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Jornalistas são brutalmente reprimidos por policiais e manifestantes na Argentina enquanto cobrem manifestações

Mais de uma dúzia de jornalistas foram feridos por forças de segurança e manifestantes durante um protesto em Buenos Aires, na Argentina, em 14 de dezembro. De acordo com vários meios de comunicação argentinos, esta foi uma das mais brutais repressões até agora contra imprensa e manifestantes sob o governo do atual presidente argentino, Mauricio Macri.

Ao menos 12 foram feridos por forças de segurança e outros quatro por manifestantes durante o protesto contra a proposta de corte de aposentadorias, de acordo com a Associação de Entidades Jornalísticas Argentinas (Adepa, na sigla em espanhol).

A Adepa expressou repúdio à "violência contra trabalhadores de imprensa" durante o grande protesto, e pediu às autoridades que investiguem o ocorrido.

"Sempre condenamos os atos de agressão contra jornalistas no cumprimento de suas tarefas profissionais", Andrés D'Alessandro, diretor-executivo da Adepa disse ao Centro Knight.

O protesto, organizado por diferentes organizações da sociedade civil, ocorreu na frente do Congresso Nacional, na Plaza de los Dos Congresos. A manifestação foi em oposição a uma reforma do governo Macri que propõe cortar a aposentadoria de milhões. Este ajuste, a "reforma da previdência", deveria ser discutido pelos legisladores em 14 de dezembro.

No entanto, 15 minutos antes da sessão parlamentar começar, centenas de policiais que haviam cercado o perímetro do Congresso com cercas de metal começaram a disparar balas de borracha e gás lacrimogêneo contra manifestantes, informou El Mundo. Caminhões hidrantes também foram usados para dispersar a multidão, de acordo com o site.

Segundo a Adepa, os trabalhadores da imprensa atacados são: Pablo Piovano, fotógrafo independente que também trabalha no Página/12; Fabio Soria, Lucila Trujillo e Guido Rodríguez, repórteres e cinegrafista da C5N; Germán García Adrasti, fotógrafo do Clarín; Luis Costantini, cinegrafista do Canal 9; Marcelo Silvestro, fotógrafo do Perfil; Juan Cruz Clemente, Nicolás Munafó e Santiago Riva Roy da América TV; Federico Hauscarriaga, fotógrafo da AnRed; Nicolás Fiorentino, jornalista da Letra P; Jerónimo Mura e Fabio Soria do La Nación +; Lola Cardoner, repórter do Canal 9; e Diego Martínez, fotógrafo do Tiempo Argentino.

De acordo com o Fórum de Jornalismo Argentino (Fopea, na sigla em espanhol), Mura, Soria, Cardoner, Martínez, assim como os jornalistas Gabriela Zagordo e Cristian Delicia, foram agredidos por manifestantes.

Da mesma forma, tanto o Fopea quanto a Adepa denunciaram que as equipes de Crónica TV, C5N, América TV e Canal 9 também sofreram danos enquanto transmitiam o protesto.

"Infelizmente, os trabalhadores da imprensa geralmente são atacados nas manifestações pelas forças de segurança e, às vezes, também pelos manifestantes", disse D'Alessandro. Ele acrescentou que as autoridades devem investigar o que aconteceu e implementar as medidas adequadas para evitar que essas agressões aconteçam de novo.

De acordo com o Fopea, entre os casos mais sérios estão os dos fotojornalistas Pablo Piovano e Federico Hauscarriaga, que foram atingidos por balas de borracha.

Um policial atirou contra Piovano cerca de dez vezes, a uma distância de apenas meio metro, segundo o Página/12. Outro policial atirou contra Hauscarriaga diretamente de uma distância de cerca de 20 metros, mesmo o jornalista mostrando sua credencial de imprensa várias vezes, do lado de fora da linha onde a polícia avançava para controlar o protesto, de acordo com o Fopea.

A Associação de Repórteres Gráficos da República Argentina (Argra) denunciou em seu Facebook relatos de que os trabalhadores de imprensa que cobriam o protesto "foram assimilados como 'alvos a serem reprimidos' pelas forças que respondem ao Ministério da Segurança". A associação responsabilizou o governo pela segurança dos jornalistas.

De acordo com a Argra, jornalistas de outras cidades argentinas, que também cobriram os protestos do dia 14 de dezembro contra o ajuste das aposentadorias, foram reprimidos da mesma forma. Vários repórteres e fotógrafos foram atacados em Neuquén e La Plata. "Não sabemos de um único cado de punição aos responsáveis ou admissão dos fatos pelas autoridades", comunicou a organização.

Quanto aos manifestantes, a polícia deteve 41 pessoas durante os protestos sob acusação de "intimidação pública" e "resistência a autoridade". Segundo Página/12, o número de detidos subiu para 45 quando outras quatro pessoas foram presas na madrugada do dia 15 de dezembro. Elas participavam de uma vigília na parte de fora de uma delegacia onde alguns dos detidos estavam, segundo o Página/12.

Durante uma coletiva de imprensa organizada por representantes de várias organizações de direitos humanos, sindicatos e grupos políticos, os participantes pediram a renúncia da ministra da Segurança, Patricia Bullrich, pela forte repressão no dia 14 de dezembro contra a manifestação popular, de acordo com Página/12 .

"Isso não é democrático. Não há diálogo". Temos jornalistas e fotógrafos feridos.Isso nos lembra de outras épocas de militarização na Argentina," disse o ganhador do Prêmio Nobel Adolfo Pérez Esquivel, que também chefia o Servicio Paz y Justicia (Serpaj). Na coletiva de imprensa, Pérez Esquivel foi acompanhado por Nora Cortiñas, cofundadora das Mães da Plaza de Mayo, assim como integrantes de outras organizações sociais.

Organizações da sociedade civil e outros movimentos sociais convocaram um novo protesto para segunda, dia 18 de dezembro, ao meio-dia, segundo o Página/12. Neste dia, o governo vai tentar discutir e votar a reforma da previdência mais uma vez no Congresso.

Nota do editor: Essa história foi publicada originalmente no blog de jornalismo nas Américas do Centro Knight, o predecessor do LatAm Journalism Review.

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