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SembraMedia revela crescimento da mídia digital na América Latina, mas meios ainda enfrentam muitos desafios

As mulheres são líderes em mais de 60% dos sites de mídia digital na América Latina.

Esta foi uma das principais descobertas da SembraMedia, apresentada durante o 10º Colóquio Ibero-Americano de Jornalismo Digital. As diretoras Janine Warner e Mijal Iastrebner elaboraram sobre a situação de 100 mídias digitais da Argentina, Brasil, Colômbia e México.

Para a pesquisa, a SembraMedia realizou entrevistas, por um período de cinco meses, com representantes de mídias digitais sobre cinco áreas das operações: valor único, escopo, impacto, inovação, equipes e financiamento.

A organização, que se dedica a promover o desenvolvimento de mídias digitais na América Latina e na Espanha e a fornecer treinamento e apoio, encontrou mais de 600 sites de notícias ou jornalísticos na região que atendem aos critérios de inclusão no diretório nos últimos 18 meses.

Dos 100 portais considerados em sua pesquisa, a SembraMedia descobriu que 62 foram fundados por pelo menos uma mulher.

"É um grande indicador, que nos deixa felizes em ver que estamos a caminho de uma certa igualdade", disse Iastrebner. "Mas é o primeiro passo. Isso não significa que temos que relaxar e dormir neste louro".

A mídia digital independente na América Latina não só cresceu em quantidade, mas também em impacto gerado com o trabalho jornalístico. Dos projetos que compõem o diretório da SembraMedia, vários foram premiados com o Pulitzer ou o prêmio da Fundação Gabriel García Márquez por projetos que tiveram impacto tangível em suas comunidades.

"[A mídia pesquisada] está cobrindo muitas coisas, notícias, narcotráfico. Mas eles estão cobrindo populações carentes também. E assuntos que outras mídias tradicionalmente não têm coberto, como grupos indígenas, questões de gênero e a comunidade LGBTQ", disse Warner em sua apresentação durante o painel de encerramento do ISOJ. "Eles estão dando furos de histórias que outros meios não podem dar. E o que nós estamos descobrindo é que eles estão fazendo trabalho investigativo original e estão investindo muitos recursos nisso. Eles estão fazendo histórias que outros veículos não podem fazer, por controle do governo ou limitações e restrições. E, uma vez que as reportagens são publicadas, os meios tradicionais as replicam, e não somente em seus próprios países".

Apesar do sucesso crescente das iniciativas digitais e do trabalho jornalístico que elas desenvolvem, elas ainda têm desafios a superar em termos de sustentabilidade financeira e de luta contra a censura.

A SembraMedia informou que a renda média dos sites analisados é de US$ 200 mil por ano, enquanto 10 sites não relataram nenhuma renda. Além disso, vários deles não conseguiram diversificar suas fontes de renda.

A maioria dos recursos para os meios de comunicação digitais ainda vem de banners de publicidade, com 45%. O segundo lugar é da publicidade nativa ou conteúdo de marca, com 36%; publicidade com o Google Adsense, com 28%; e serviços de treinamento, com 27%.

"Não é suficiente para ser sustentável para sempre, mas eles estão começando a descobrir isso e eles estão começando a ser inteligentes sobre isso", disse Warner. "Treinamento de negócios é algo no qual estamos realmente focados, tentando ajudá-los a desenvolver esses modelos de negócios e a usar a nossa pesquisa para treiná-los."

A organização das redações é também um problema que afeta a produtividade dos meios digitais. Enquanto a maioria dos integrantes da mídia trabalha no lado do conteúdo e da tecnologia, apenas alguns são responsáveis pela parte financeira, gerenciamento de recursos e obtenção de fontes de receita.

Warner acrescentou que a SembraMedia está procurando maneiras de desenvolver recursos compartilhados e negociar melhores negócios para que a mídia digital possa economizar dinheiro e usar sua renda com mais eficiência.

A retirada de publicidade das instituições governamentais e as auditorias ou ações judiciais fiscais são algumas das formas pelas quais a mídia digital latino-americana está sendo atacada. Além disso, 46% dos sites analisados sofreram ameaças ou violência devido ao seu trabalho jornalístico e 50% relataram ataques cibernéticos.

"Eles são perseguidos pelo governo e, em alguns casos, pelo tráfico de drogas", disse Iastrebner. "Eles estão constantemente sob ataque e não é apenas um ataque físico, mas também cibernético, fiscal, e até mesmo por meio de campanhas de difamação."

A colaboração, segundo representantes da SembraMedia, é a chave para aproveitar o fortalecimento que a mídia digital na América Latina está experimentando. E nesse processo, a mídia tradicional pode servir como aliada em uma relação de trabalho de benefício mútuo.

Enquanto a mídia tradicional pode contribuir com o alcance da audiência e estratégias de segurança e crescimento, a mídia digital pode oferecer trabalho jornalístico e pesquisa.

"O ecossistema de start-ups de jornalismo independente na América Latina está totalmente em sintonia com o que está acontecendo na mídia tradicional", disse Iastrebner. "Se trabalharmos juntos, se nós colaborarmos, podemos aproveitar o melhor desse ecossistema, que se fortaleceu nos últimos anos... e nós podemos aprender juntos a encontrar o futuro do jornalismo em nossas sociedades polarizadas".

Nota do editor: Essa história foi publicada originalmente no blog de jornalismo nas Américas do Centro Knight, o predecessor do LatAm Journalism Review.

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