texas-moody

Jornalista peruana denuncia políticos e diretores de veículos por espionagem no polêmico caso dos "narcoindultos"

  • Por
  • 31 outubro, 2013

Por Alejandro Martínez

Mónica Vecco, jornalista investigativa do Peru,​ denunciou na semana passada cinco pessoas --entre elas políticos e diretores de mídia -- por supostamente invadirem seu e-mail e utilizarem várias mensagens fora de contexto para acusá-la de ajudar um fugitivo a deixar o país. De acordo com a denúncia, as ações eram parte de um plano para denegrir sua imagem e, por extensão, os recentes esforços legislativos e jornalísticos de investigar um suposto caso de corrupção durante o governo do ex-presidente Alan García.

Vecco, que também relatou ter recebido ameaças de morte, pediu proteção policial para ela e seu filho de dez anos.

A jornalista denunciou Mauricio Mulder, congressista peruano do partido político APRA e dono do jornal​ El Diario de Hoy; Jorge del Castillo, secretário-geral do mesmo partido; Fernando Viana, diretor do El Diario de Hoy;  e Rosana Cueva, diretora da televisão Panorama. Mónica Vecco também denunciou o ex-traficante de drogas Carlos Butron Dos Santos, que deu um depoimento chave no atual escândalo peruano dos​ “narcoindultos”, em que o governo de García é acusado de vender "perdões presidenciais" a narcotraficantes.

Vecco os acusa de crime informático, crime contra a privacidade, violação de comunicações, crime contra a liberdade pessoal e difamação.

Na sua queixa à comissão multipartidária encarregada de investigar a gestão de García, a “megacomisión”, a jornalista peruana descreve que tem sido alvo de uma campanha que começou em setembro com vários ataques e invasões às suas contas eletrônicas profissionais.

Vecco narra que, pela sua experiência como repórter investigativa, foi convidada em janeiro de 2012 a dirigir e verificar os dados da megacomisión. Vecco terminou seu contrato em maio de 2013 e, desde então, tem ministrado cursos de jornalismo em universidades e trabalhado como consultora para organizações internacionais.

Em 7 de setembro, o congressista da APRA Mauricio Mulder acusou publicamente o congressista Sergio Tejada, criador da "megacomisión", de vazar para Vecco um relatório preliminar das suas investigações. Na sua denúncia, a jornalista salientou que tinha deixado a Comissão três meses antes do vazamento e nunca havia trabalhado para Tejada.

Dias depois, o El Diario de Hoy – propriedade de Mulder – acusou a jornalista de ter recebido um salário questionável e de ter mantido uma relação amorosa com um outro ex-integrante da equipe técnica da comissão.

Em 19 de outubro, Rosana Cueva, do programa peruano Panorama, contatou Vecco para dizer que tinha obtido cópias de vários e-mails que ela havia trocado com Butrón Dos Santos, as quais divulgaria no dia seguinte.

Na sua queixa, Vecco explicou a natureza das mensagens. A jornalista garante que o primeiro contato com Butron Dos Santos - que recentemente fugiu do país - foi no final de setembro, quando este se apresentou pelo Facebook.

"Me encontrando no livre exercício da minha profissão de pesquisa jornalística, cruzei informação conversando com alguns colegas, e decidi aceitar o contato por interesse jornalístico, pois poderia lançar luz sobre as verdadeiras razões para a sua fuga ", disse Vecco na sua denúncia.

No entanto, quando o programa Panorama divulgou parte dos e-mails em 20 de outubro, com a participação telefônica do ex-presidente Alan García, Mauricio Muller acusou Mónica Vecco de ajudar Butrón Dos Santos a deixar o país. Jorge del Castillo a acusou de ter ajudado o ex-detento a entrar em contato com veículos de mídia.

No mesmo programa, Butrón Dos Santos também aparece em um vídeo, supostamente gravado no Brasil, no qual se retrata​ das acusações iniciais contra o governo de García e garante que as fez sob pressão do deputado Tejada. Segundo Panorama, Butros Dos Santos trocou e-mails com Vecco, que teria ofecerido ajudar o narcotraficante com o Ministério Público.

Em 21 de outubro, Jorge del Castillo denunciou Vecco e Tejada por formação ilícita de quadrilha, entre outras acusações.

Tejada classificou a mudança de versões de Butrón dos Santos como uma tentativa de denegrir a "megacomisión". Por sua vez, o promotor anti-corrupção Julio Arbízu disse ter recebido uma denúncia em 24 de outubro de colaboradores anônimos sobre tentativas de comprar o silêncio de testemunhas no caso "narcoindultos", incluindo um suposto pagamento para Butrón Dos Santos mudar sua versão.

Em sua denúncia, Vecco disse que não investigou o caso  "narcoindultos" dentro da "megacomisión" ou ajudou Butrón Dos Santos e assegurou que versões editadas dos e-mails apresentados no Panorama foram " maliciosamente usadas como elemento incriminatório".

Vecco também acrescentou que os ataques procuram desacreditar o trabalho legislativo e jornalístico em torno de supostos atos de corrupção no governo de Garcia:

Qual era o objetivo de todas essas falsidades? Era óbvio que se estava preparando uma grande operação, cujos efeitos não sabemos, que visava - agora  sabemos pela imprensa - a desacreditar as investigações da "Megacomisión", denegrir o deputado Sergio Tejada , os promotores Julio Arbízu e Jose Antonio Maldonado e intimidar jornalistas investigativos de jornais como Diario 16,  La República, Caretas, etc, e programas de TV como Cuarto Poder de América Televisión e Programa en ATV Canal 9 TV, RML , dirigido pelo jornalista Augusto Álvarez Ródrich, que vêm dando contribuições muito importantes com suas próprias investigações e denúncias contra a corrupção.

Após a transmissão do programa, Vecco disse que notou estar sendo seguida por veículos e motocicletas até sua casa e escritório. Na semana passada, Vecco acrescentou que um homem bem vestido se aproximou dela e, após mencionar o episódio do programa Panorama, disse "desta vez você não se salva, nós estamos seguindo seus passos…cuidado. "

Vecco solicitou proteção policial 24 horas por dia e responsabilizou Mauricio Mulder e Jorge del Castillo por qualquer "caso de atentado contra minha vida , corpo e saúde, ou contra qualquer dos meus parentes ou indiretos" .

"Assim também faço responsável Rosana Caverna Mejia , e os proprietários da referida emissora de TV Panamericana por divulgar informações falsas, sem confirmar comigo sua verdade - as quais nego completamente", acrescentou.

Nota do editor: Essa história foi publicada originalmente no blog de jornalismo nas Américas do Centro Knight, o predecessor do LatAm Journalism Review.

Artigos Recentes