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No 25o ISOJ, jornalista Wendi C. Thomas conta como reimaginou o que poderia ser uma redação e criou o MLK50

  • Por Olivia Dilley
  • 17 abril, 2024
Woman in glasses and red shirt at podium

Wendi C. Thomas fundou MLK50: Justice through Journalism em 2017. (Foto: Patricia Lim/Knight Center)

Wendi C. Thomas, fundadora e editora do meio de notícias sem fins lucrativos MLK50: Justice through Journalism (Justiça por meio do jornalismo), criou uma redação que centralizou "pessoas tradicionalmente colocadas à margem".

Durante sua palestra de abertura do 25º Simpósio Internacional de Jornalismo Online (ISOJ), em 12 de abril, Thomas contou essa história em uma conversa moderada por Emily Ramshaw, cofundadora e CEO do The 19th*.

O MLK50, fundado originalmente em 2017 como um projeto de um ano, concentra-se em abordar questões críticas em Memphis, Tennessee. Thomas disse que idealizou o MLK50 em 2008, enquanto coordenava a cobertura do 50º aniversário do assassinato de Martin Luther King Jr. para o jornal Daily Paper em Memphis.

"A pesquisa que fiz durante esse projeto realmente abriu meus olhos", disse Thomas. “Foi quando percebi que o único tipo de jornalismo que eu queria fazer, o único tipo de jornalismo que era importante para mim, era o jornalismo que centraliza as pessoas que foram colocadas à margem.”

Mas esse tipo de jornalismo não era possível em um jornal tradicional, disse ela.

"Eu costumava pensar que as redações tradicionais poderiam ser reformadas – uma pequena mudança aqui, mais alguns tomadores de decisão negros ali, mas não acho mais isso", disse Thomas. “Acho que para fazer justiça ao jornalismo é preciso reimaginar completamente o que é uma redação e o que ela poderia ser.”

O impulso de dar vida ao MLK50 surgiu em 2014, quando Thomas foi atacada e ameaçada depois de escrever colunas no Daily Paper pedindo a remoção dos monumentos confederados, que fazem alusão ao movimento que se opôs à abolição da escravização de pessoas negras nos Estados Unidos.

"O mais angustiante é que os chefes da redação não pareciam levar a sério minhas preocupações com a segurança, e eu não me sentia apoiada. Acabou sendo uma das épocas mais angustiantes de minha carreira", disse Thomas. “Mas acabou sendo uma das melhores coisas que já me aconteceram.”

Thomas disse que aproveitou a oportunidade para criar uma redação que lhe permitisse fazer o jornalismo que ela acreditava ser possível.

"Essa redação com a qual eu sonhava seria liderada por pessoas não brancas", disse Thomas. “Ela centralizaria as pessoas tradicionalmente colocadas à margem por causa de sua raça, orientação sexual, identidade de gênero ou status de imigração.”

Seu sonho envolvia uma redação que representasse as pessoas a quem servia – dois terços dos residentes de Memphis são negros e mais de 50% são mulheres, disse Thomas.

"Nossa equipe de jornalistas intrépidos investigaria os poderosos", disse Thomas. “Celebraríamos a alegria, especialmente a alegria das pessoas negras, o que é importante porque muitos dos temas que cobrimos são bastante pesados. Seríamos a redação em que eu sempre quis trabalhar".

Thomas disse que sua redação pagaria os colaboradores de forma justa e rápida, evitaria trabalhar nos fins de semana, ofereceria benefícios generosos e incentivaria um equilíbrio saudável entre vida pessoal e profissional.

Em 2017, Thomas fez um curso de empreendedorismo em Harvard e concluiu seu projeto final sobre a redação dos seus sonhos, detalhando sua análise de orçamento e plano de negócios.

"Enviei o projeto e aguardei ansiosamente a resposta do meu professor", disse Thomas. “Minha ideia, ele me disse, não era viável. Foi como um soco no estômago.”

Mas Thomas não deixou que essas palavras a detivessem, disse ela. Ela procurou a orientação de um de seus outros professores, que a incentivou a acreditar que a ideia era possível e necessária.

Um ano antes do 50º aniversário da morte de Martin Luther King, Thomas começou a transformar seu sonho em realidade. Ela não tinha financiamento, experiência empresarial ou contatos, disse ela.

Os primeiros anos foram uma luta financeira, disse Thomas. Ela estava fazendo coisas nas quais não tinha experiência – contratando freelancers, aprovando faturas, redigindo pedidos de subsídios e entrando em contato com financiadores.

"É difícil ser uma mulher negra com ambição, afastar a dúvida mais pesada e se firmar depois que alguém considerado especialista diz que sua ideia não vai funcionar", disse Thomas. “Eu me encorajei. Às vezes, eu ainda queria jogar a toalha, mas me lembrava do compromisso que havia assumido com Memphis, o lugar que chamei de lar durante metade da minha vida.”

Thomas disse que ficou muito feliz quando seu jornal recebeu a primeira doação de 100 mil dólares e, depois disso, o dinheiro começou a fluir.

"Com certeza, lentamente, estávamos produzindo o tipo de jornalismo que eu esperava", disse Thomas. “Gradualmente, nos últimos sete anos, grande parte da minha visão se concretizou. Passamos de uma equipe de freelancers para uma equipe de 10 pessoas e estamos contratando mais quatro neste ano.”

Thomas disse que o orçamento do MLK50 disparou para US$ 2,4 milhões desde o primeiro ano.

"Minha equipe realmente elevou meu sonho e estou entusiasmada com o que eles vão desenvolver ao entrarmos neste sétimo capítulo", disse Thomas. “Mas vou deixar vocês com uma última afirmação. Estabeleçam metas tão grandes que façam outras pessoas rir de vocês. Esmague-as enquanto elas assistem.”

ISOJ é uma conferência global de jornalismo online organizada pelo Centro Knight para o Jornalismo nas Américas da Universidade do Texas em Austin. Em 2024, o evento está comemorando 25 anos reunindo jornalistas, executivos de mídia e acadêmicos para discutir o impacto da revolução digital no jornalismo.

 

Traduzido por Carolina de Assis
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