Por Alejandro Martínez
O Presidente da Guatemala Otto Perez Molina e a vice-presidente Roxana Baldetti retiraram neste fim de semana duas denúncias - uma por chantagem e desacato e outra por crimes contra as mulheres - que foram feitas em dezembro passado contra o diretor do jornal elPeriódico José Rubén Zamora, segundo informou a agência de notícias EFE.
Pérez Molina e Baldetti decidiram retirar as acusações criminais após consulta com seus advogados. O anúncio foi feito no dia 10 de janeiro a jornalistas durante uma viagem de trabalho. Ambos informaram que vão passar as queixas para um Tribunal de Honra, que julga questões relacionadas com a liberdade de expressão, conforme informou o elPeriódico.
Pérez Molina denunciou Zamora no final do ano passado por coação e desacato, após o jornalista ter supostamente tentado extorquir do presidente 1,5 milhão de dólares. Após as denúncias, um tribunal proibiu Zamora de deixar o país e congelou suas contas bancárias.
Já a vice-presidente Baldetti apresentou uma denúncia em um tribunal de crimes contra as mulheres, alegando danos psicológicos causados por Zamora em função de seus comentários publicados no elPeriódico. Em dezembro, Zamora recebeu uma ordem judicial que o proibia de intimidar ou se aproximar da vice-presidente.
Zamora protestou contra as denúncias, que chamou de tentativa de cercear a liberdade de expressão, e afirmou ainda que preferia ir para a cadeia a abandonar suas críticas. Na semana passada, Zamora apresentou medida judicial acusando os dois funcionários de abusos de autoridade e garantindo que seus comentários estão respaldados pela constituição do país.
Zamora disse ao jornal espanhol El País que as alegações foram resultado da militarização do país após a chegada ao poder de Pérez Molina, um general aposentado.
"Esta aberração jurídica ocorreu porque o presidente está muito mal assessorado", afirmou Zamora ao jornal . "Eles incluem delitos que não existem mais, como o desacato. Voltamos à fase de militarização. Os advogados do presidente, antes de serem advogados, são militares - fizeram carreira enquanto prestavam o serviço militar- e cederam à mentalidade de comando-obediência."
De acordo com o El País, as medidas judiciais que impedem que Zamora de deixar a Guatemala e se aproximar de Baldetti estão sem efeito.
Zamora e elPeriódico têm sido críticos recorrentes do governo de Pérez Molina. Em um extenso relatório publicado no ano passado, o jornal detalhou acusações de corrupção e enriquecimento ilícito de várias pessoas, incluindo familiares da vice-presidente Baldetti.
A Associação Interamericana de Imprensa anunciou nesta segunda-feira (13) que vai enviar em fevereiro uma missão internacional para a Guatemala, para avaliar o caso de Zamora e a situação da imprensa no país.
Nota do editor: Essa história foi publicada originalmente no blog de jornalismo nas Américas do Centro Knight, o predecessor do LatAm Journalism Review.
