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Vídeo mostra líder do tráfico de drogas no México pagando jornalistas por assessoria de comunicação

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  • 2 outubro, 2014

Por Carola Guerrero De León

Um vídeo divulgado anonimamente mostra dois jornalistas mexicanos no estado de Michoacán recebendo dinheiro de membros de um dos mais procurados cartéis de drogas do país, liderado pelo Servando “La Tuta” Gómez Martínez, em troca de assessoria de mídia.

A gravação mostra o correspondente da Televisa Eliseo Caballero e José Luis Díaz, dono da agência de notícias Esquema, discutindo estratégias de comunicação com o líder do cartel Cavaleiros Templários de Michoacán.

Os jornalistas ofereceram várias sugestões sobre como tirar proveito das redes sociais e usar banners, fotos e boletins de e-mail. No vídeo, Caballero é ouvido pedindo a Martínez novas câmeras enquanto Díaz pede um novo automóvel.

A jornalista mexicana Carmen Aristegui, a primeira a transmitir o vídeo em seu programa pela manhã, entrevistou depois os dois jornalistas. Caballero e Díaz afirmaram que foram levados por Martínez a força, mas suas histórias divergiram quando discutiram a quantidade de dinheiro que haviam recebido.

Em declarações dadas ao La Jornada, ambos negaram ter recebido dinheiro de Martínez, apesar das evidências apresentadas no vídeo.

O vídeo dos dois proeminentes jornalistas mexicanos conversando abertamente com um conhecido membro do cartel reabriu o debate sobre a relação entre o crime organizado e os meios de comunicação do país.

De acordo com Caballero, ele só havia se encontrado com Martínez em duas ocasiões, em 2013, quando o cartel Cavaleiros Templários tinha o controle territorial em Michoacán. Ele insistiu que resistir ou negar seus convites poderia ter sido fatal.

Citando a ligação que recebeu de membros do cartel em uma entrevista com Narco Noticias, ele disse:

"Você é Eliseo Caballero? Estamos te ligando em nome do professor [La Tuta]. Nós sabemos onde você mora, o seu local de trabalho, de quem você é próximo ... você sabe que você vai, não importa como, a essas reuniões. Se você não fizer isso, vamos até você."

O agora ex-correspondente da Televisa acrescentou que o vídeo que foi mostrado originalmente por Aristegui foi editado e não inclui os comentários ameaçadores que Martínez fez durante a reunião.

"Com toda a calma do mundo, ele nos falou sobre como ele teve problemas com um jornalista de Lázaro Cárdenas, e como ele tinha que matá-lo porque ele não fez o que ele queria fosse feito, mesmo sendo seu camarada [Miguel Ángel Villagómez Valle, proprietário da La Noticia] ", disse Caballero em uma entrevista.

Díaz também disse que o medo tinha levado às ações vistas no vídeo, citando um incidente de 2010 em que ele foi sequestrado e torturado por suas matérias sobre o tráfico de drogas.

Televisa, com quase 70% de audiência televisiva no México, negou qualquer envolvimento com a interação mostrada na gravação e encerrou o contrato de Caballero com a empresa assim que ela foi revelada.

De acordo com uma análise do Insight Crime, o vídeo demonstra a difícil realidade na qual jornalistas são corrompidos e convencidos a trabalhar para grupos criminosos. Além de dar dicas de comunicação, eles citam o fato de que os jornalistas também foram obrigados a dar aos grupos "cobertura favorável, ignorando certos eventos ou escrevendo sobre grupos rivais."

Vários veículos de notícias do México, classificado como um dos países mais perigosos para jornalistas, pararam completamente de publicar reportagens sobre o crime organizado, porque não podem mais garantir a segurança de seus jornalistas. Segundo o Comitê de Proteção aos Jornalistas, 30 jornalistas foram mortos desde 1992, 80% dos quais trabalhavam cobrindo crime.

Note from the editor: This story was originally published by the Knight Center’s blog Journalism in the Americas, the predecessor of LatAm Journalism Review.

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