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No México, prêmios PEN são entregues a escritores e jornalistas que representam a liberdade de expressão

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  • 12 março, 2015

Por Jade Magalhaes*

Em um cenário onde a violência generalizada contra jornalistas continua, cinco escritores que mantêm a defesa da liberdade de expressão foram reconhecidos por sua excelência em jornalismo, literatura e por seu trabalho em direitos humanos.

PEN Internacional, fundada em 1921, foi a primeira associação mundial de escritores em defesa dos direitos humanos e da liberdade de expressão. De acordo com PEN, a organização sempre defendeu seus “membros incansáveis e dedicados que lutaram para assegurar que o direito a escrever, falar, ler e publicar esteja sempre no núcleo da nossa cultura”.

Especificamente, os Prêmios PEN México reconhecem jornalistas mexicanos que promovem um ambiente pacífico e sem censura para os meios de seu país. Este ano, PEN entregou seus prêmios em 22 de fevereiro durante PEN Pregunta, um protesto público onde jornalistas da Europa, Ásia e América falaram sobre temas relacionados com a liberdade de imprensa no México.

Entre os ganhadores está Elena Poniatowska, uma jornalista mexicana para quem explorar as injustiças sociais de seu país se tornou uma missão de vida. Um de seus trabalhos mais famosos foi a cobertura do assassinato de centenas de estudantes que protestavam na Cidade do México em 1968.

Quase cinco anos após a publicação de sua reportagem, Poniatowska ainda vê vestígios de uma supressão semelhante de discurso público no México. Depois de receber seu prêmio, a jornalista prestou homenagem aos 43 estudantes desaparecidos que as autoridades asseguram ter sido assassinados no estado de Guerrero em setembro passado.

“Estamos aqui porque amamos o México e nos resulta impossível nos desligarmos das desaparições de 43 estudantes de Ayotzinapa e da grande fossa que se tornou o estado de Guerrero”, disse Poniatowska durante seu discurso. “Estamos convencidos de que se atuarmos contra a impunidade, a corrupção e a hipocrisia de nosso governo o país inteiro terá muito a agradecer ao PEN Club e a cada um dos pais de família de Guerrero, em Michoacán ou em Ciudad Juárez, será possível dormir com a segurança de saber que seus filhos estão a salvo na escola, no parque ou na rua”.

A lista de ganhadores de 2015 inclui também uma repórter anônima da Aristegui Noticias, que investigou como o presidente do PRI na Cidade do México utilizava dinheiro público para receber serviços sexuais; Federico Mastrogiovanni, autor do livro ‘Nem vivos, nem mortos’; Darío Ramírez, defensor de direitos humanos e diretor da Artigo 19 no México e na América Central; e Pablo Ferri, que revelou que o Exército mexicano executou 22 civis no município de Tlatlaya.

Os Prêmios PEN e PEN Pregunta representam só duas iniciativas mexicanas de escritura destinadas a fomentar un ambiente de liberdade de expressão e eliminar a violência contra os jornalistas. No início de fevereiro, os coordenadores do evento anual Hay Festival decidiram retirar a sede do programa de Veracruz depois que jornalistas e escritores se queixaram em uma carta do fracasso do governador em proteger a liberdade de expressão no estado.

Em uma carta aberta dirigida aos diretores de Hay Festival, eles observaram que durante o governo de Javier Duarte 11 jornalistas foram assassinados e outros quatro estão desaparecidos. “Uma celebração da liberdade e da cultura, como é o Hay Festival, não pode ser realizada em um contexto de violência contra a liberdade e a cultura”, segundo a carta.

Com as tensões entre o governo e a imprensa, o futuro da liberdade de expressão no México pode continuar descansando nas mãos dos escritores e jornalistas valentes como os recentemente agraciados nos Prêmios PEN.

*Jade Magalhaes é estudante na turma "Jornalismo e Liberdade de Imprensa na América Latina" na Universidade do Texas em Austin.

Nota do editor: Essa história foi publicada originalmente no blog Jornalismo nas Américas do Centro Knight, o predecessor do LatAm Journalism Review.

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