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Com quase dez anos, site CRHoy faz investigações de impacto e conquista forte audiência na Costa Rica

Perto de completar uma década de existência, o meio nativo digital da Costa Rica CRHoy conquistou uma forte audiência, apostando em um equilíbrio entre notícias quentes e investigações de impacto, que garantiram prêmios e credibilidade ao veículo.

A jornalista e diretora do CRHoy, Silvia Ulloa, contou à LatAm Journalism Review (LJR) como o site nasceu, o que alcançou até agora e os próximos planos. O CRHoy começou a ser planejado em outubro de 2011, quando ela foi procurada por um banqueiro, Leonel Baruch. Ele queria investir em um meio de comunicação totalmente digital, algo que até então não existia no país, lembrou a jornalista.

O lançamento foi marcado para janeiro de 2012, e Ulloa começou a correr para montar uma equipe e entender como funcionava uma plataforma digital – antes do CRHoy, ela tinha trabalhado em meios impressos, televisão e rádio, mas não em sites.

"Ele estava preocupado com a concentração de poder em dois ou três meios de comunicação no país e considerava que, além de ser uma boa opção de negócio ter um veículo 100% digital e inovar nesse sentido, era preciso ter uma voz diferente das tradicionais no país", disse Ulloa.

Baruch é presidente do conselho de administração, mas, de acordo com Ulloa, não interfere nas decisões editoriais do cotidiano. "Há um comitê editorial do qual ele participa e é onde essas coisas são discutidas, mas ele não está envolvido no dia a dia do veículo", afirma ela.

entrevista

Jimena Soto em entrevista, com uniforme do CRHoy

Após o lançamento, uma das novidades implementadas pelo CRHoy foi o uso dos uniformes. "Os jornalistas aqui na Costa Rica não usavam uniforme, mas me ocorreu de colocar a marca nos uniformes dos jornalistas. Então, demos a todos as mesmas camisetas, com o logotipo, e colocamos adesivos enormes nos carros", recorda.

Ulloa, que tem um mestrado em administração de empresas, pensou desde o início sobre como promover a marca do novo veículo e, segundo ela, o uniforme teve um papel importante em tornar o CRHoy conhecido.

"Ajudou a nos tornar visíveis. Os nossos jornalistas saíam para a rua com a missão de que, por exemplo, se vissem um colega com uma câmera de televisão, tentassem ficar dentro da tomada que o cinegrafista estava fazendo, ou que colocassem o microfone em um local estratégico onde ele poderia ser visto nos vídeos e nas fotos, para que as pessoas se questionassem o que é aquilo", contou Ulloa.

A ideia era fazer a marca circular, estimular a curiosidade e tentar atrair o público a buscar informações sobre CRHoy e conhecer o site. "E começamos a fazer barulho, participávamos de todas as coletivas de imprensa, de todos os eventos, e aos poucos começamos a gerar uma massa crítica de leitores, que foi potencializada através das redes sociais", disse.

A estratégia deu bom resultado, afirma Ulloa, e hoje CRHoy tem uma audiência de 3,29 milhões de usuários únicos mensais, em um país de cerca de cinco milhões de habitantes.

Eles têm 1,3 milhão de seguidores no Facebook e 460 mil no Twitter.

A jornalista explica que, na Costa Rica, não há um instituto ou entidade que reúna dados de audiência dos meios de comunicação e que muitos não divulgam seus números, o que dificulta as comparações.

"A única plataforma pública onde podemos entender como estamos é por meio da Alexa [assistente virtual da Amazon]. [...] Se alguém fizer um ranking de sites de notícias no Alexa, por exemplo, CRHoy é o site de notícias mais visto na Costa Rica", afirma Ulloa.

Atualmente, CRHoy tem um público majoritariamente feminino (53%) e concentrado nas faixas etárias mais jovens – 45% dos leitores têm entre 25 e 44 anos. Ao mesmo tempo, cerca de 80% deles acessam o site pelo celular.

Segundo Ulloa, o perfil do público e o consumo pelo celular estão relacionados com mudanças que CRHoy implementou e que eram novas no jornalismo na Costa Rica. Ela conta que o veículo foi um dos primeiros meios a adaptar seu conteúdo e modelo de negócios ao universo digital.

Na época em que lançaram CRHoy, afirma ela, os meios tradicionais tinham sites apenas para republicar conteúdo que já tinha saído no impresso, na rádio ou na televisão. Ou seja, o site era considerado algo secundário, e a publicidade online era distribuída como bônus para as empresas que anunciavam no meio principal. Ulloa lembra que seus colegas jornalistas diziam que o CRHoy não ia sobreviver, porque os sites não davam dinheiro.

"Tivemos que começar por educar o mercado, por assim dizer, de que as páginas web tinham um valor, que custavam dinheiro e que os anúncios não podiam ser dados de graça", afirma.

Até hoje, a única receita do CRHoy vem da publicidade, porque todo o conteúdo é gratuito e aberto para os leitores. E o modelo garantiu a sustentabilidade do veículo por todos esses anos. A exceção, pontua Ulloa, tem sido a crise do coronavírus.

"A verba publicitária, com a pandemia, caiu um pouco, acho que é um fenômeno mundial. E o dono do veículo então investiu para manter o funcionamento normal [da redação], mas, sim, a pandemia nos afetou muito", disse.

Outro impacto da crise sanitária foi que os 38 funcionários passaram a se revezar em turnos na sede do CRHoy, na capital San José: metade da equipe trabalha de casa por 15 dias, enquanto a outra trabalha na redação.

Além de introduzir novidades no mercado publicitário, CRHoy também ajudou a mudar a forma como se fazia jornalismo no país, acredita a editora do site, Jimena Soto. A jornalista foi uma das primeiras a integrar a equipe do CRHoy, em novembro de 2011, antes mesmo do lançamento. No veículo, passou cinco anos como repórter de política, até ser promovida a editora.

pessoas no computador

Jimena Soto. Foto: Arquivo Pessoal

Para ela, o CRHoy trouxe mais agilidade ao jornalismo local. "O lema do CRHoy era 'o que acontece quando acontece', então nosso objetivo era, de várias maneiras, o imediatismo, publicar primeiro. Que as pessoas fossem informadas primeiro pelo CRHoy, que não precisassem esperar o noticiário do meio-dia, a edição de rádio do meio-dia ou o jornal do dia seguinte, que as pessoas foram informadas naquele momento. [...] Aí as outros veículos começaram a ver que isso era um fator determinante do nosso trabalho e passaram, por assim dizer, a copiar", afirmou Soto à LJR.

A jornalista conta que, em uma coletiva de imprensa, era comum os meios tradicionais guardarem a notícia para publicar na televisão, rádio ou no impresso, enquanto CRHoy fazia uma cobertura praticamente simultânea. E, ao ver o sucesso de audiência do novo site, os concorrentes passaram a seguir o mesmo caminho.

Soto acredita que, além do imediatismo, a variedade da cobertura jornalística do CRHoy é um dos fatores responsáveis pela sua boa audiência. "Temos tentado atingir todos os públicos, publicamos conteúdo sobre economia, política, entretenimento, esportes, tecnologia, tentamos garantir que todos os interesses sejam cobertos", explica ela.

Ainda que as notícias quentes sejam parte da identidade do CRHoy, Ulloa ressalta que o veículo busca alternar esse tipo de conteúdo com reportagens investigativas, mais aprofundadas. "Procuramos ter um equilíbrio, pois o público é muito variado", diz.

E algumas dessas reportagens investigativas foram responsáveis por trazer credibilidade e reconhecimento para o meio de comunicação. Uma delas ficou conhecida como o caso da UPAD, a Unidade Presidencial de Análise de Dados.

"No ano passado denunciamos a criação de uma unidade de dados presidencial que buscava ter acesso a dados privados de cidadãos e que gerou a primeira operação de busca e apreensão que se fez à Casa Presidencial na história da Costa Rica. E uma investigação criminal contra o presidente da República", afirma Ulloa.

Alguns anos antes, o CRHoy recebeu o Prêmio Nacional de Jornalismo Pío Víquez 2017, por uma investigação que ficou conhecida como "El Cementazo", que denunciou irregularidades na importação de cimento da China.

"A investigação resultou na renúncia do presidente do poder Judiciário, na destituição de um magistrado, na renúncia do então procurador-geral da República e em uma investigação criminal que ainda está em andamento", afirmou Ulloa.

Mesmo sendo um veículo jovem, a diretora diz que o CRHoy conseguiu pautar o debate público e alcançar mudanças importantes nas decisões de autoridades.

"Percebemos que muitas vezes estabelecemos a agenda noticiosa do país, porque os assuntos que publicamos depois são replicados pelos outros meios, eles vão atrás, e isso para nós é muito satisfatório", comemora.

A linha editorial do CRHoy é descrita por Ulloa e Soto como combativa em relação às autoridades públicas. "É uma linha independente e inclusiva que visa apoiar as pequenas e médias empresas e fortalecer as empresas privadas, e acima de tudo é uma linha editorial combativa, que, por exemplo, se você sente que há algo que deve ser denunciado, [ ...] isso vai ser denunciado. Não importa se o Presidente da República ligar para reclamar com o dono, o dono fala pra ele: 'Não tenho nada a ver com isso, fala com a Silvia'", diz Ulloa.

"CRHoy sempre busca exigir respostas e eficiência das autoridades públicas", acrescenta Soto.

Como próximos passos, depois de completar dez anos, Ulloa planeja investir mais em inovação, infografia e produtos audiovisuais, assim que a crise do coronavírus melhorar e a economia se recuperar.

"O cenário da pandemia muda tudo, mas eu gostaria da possibilidade de crescer no próximo ano em termos da folha de pagamento jornalística e de equipe audiovisual, para expandir a oferta de produtos e a oferta de reportagens de qualidade".

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