texas-moody

Venezuela expulsa CNN em Espanhol três dias depois de o presidente Maduro dizer que queria o veículo fora do país

  • Por
  • 15 fevereiro, 2017

Por Paola NalvarteTeresa Mioli e Silvia Higuera

Esta história foi atualizada para incluir os planos do governo venezuelano de bloquear a CNN na internet

A Comissão Nacional de Telecomunicações (Conatel) da Venezuela ordenou “a suspensão e saída imediata das transmissões” da CNN em Espanhol do país. Além disso, Andrés Eloy Méndez González, diretor-geral da entidade, disse em 16 de fevereiro que a CNN também será bloqueada na internet.

A Conatel, que afirmou ter iniciado os processos administrativos de sanção e medidas cautelares contra a rede de notícias, anunciou esta “medida preventiva” em um comunicado de Méndez neste 15 de fevereiro.

Isso ocorre três dias depois de o presidente Nicolás Maduro ter declarado durante uma manifestação que ele queria a CNN em Espanhol fora do país e horas depois da ministra das relações exteriores da Venezuela Delcy Rodríguez ter dito que o veículo estava realizando “uma operação imperial de mídia” contra a Venezuela com a cobertura sobre o suposto tráfico de passaportes.

Conatel disse que o procedimento de sanção se deve ao fato da CNN em Espanhol ter disseminado conteúdo “de forma sistemática e reiterada no desenvolvimento da sua programação diária, da qual se depreende de forma clara e perceptível conteúdos que supostamente constituem agressões diretas que atentam contra a paz e a estabilidade democrática do nosso povo venezuelano, já que os mesmos geram um clima de intolerância.” A entidade disse que a organização distorcia a verdade, incitava a agressão contra a Venezuela e, portanto, violava garantias constitucionais.

No final da declaração, a Conatel instou os meios de comunicação e jornalistas a oferecer "informação verídica e oportuna, de acordo com os valores próprios da sociedade Venezuelana.”

El Pitazo relatou que o sinal da CNN em Espanhol começou a desaparecer entre os canais privados por volta das 17h.

Em resposta ao bloqueio, a CNN em Espanhol disse que “continuará cumprindo o seu compromisso com o público da Venezuela, oferecendo o nosso sinal de televisão gratuitamente no YouTube e links para as nossas notícias em CNNEspanol.com, para que assim tenha acesso a informação que não está disponível de nenhuma outra forma”.

No entanto, no dia seguinte, o diretor-geral Méndez disse no canal de TV pública VTV que a direção estava coordenando os trabalhos com servidores de internet para bloquear a CNN em espanhol na rede.

Contexto

Em 12 de fevereiro, Maduro disse no canal de TV estatal da Venezuela (VTV), “não se metam no assuntos dos venezuelanos. Eu quero a CNN bem longe daqui. Fora CNN da Venezuela”, publicou o portal Clases de Periodismo.

Maduro disse que a rede de TV dos Estados Unidos não mostrava "a Venezuela real" e que distorce as notícias sobre o país, de acordo com o site.

Maduro se referia a uma reportagem que a CNN fez sobre a reclamação de uma estudante venezuelana, que denunciou a falta de materiais que afetava a sua escola, segundo publicou El Nuevo Herald.

Outra reportagem que Maduro afirmou ter sido manipulada pela CNN abordava o suposto tráfico de passaportes venezuelanos no Oriente Médio, segundo Clases de Periodismo.

De acordo com a CNN, estariam implicados nessa investigação funcionários da embaixada da Venezuela no Iraque e também o atual vice-presidente da Venezuela, Tarek El Aissami. A matéria também menciona um relatório confidencial que supostamente aponta a entrega de passaportes e identidades venezuelanos a pessoas no Oriente Médio ligadas a um grupo terrorista.

No relatório, a CNN explica que uma equipe foi para Caracas em junho de 2015 para fazer perguntas para as suas apurações. O relatório diz que o governo avisou a eles por carta que a sua cobertura estava restrita a “turismo, o fenômeno climático do ‘El Niño’, fontes alternativas de energia e as relações entre as distintas instituições governamentais na Venezuela.” O meio de comunicação disse que “um funcionário do governo alertou a equipe [da CNN em Espanhol] que se incomodassem novamente [Delcy] Rodríguez com qualquer pergunta sobre o assunto dos passaportes, isso seria motivo para serem expulsos do país”.

Em uma coletiva de imprensa de 15 de fevereiro, antes do anúncio de Conatel, a ministra das Relações Exteriores Delcy Rodríguez disse que pediu às autoridades que atuassem contra a CNN e “ressaltou que a investigação coincidiu com a apresentação do senador Marco Rubio diante do Congresso dos Estados Unidos, em que ele denunciou a venda de passaportes e vistos para pessoas vinculadas com o narcotráfico e grupos terroristas", segundo Efecto Cocuyo.

Em 13 de fevereiro, o Departamento do Tesouro dos Estados Unidos acusou El Aissami de estar diretamente envolvido com o tráfico de drogas e impôs sanções ao vice-presidente, relatou o The Washington Post. Em resposta, El Aissami disse que essa foi uma “agressão vil”. No mesmo dia, Rubio disse no senado dos Estados Unidos que “é revoltante que o vice-presidente de um país em nosso hemisfério não apenas é um narcotraficante como também está no ramo de vender passaportes e documentos de viagem a pessoas com vínculos com o terrorismo”.

Em resposta a Rodríguez, a CNN disse que quer deixar claro que as sanções impostas pelos Estados Unidos por tráfico de drogas e a queixa pela sua apuração sobre irregularidades em documentos venezuelanos são duas questões diferentes. O meio de comunicação defendeu a sua apuração e disse que demorou mais de um ano  investigando o tema, segundo o Efecto Cocuyo.

A CNN Internacional ainda está no ar na Venezuela, de acordo com a emissora.

Nota do editor: Essa história foi publicada originalmente no blog de jornalismo nas Américas do Centro Knight, o predecessor do LatAm Journalism Review.

Artigos Recentes