornalismo nas Américas do Centro Knight, o predecessor do LatAm Journalism Review.

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