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Mídias digitais venezuelanas lançam estratégia conjunta de publicidade para garantir rentabilidade

Esta história é parte de uma série sobre Jornalismo de Inovação na América Latina e Caribe (*)​


Depois de vários anos unindo forças, a "Aliança Rebelde" deu mais um passo a frente na sua luta para sobreviver às forças do lado negro.

Não é o enredo de uma nova sequência de "Star Wars", mas sim uma estratégia de negócios estabelecida por três sites venezuelanos para garantir a rentabilidade e se proteger contra a censura - em um paralelo intencional com a saga do filme - chamada Aliança Rebelde.

A partir deste mês, os sites de notícias Runrun.es, Tal Cual e El Pitazo oferecem aos clientes combos de publicidade com a oportunidade de presença nos três portais, a um preço mais competitivo do que se pagassem para aparecer em cada um separadamente.

"Oferecemos a oportunidade de aparecer nos três sites com um único aviso, uma única fatura, uma única ordem de compra. Também padronizamos os tamanhos dos anúncios, não estamos vendendo posições, mas os banners rodam em todas as posições que existem nas três páginas", explicou Carmen Riera ao Centro Knight. Riera é a gerente editorial da Runrun.es, o site que impulsionou a idéia para a Aliança.

A fórmula é baseada no número de exibições de página e número de visitantes únicos que cada site tem, portanto o lucro é dividido em partes proporcionais ao tamanho do público. Desta forma, cada veículo economiza tempo e despesas em pessoal, já que apenas dois profissionais de marketing fazem o trabalho para os três portais.

"Nós padronizamos os processos para tornar a vida dos anunciantes mais fácil. E, ao mesmo tempo, oferecemos mais tempo na página, mais visualizações de página e mais variedade de público, porque os três meios de comunicação, embora tenham coisas em comum, também têm suas diferenças", acrescentou Riera.

No dia 7 de dezembro, Runrun.es, El Pitazo e Tal Cual lançaram o primeiro anúncio sob o novo modelo. É uma publicidade para o filme "Carlos Andrés Pérez: Dos intentos", que já aparece simultaneamente nos três sites.

"É uma aliança única na América Latina e uma nova aposta comercial que nos permite combinar audiências únicas. Sendo uma tríplice aliança, ela tem uma audiência de mais de 10 milhões de pessoas, um público premium, em que mais de 70% são tomadores de decisão", disse Carlos González, gerente comercial da Aliança, em um comunicado de imprensa.

Diante da situação política e econômica na Venezuela, que não tem ofertas de publicidade significativas devido à escassez de produção no país, os sites tiveram que encontrar uma nova maneira de atrair os poucos anunciantes que existem e garantir investimentos com a soma dos públicos.

Grandes corporações de produtos de massa, como alimentos, estão desaparecendo como anunciantes, especialmente na mídia digital, que luta pela liberdade de expressão, uma vez que as empresas não querem estar relacionadas com veículos críticos ao governo.

"Mas novas pequenas empresas estão surgindo que são oportunidades como anunciantes, e estamos nos dirigindo a elas. Já estamos à procura de empresas não tão grandes, interessadas em anunciar conosco", disse César Batiz, diretor editorial do El Pitazo, ao Centro Knight.

O objetivo inicial da Aliança é ganhar pelo menos dez clientes em três meses, a fim de garantir seu funcionamento. Mas em um panorama econômico com inflação de até 750%, de acordo com o Fundo Monetário Internacional, mesmo se a estratégia funcionar, a sobrevivência dos sites não é assegurada.

"Nenhuma das três mídias viverá apenas disso. Temos que buscar outras formas de financiamento, porque temos que pagar os servidores em dólares, o que é difícil atualmente", disse Carmen Riera. "Com a Aliança, pelo menos tentamos garantir que as despesas que temos em moeda nacional sejam cobertas pela publicidade nacional, e ver como podemos liquidar as despesas em dólares".

Por enquanto, os meios digitais nativos são os únicos que conseguiram se libertar da censura do governo, que desde 2012 implementou medidas repressivas, como a compra de meios de comunicação e o controle do papel para a mídia impressa.

"Já vimos processos a meios digitais como o La Patilla, temos visto [o caso do] proprietário de mídia digital Braulio Jatar, que foi preso sem uma razão clara", disse Batiz. "Além disso, a internet, por ser muito lenta, já é um obstáculo para nós. É por isso que estamos empenhados em fazer chegar informações através de outros canais."

As alianças têm desempenhado um papel fundamental para fugir da censura da mídia digital. A Runrun.es iniciou uma coalizão com outras mídias no plano editorial, no contexto das eleições de 2015, quando a cobertura do processo eleitoral foi dividido com outros sites.

Estas alianças editoriais continuaram com colaborações em jornalismo investigativo e cobertura de grandes eventos, como o protesto popular do dia 23 de outubro a favor de um referendo pela saída do presidente Nicolás Maduro.

Além disso, Runrun.es, El Pitazo e Tal Cual juntaram-se ao site de notícias Crónica Uno e à plataforma de televisão VIVOplay para publicar notícias e compartilhar atualizações sobre os protestos no site de cada meio e em suas mídias sociais.

“Nesses momentos em que somos atacados e querem nos bater, trabalhar em equipe é o que nos faz grandes", disse Riera. "Diante de um monstro tão grande que tem todo o poder e todo o dinheiro, não podemos nos assustar, muito pelo contrário. O que devemos fazer é buscar fórmulas criativas para superá-lo e avançar, para que o público seja informado e a democracia melhore".


(*) Esta história é parte de um projeto especial do Centro Knight que é possível graças ao apoio generoso da Open Society Foundations. A série "Jornalismo de Inovação" cobre novas tendências de mídias digitais e melhores práticas na América Latina e Caribe.

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Nota do editor: Essa história foi publicada originalmente no blog de jornalismo nas Américas do Centro Knight, o predecessor do LatAm Journalism Review.

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