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Jornalistas independentes na Nicarágua relatam agressões físicas, ameaças de morte e campanhas de difamação em redes sociais

Enquanto os ataques contra jornalistas na Nicarágua aumentam após meses de protesto, jornalistas independentes no país pedem liberdade para realizar seu trabalho. Eles também estão expressando esperança nas organizações internacionais no terreno que estão trabalhando para conter a violência na nação centro-americana.

Jornalistas independentes no país apresentaram uma série de demandas e destacaram numerosos ataques à imprensa em um comunicado apresentado durante uma coletiva de imprensa em 28 de junho.

Esta é a segunda declaração desse tipo divulgada por jornalistas independentes na Nicarágua desde o início dos protestos, primeiro contra propostas de reforma previdenciária e, em seguida, mais genericamente contra o presidente Daniel Ortega.

Como a declaração observa, quando os jornalistas falaram pela primeira vez em 9 de maio, 46 ​​pessoas haviam morrido, incluindo o jornalista Ángel Gahona em Bluefields, que foi baleado em 21 de abril enquanto cobria os protestos.

"Quando fizemos aquele pronunciamento, nunca pensamos que 47 dias depois a violência da ditadura aumentaria e as mortes dos nicaraguenses teriam crescido cinco vezes", disse o comunicado.

A carta destaca vários incidentes, incluindo um ataque ao canal 100% Noticias, incêndios na estação de rádio oficial Nueva Radio Ya e na Radio Nicaragua, e ameaças contínuas de morte contra o proprietário da Rádio Darío, Aníbal Toruño, sua família e colegas de trabalho. A estação foi incendiada em abril depois que homens desconhecidos jogaram gasolina dentro da estação e no telhado e dispararam um morteiro contra as instalações, informou o La Prensa na ocasião.

Em 19 de junho, “equipes do 100% Noticias e do Canal 12 foram detidas sob a mira de um [fuzil] AK, receberam ameaças de morte e tiveram seus equipamentos de imprensa e pertences pessoais roubados”, segundo o comunicado. Na mesma manhã, uma equipe do La Prensa teve que escapar de tiros disparados por paramilitares na mesma área, informou o jornal na época.

Os ataques também estão acontecendo via internet.

Jornalistas de Bluefields, onde o jornalista Ángel Gahona foi morto, foram identificados na semana passada nas redes sociais como sendo os autores intelectuais de seu assassinato, disse o comunicado.

Uma das jornalistas, Ileana Lacayo, relatou que após a morte de Gahona, “ela e seus colegas foram ‘perseguidos’ pela ‘polícia civil e uniformizada’, que também ‘monitoraram os movimentos’ de seus familiares”, segundo Confidencial.

E jornalistas independentes e funcionários de La Prensa, Confidencial, Radio Universidad, Radio Camoapa, Corporación, Artículo 66, Canal 10 e outros foram sitiados e receberam ameaças de morte em casa e de perfis falsos nas redes sociais, informou o comunicado. Dois comunicadores tiveram que deixar suas casas depois de serem perseguidos, segundo os jornalistas independentes.

“Rejeitamos toda agressão - direta ou indireta - contra jornalistas de qualquer meio de comunicação e exigimos do Estado e da sociedade uma política de tolerância zero diante de agressões contra jornalistas”, diz o comunicado.

Os signatários também exigiram que Ortega respeite o direito à liberdade de pensamento e de informação. Eles rejeitaram campanhas de difamação contra jornalistas e “responsabilizaram o Estado por suas conseqüências”.

Os jornalistas depositaram suas esperanças no Grupo Interdisciplinar de Peritos Independentes, proposto pela Comissão Interamericana de Direitos Humanos (CIDH), para esclarecer a responsabilidade pela violência ocorrida durante os protestos.

Além disso, a CIDH anunciou em 25 de junho que lançou um Mecanismo Especial de Monitoramento para a Nicarágua (MESENI, na sigla em espanhol) para monitorar a situação dos direitos humanos no país. Esta foi uma continuação da publicação do relatório da comissão, “Sérias violações de direitos humanos no contexto de protestos sociais na Nicarágua”. Segundo a CIDH, os jornalistas são alguns dos mais afetados pela repressão no país.

A declaração dos jornalistas também expressou a esperança de que o MESENI e o Escritório do Alto Comissariado das Nações Unidas para os Direitos Humanos, que colaboram com a CIDH, “possam realizar com sucesso pelo trabalho de apoio à eliminação da violência que os grupos policiais e parapoliciais desencadearam".

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