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Novo podcast conta histórias de comunidades latino-americanas que resolvem seus problemas sem ajuda do Estado

Frente à ausência de cobertura de experiências comunitárias e de autogestão na mídia, a comunicadora mexicana Pâmela Carmona criou o Autonomías Podcast.

“Nos meios de comunicação, [as experiências de autogestão] são mostradas como exemplos inspiradores, como exceções à regra”, disse Carmona à LJR. “Enquanto na América Latina, ao menos na Colômbia e no México, as comunidades sempre se organizaram à sombra do Estado, que não chega a todos os lugares”.

Com o apoio da organização SembraMedia e da iniciativa GNI Startup Lab, uma aceleradora de meios independentes digitais em espanhol, Carmona lançou o Autonomías Podcast para saber como as pessoas ou comunidades da América Latina resolvem seus problemas de acesso à água, moradia, saúde, educação, entre outros, sem o apoio do Estado.

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O Autonomías Podcast conta histórias de comunidades que estão pondo a autogestão em prática, com ações diretas sobre seus próprios territórios

Esta iniciativa foi lançada em 2 de agosto de 2023 e é distribuída a cada 15 dias junto com uma newsletter com o mesmo nome. Atualmente, o podcast tem uma média de 150 ouvintes por episódio.

O podcast “foi selecionado pelo júri [do GNI Startups Lab] por seu alcance regional; a originalidade do tema; e pelo trabalho de produção que Carmona faz”, disse Sebastian Auyanet, consultor estratégico da SembraMedia e mentor designado para desenvolver o podcast junto com Carmona, à LJR.

Ao mesmo tempo, segundo Auyanet, ele também foi selecionado pelo currículo da comunicadora: “ela vem de organizações ligadas ao tema, o que a torna uma referência dentro daquele espaço comunitário, e isso é muito importante para um veículo de nicho como aquele que está produzindo”.

Autogestão e comunidades na América Latina

Quando Carmona fala de comunidades na América Latina, ela se refere a um grupo de pessoas que se organizam a partir de uma identidade que partilham pode ser indígena ou camponês , do território em que vivem ou de um objetivo comum.

Quando ela fala em autogestão, se refere à tomada de decisão partilhada por um grupo de pessoas ou uma comunidade, bem como à influência que podem ter nas decisões tomadas sobre os problemas que os afetam – por exemplo, como a decisão de um grupo de trabalhadores sobre um problema que afeta o seu trabalho numa fábrica.

Ela entende que, no contexto do podcast, a autogestão é a forma como “um grupo de pessoas autossatisfaz uma necessidade que tem”.

O problema, segundo ela, é a falta desse tipo de histórias de sucesso sobre autogestão na mídia. A este respeito, Auyanet concorda com Carmona e acrescenta que “estas abordagens aparecem nos meios de comunicação social apenas em assuntos muito específicos, quando se cobre habitação, por exemplo”.  

O primeiro episódio do Autonomías Podcast foi sobre a gestão comunitária da água na cidade de San Pedro de Atacama, no meio do deserto chileno.

No Chile, “as comunidades conseguiram organizar-se e encontrar lacunas na lei para obter os direitos de uso do rio San Pedro e obter água para as suas culturas”, disse Carmona.

Outra história que o podcast contou foi a de uma comunidade em Rancho Quemado, na Costa Rica, área que abriga 2,5% da biodiversidade mundial. O episódio mostrou como essa comunidade deixou a caça de lado e passou fazer monitoramento ecológico e preservar a fauna nativa do local. Segundo Carmona, esta é uma história que busca exemplificar a conservação comunitária em ação.

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Pamela Carmona conversa com Carlos Vega, um dos líderes da comunidade Coyo, em San Pedro do Atacama (Foto: Reprodução Autonomías Podcast)

O que Carmona tenta fazer com o Autonomías Podcast é “ir além desse quadro estatal e da participação cidadã. Falemos antes de ‘ação direta’, o que significa falar de autogestão. Ou seja, pegar os problemas e resolvê-los você mesmo, sem recorrer a uma autoridade externa ou superior”.

Além disso, Carmona afirma que histórias de autonomia e autogestão são muitas vezes contadas nos meios de comunicação como experiências únicas e isoladas umas das outras, quando, na realidade, estão imersas em redes e movimentos maiores.

“Há todo um movimento de construção de autonomias em todo o nosso território, muito maior e mais real. Não se trata apenas de um exemplo inspirador e especial que surgiu num determinado território, mas que é difícil de replicar noutros lugares”, explica.

Segundo Auyanet, o valor jornalístico que o Autonomías Podcast tem é “documentar os esforços de autogestão que estão sendo feitos em diferentes partes da América Latina. Aqueles contados no podcast são histórias interessantes que abrem a nossa mente para outras perspectivas e formas de nos organizarmos, e isso também é uma das funções do jornalismo”.

Traduzido por André Duchiade
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