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Quatro anos após o assassinato do jornalista mexicano "El Choco" em Ciudad Juárez, crime continua impune

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  • 15 novembro, 2012

Por Rocío Gallegos*

Armando Rodríguez “El Choco”, repórter da área policial do El Diario em Ciudad Juárez, México, foi assassinado em novembro de 2008 em frente à sua casa. Rodríguez morreu protegendo a sua filha, quando ia levá-la para a escola.

Rodríguez foi o primeiro jornalista assassinado em Ciudad Juárez desde o início de uma guerra territorial entre duas organizações criminosas pelo controle do tráfico de drogas na região. Mais de 10 mil pessoas morreram assassinadas na cidade desde 2008.

Apesar do assassinato de Rodríguez ter repercutido em todo o país, o crime continua impune. O texto abaixo foi escrito por Rocío Gallegos, jornalista na Ciudad Juárez, no quarto aniversário da morte de seu colega.

Ciudad Juárez, México.- O último dia de Armando Rodríguez na redação do El Diario de Juárez foi acelerado. Ele cobriu o julgamento de um assaltante, escreveu sobre a identidade de sete mortos em incidentes separados e por volta de três da tarde, teve que voltar para as ruas para cobrir o assassinato de dois membros da Agência de Investigação do Estado.

Essa foi sua última matéria. Saiu tarde da redação e nunca mais voltou. Foi assassinado nas primeiras horas do dia seguinte, em 13 de novembro de 2008. Seu corpo foi atingido por 10 balas.

Passados quatro anos desde então, nenhuma instância judiciária, estadual ou federal, avançou no esclarecimento do crime do jornalista, que carinhosamente chamávamos ´Choco´.

Investigadores têm divulgado informações erradas sobre o caso. Até o presidente Felipe Calderón mentiu quando afirmou, em setembro de 2010, que o caso foi resolvido porque dois dos responsáveis foram presos. Dois anos depois do falso anúncio, o crime não só não foi elucidado, como a impunidade que o rodeia serviu de estímulo à brutal onda de violência que custou a vida de dezenas de colegas mexicanos.

Para manter as aparências, o governo da a ideia de que investiga, de que protege os jornalistas e veículos de imprensa, lançando protocolos de segurança que na realidade não funcionam, mas a verdade é que nos deixou sozinhos contra a impunidade.

Nesse contexto, vemos agora a administração de Calderón chegando a um final doloroso. Parece que o presidente vai terminar o seu mandato fracassando em seu compromisso de investigar "até as últimas conseqüências" o assassinato de Armando, o jornalista mais experiente e bem informado sobre temas de segurança na fronteira.

O mais lamentável é que o clamor por justiça não tem ressoado nem no plano estadual e, embora a administração tenha mudado há mais de dois anos, o Governo de Chihuahua pouco fez para esclarecer este homicídio.

Nenhuma instância foi capaz de entregar resultados para levar à justiça quem não só tirou a vida de um jornalista e deixou órfã uma família, mas atentou contra a liberdade de expressão e o direito da sociedade de estar bem informada.

Esses 10 tiros acabaram com sua vida, mas não puderam calar sua voz, porque porque a partir desse momento ela se expandiu para além das fronteiras e uniu jornalistas.

Assim, os jornalistas de Juárez continuam lutando para obter justiça para o nosso amigo, para o nosso colega. Não podemos aceitar a indiferença ou o esquecimento.

*Rocío Gallegos é jornalista em Ciudad Juárez, co-fundadora da Rede de Jornalistas de Juárez e coordenadora da geração de informações de El Diario de Juárez em vários períodos. O último deles terminou alguns meses depois do homicídio de Armando Rodríguez Carreón.

Nota do editor: Essa história foi publicada originalmente no blog Jornalismo nas Américas do Centro Knight, o predecessor do LatAm Journalism Review.

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